Total de visualizações de página

sexta-feira, 21 de abril de 2023

SÁBADO DA ALELUIA EM CANDEIAS.


Será que alguém se lembra do Sábado de Aleluia em Candeias no passado? Como era divertido! Hoje eu estive recordando isso. O Interessante é que era um contraste muito grande porque a Sexta-Feira Santa, era aquele respeito, aquele silêncio, e quando chegava o sábado era aquela bagunça do povo nas ruas, e a cidade ainda cheia dos visitantes que vinham passar a semana santa com a família; e a presença dos roceiros. Nesse tempo a zona rural era muito mais habitada do que nos dias de hoje. Os visitantes permaneciam, para o domingo da ressureição. Pessoas bêbadas nos bares, baile no Clube Recreativo Candeense e nos dois forrós que existiam na cidade.

Nesse tempo Candeias tinha dois forrós: O forró do Chiquinho Ferreira, quando o sanfoneiro era o Amaleneo, namorado da filha dele, depois se casaram. Esse não tinha lugar certo, às vezes era na máquina de limpar café do Emídio Alves, ou então num galpão da serraria do Quinho. O mais animado era o forró do “Bastião Picidonha”, no galpão da sua antiga fábrica de farinha de milho, que ficava ali na esquina da Rua Celestino Bonaccorsi com a Rua Padre Dionísio. – O forró era animado pela sanfona da filha do Sebastião a Toninha, muito boa sanfoneira. Esse forró era muito animado; tão animado que certa vez um dos frequentadores, chamado Mariano, enfiou uma faca na barriga de um tal José e a coisa teve preta. Depois desse fato, quando falava no forró do “Bastião Picidonha” o ouvinte ficava um pouco apreensivo e o juiz da sua consciência fazia o julgamento em silêncio.

Mas o melhor do sábado de aleluia, era a queima do Judas. Isso acontecia normalmente na área de frente ao Cine Circulo Operário São José. Candeias não tinha ainda calçamento e nem as praças. O povo se concentrava naquele local. Nesse tempo a Avenida 17 de dezembro era mais conhecida como “Largo” --- O movimento por ali antes da sessão do cinema era grande, muita gente vendendo quitandas, pipocas e broas de amendoim. O cinema nos fins de semana dava duas sessões.

O boneco do judas ficava já colocado o dia todo para a apreciação do povo. O local era bem onde hoje está o coreto. Era olhado com raiva das pessoas principalmente as crianças quando ficavam sabendo que aquele boneco, era a imagem do homem que traiu Jesus Cristo e o levou a ser crucificado.

A queima do Judas era e se não me engano ainda é até hoje uma tradição em diversas comunidades católicas. Trata-se de uma cultura introduzida na América latina pelos portugueses e espanhóis. Uma acontecimento bastante conhecido em outros países reservado para o sábado de Aleluia representando a morte de Judas, aquele que traiu Jesus entregando o Mestre as autoridades, quando foi preso e crucificado.

A queima do Judas não condiz com a realidade do seu fim. Judas Iscariotes era um dos discípulos de Jesus Cristo, e era o discípulo mais culto, e liderava entre os demais discípulos. Ele traiu Jesus pelo pagamento de 30 moedas de prata, mostrando-o através de um beijo na testa, quando Jesus em meio a multidão e sendo procurado pelos soldados. Jesus foi entregue as autoridades, tendo sido coroado com uma coroa de espinhos, espancado e crucificado. Diante do que fizera, Judas se arrependeu e se enforcou.

O boneco que representava o Judas a ser queimado, tinha o porte de um homem adulto. E era carregado de bombas e outros fogos. O início da queima era pura explosão até o boneco se desfazer de vez. --- Esse judas era confeccionado na fábrica do foguetes do Sr. Belmiro Costa. A fábrica do Belmiro ficava na Rua do Cemitério São Francisco. E lá trabalhava muitos meninos. Eu mesmo cheguei a trabalhar lá por um pouco tempo. O mentor para criar o boneco do Judas era o nosso amigo Sebastião Quirino, muito criativo e inteligente. E ele era um dos funcionários do Belmiro Costa. É uma pensa não ter uma fotografia, ou algo que tivesse registrado um evento desses. Infelizmente, a história de Candeias em termos de registro, nunca foi uma preocupação dos políticos candeenses. Parece que ninguém ousava pensar no interesse das novas gerações.

Eu tenho muitas lembranças da minha querida Candeias. Fecho os olhos e me transporto para ver a queima do traidor --- Sou menino e estou próximo do Sansão junto de meu pai. Mantemo-nos a uma certa distância. Vejo o Sebastião Quirino o criador do boneco, sacudindo a sua cabeça como se estivesse dizendo, o meu boneco ficou muito bom! ---- Tem gente demais para assistir à queima daquele que traiu Jesus. Muitos devotos de Jesus se deleitam com as bombas que explodem sob o boneco Judas. Parece até que estão queimando o verdadeiro Judas. De volta para casa vou ouvindo atentamentE toda a história do Judas contada por meu pai.

Viva a história.

Armando Melo de Castro

Nenhum comentário: