Eu estava em Candeias, minha terra querida e resolvo dar uma volta. Desço a rua de minha casa, a Vereador José Hilário da Silva, e tomo a Avenida Pedro Vieira de Azevedo; sigo rumo a Vila Vicentina. É lá que faço uma parada de vez em quando para recordar quando por lá participei como Irmão de São Vicente; ver se ainda encontro algum amigo e, enfim, conviver um pouco com aquela gente cujo futuro já é bem conhecido. Eu na minha adolescência e como irmão de São Vicente, fui colocado na irmandade pelo meu avô João Delminda, participei muito da assistência daquele local então triste. Não havia ali nada do que existe hoje. Sequer um banheiro digno. Era aquele local o cumulo da pobreza. Trabalhadores que trabalharam a vida toda no fim era jogado ali, sem uma recompensa, dos antigos patrões, sem direito algum a um fim de vida com dignidade. Lembro-me de ajudar o Sr. Alvim Ferreira, quando presidente da instituição até mesmo a lavar os mortos. Hoje a nossa Vila dá gosto ver. E eu posso dizer claramente numa frase clássica: “VILA VICENTINA DE CANDEIAS, QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ?”
Nessa caminhada nas imediações
da casa do amigo Zé Duarte, defronto-me com um cidadão gordo, assim como eu. De
cabeça branca, assim como eu. Contando mais de meio século de vida, assim como
eu... E outros adjetivos mais carregados na nossa cangalha de tempo...
Eu não o reconheci e nem ele
me reconheceu... Melhor: nós não nos reconhecemos por culpa do tempo que mudou
a pele de nosso rosto... Trocou as nossas cadeiras por ancas... Pintou a nossa
cabeleira de branco, enfim esse tempo que prefere transformar a gente em
monstros e outras coisas mais. E isso fizera com que passamos um pelo outro sem
nos perceber que ali se cruzavam duas pessoas que outrora se encontravam
regularmente numa sala de aula. Ele era o meu professor e eu o seu aluno.
Ao cruzarmos, pensei cá
comigo: eu o conheço, mas não sei quem... E ao vê-lo entrar na sua residência,
confirmei: uai!!? Aquele é o Zé Duarte! Sim, porque Zé Duarte foi meu professor
de latim quando estudei no Ginásio de Candeias, no principio da década de 60.
Pessoa muito distinta, e grande conhecedor do Latim, pois teria sido
seminarista no tempo que os padres tinham o Latim na ponta da língua. Além de professor,
era também bancário, do então Banco de Crédito Real de Minas Gerais S.A. cuja
Agência ficava estabelecida onde se encontra, hoje a Prefeitura.
Ao identifica-lo pensei! Puxa
que pena! Zé Duarte eu gostaria tanto de conversar com ele sobre o tempo em que
foi meu professor no ginásio, afinal nunca teríamos trocado uma palavra, na
escola. Eu não gostava da matéria dele. Sei que não era só eu, mas acredito que
eu terei sido um dos seus piores alunos. Na sabatina da semana, Zé Duarte dava
a nota de todos os seus alunos. Eu ria e achava graça quando ele dizia alto e
em bom som: “Armando Melo de Castro ZERO”. Quando o Zé Duarte entrava na Sala
eu tinha vontade de sair.
Nada mais, no meu tempo de
ginásio, deixava-me tão contrariado do que assistir àquelas benditas aulas de
latim, ministradas pelo Zé Duarte. Aquele sotaque do latim fermentava o meu
cérebro. Talvez pelo fato de estar acostumado com o lero-lero do padre nas
missas em latim. Essas me faziam totalmente alheio àquela coisa. E depois, não
me passava, nem por perto, vir a ser padre. Eu era um adolescente bobo e o que
eu mais queria era perder a vergonha, cair na gandaia, beijar uma menina, sei
lá mais o quê? Ser padre? Conviver com essa coisa chamada celibato? Nem morto.
------ Não poder me casar, não poder saborear o sabor de uma mulher???? Isso
não passava pela minha cabeça, de jeito nenhum. E depois já diziam que o Latim
era uma língua complicada e que agonizava nos currículos escolares. Lembro-me
de que aprendi a fazer o sinal da cruz em Latim. Contudo já me esqueci.
Havia uma sabatina semanal
cujas notas eram transmitidas aos alunos em voz alta e em bom som... O Ginásio,
então, era no Grupo Escolar Padre Américo, Portanto, quem passou pela rua, num
desses momentos, com certeza, terá ouvido o Zé Duarte encher o peito e dizer:
Armando Melo de Castro: Zerooooooooooo.
Eu preferia muito mais as
aulas de Francês dadas pelo professor Candinho Barreto, dentista, quando ele
abria a boca até atrás para traduzir a palavra pescoço, que era cou, mas parece
que o Candinho tirava o O do cou e dava uma ênfase no U que a turma caia na
risada, parecia que ele estava traduzinho o pescoço da girafa, com o anus do
elefante.
Bons tempos!
Armando Melo de Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário