Será que alguém se lembra do
Sábado de Aleluia em Candeias no passado? Como era divertido! Hoje eu estive
recordando isso. O Interessante é que era um contraste muito grande porque a
Sexta-Feira Santa, era aquele respeito, aquele silêncio, e quando chegava o
sábado era aquela bagunça do povo nas ruas, e a cidade ainda cheia dos
visitantes que vinham passar a semana santa com a família; e a presença dos
roceiros. Nesse tempo a zona rural era muito mais habitada do que nos dias de
hoje. Os visitantes permaneciam, para o domingo da ressureição. Pessoas bêbadas
nos bares, baile no Clube Recreativo Candeense e nos dois forrós que existiam
na cidade.
Nesse tempo Candeias tinha
dois forrós: O forró do Chiquinho Ferreira, quando o sanfoneiro era o Amaleneo,
namorado da filha dele, depois se casaram. Esse não tinha lugar certo, às vezes
era na máquina de limpar café do Emídio Alves, ou então num galpão da serraria
do Quinho. O mais animado era o forró do “Bastião Picidonha”, no galpão da sua
antiga fábrica de farinha de milho, que ficava ali na esquina da Rua Celestino
Bonaccorsi com a Rua Padre Dionísio. – O forró era animado pela sanfona da
filha do Sebastião a Toninha, muito boa sanfoneira. Esse forró era muito
animado; tão animado que certa vez um dos frequentadores, chamado Mariano,
enfiou uma faca na barriga de um tal José e a coisa teve preta. Depois desse
fato, quando falava no forró do “Bastião Picidonha” o ouvinte ficava um pouco
apreensivo e o juiz da sua consciência fazia o julgamento em silêncio.
Mas o melhor do sábado de
aleluia, era a queima do Judas. Isso acontecia normalmente na área de frente ao
Cine Circulo Operário São José. Candeias não tinha ainda calçamento e nem as
praças. O povo se concentrava naquele local. Nesse tempo a Avenida 17 de
dezembro era mais conhecida como “Largo” --- O movimento por ali antes da
sessão do cinema era grande, muita gente vendendo quitandas, pipocas e broas de
amendoim. O cinema nos fins de semana dava duas sessões.
O boneco do judas ficava já
colocado o dia todo para a apreciação do povo. O local era bem onde hoje está o
coreto. Era olhado com raiva das pessoas principalmente as crianças quando
ficavam sabendo que aquele boneco, era a imagem do homem que traiu Jesus Cristo
e o levou a ser crucificado.
A queima do Judas era e se não
me engano ainda é até hoje uma tradição em diversas comunidades católicas.
Trata-se de uma cultura introduzida na América latina pelos portugueses e
espanhóis. Uma acontecimento bastante conhecido em outros países reservado para
o sábado de Aleluia representando a morte de Judas, aquele que traiu Jesus
entregando o Mestre as autoridades, quando foi preso e crucificado.
A queima do Judas não condiz
com a realidade do seu fim. Judas Iscariotes era um dos discípulos de Jesus
Cristo, e era o discípulo mais culto, e liderava entre os demais discípulos.
Ele traiu Jesus pelo pagamento de 30 moedas de prata, mostrando-o através de um
beijo na testa, quando Jesus em meio a multidão e sendo procurado pelos
soldados. Jesus foi entregue as autoridades, tendo sido coroado com uma coroa
de espinhos, espancado e crucificado. Diante do que fizera, Judas se arrependeu
e se enforcou.
O boneco que representava o
Judas a ser queimado, tinha o porte de um homem adulto. E era carregado de
bombas e outros fogos. O início da queima era pura explosão até o boneco se
desfazer de vez. --- Esse judas era confeccionado na fábrica do foguetes do Sr.
Belmiro Costa. A fábrica do Belmiro ficava na Rua do Cemitério São Francisco. E
lá trabalhava muitos meninos. Eu mesmo cheguei a trabalhar lá por um pouco
tempo. O mentor para criar o boneco do Judas era o nosso amigo Sebastião
Quirino, muito criativo e inteligente. E ele era um dos funcionários do Belmiro
Costa. É uma pensa não ter uma fotografia, ou algo que tivesse registrado um
evento desses. Infelizmente, a história de Candeias em termos de registro,
nunca foi uma preocupação dos políticos candeenses. Parece que ninguém ousava
pensar no interesse das novas gerações.
Eu tenho muitas lembranças da
minha querida Candeias. Fecho os olhos e me transporto para ver a queima do
traidor --- Sou menino e estou próximo do Sansão junto de meu pai. Mantemo-nos
a uma certa distância. Vejo o Sebastião Quirino o criador do boneco, sacudindo
a sua cabeça como se estivesse dizendo, o meu boneco ficou muito bom! ---- Tem
gente demais para assistir à queima daquele que traiu Jesus. Muitos devotos de
Jesus se deleitam com as bombas que explodem sob o boneco Judas. Parece até que
estão queimando o verdadeiro Judas. De volta para casa vou ouvindo atentamentE
toda a história do Judas contada por meu pai.
Viva a história.
Armando Melo de Castro
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