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quarta-feira, 26 de abril de 2023

A CARTEIRA PERDIDA.

Semana passada eu contei aqui  o caso de uma carteira que foi encontrada debaixo da poltrona de uma jardineira quando eu fui cobrador dessa. Hoje será um caso diferente, quando muitos anos depois, eu perdi uma carteira em pleno ultimo dia do ano.

No último dia do ano de 2012, eu residia na cidade de Lagoa da Prata, eu me preparava para ir ao Banco Itaú sacar algum dinheiro para me abastecer na noite de 31 de dezembro junto de minha família, no sentido de buscar receber uma suposta influência misteriosa que emanaria dos astros e das coisas que tentam explicar aos nossos corações um tipo de energia, às vezes, inexplicáveis nessas datas de mudanças.

 Ao passar em frente à casa lotérica, consultei a carteira e vi que ainda tinha uma quantia em dinheiro para participar do sorteio da Mega Sena da virada, sobrando-me poucos reais disponíveis. Com o advento do cartão de crédito/débito tornou-se desnecessário portar grandes importâncias em dinheiro na carteira. Por ali, me encontrei com alguns amigos, sentei-me num banco da praça, entrei e sai do carro e ao chegar à referida agência bancária, dei pela falta de minha carteira contendo documentos, cartão de crédito e alguns reais.

E como a situação requer uma ocorrência policial, fui questionado onde eu teria perdido o objeto, o que seria muito fácil se eu soubesse. Tomei as providências junto ao Banco, no sentido de sustar quaisquer pagamentos indevidos e providenciei uma nova via de documentos.

Quem já perdeu algum dia, uma bolsa de documentos, naturalmente, saberá o que senti diante do ocorrido.

Um ano após o ocorrido, já em 2013, esta carteira chega as minhas mãos, através do Banco, enviada por um anônimo sem os poucos reais e com um bilhete:

“Toma a sua carteira seu filho da puta. Vê se da próxima vez que perdê-la perca com algum dinheiro seu pobretão duma figa.”

A vida é uma escola que, por muitas vezes, nos ensina lições dolorosas.

Armando Melo de Castro

 

 

sexta-feira, 21 de abril de 2023

WILLIAN VIGLIONI 99 ANOS DE BONS EXEMPLOS.


 No último dia 15, sábado passado, eu me encontrava na cidade de Montes Claros, portanto, bem distante da nossa querida Candeias. Mas confesso que foi um dia pelo qual eu gostaria muito de estar presente na paróquia onde fui batizado, para abraçar o meu amigo, o meu grande amigo Willian Viglioni, que para a sua alegria, alegria de toda sua imensa família e de seus inúmeros amigos, completava os seus 99 anos de vida exemplar. Um cidadão íntegro, praticante da lei da justiça, amoroso e caridoso. Um homem que sabe passar pelos buracos da vida sem cair neles. Um amigo que sempre tem uma palavra para os amigos. Um homem crente em Deus e respeitado por todos.

 Eu gostaria muito de estar presente nesse dia 15 de abril de 2023 para abraça-lo meu caro Willian Viglioni, mas como as circunstâncias não permitiram, guardarei o meu abraço presencial para qualquer um outro momento que com certeza há de nos vir. Daqui, envio-lhe os mais fervorosos votos de muita saúde , muita esperança e muita certeza para a comemoração do seu centenário,

Grande abraço meu bom amigo.

 Armando Melo de Castro.

 Veja também: https://candeiasmg.blogspot.com/.../william-viglioni-e...

 

 

 

SÁBADO DA ALELUIA EM CANDEIAS.


Será que alguém se lembra do Sábado de Aleluia em Candeias no passado? Como era divertido! Hoje eu estive recordando isso. O Interessante é que era um contraste muito grande porque a Sexta-Feira Santa, era aquele respeito, aquele silêncio, e quando chegava o sábado era aquela bagunça do povo nas ruas, e a cidade ainda cheia dos visitantes que vinham passar a semana santa com a família; e a presença dos roceiros. Nesse tempo a zona rural era muito mais habitada do que nos dias de hoje. Os visitantes permaneciam, para o domingo da ressureição. Pessoas bêbadas nos bares, baile no Clube Recreativo Candeense e nos dois forrós que existiam na cidade.

Nesse tempo Candeias tinha dois forrós: O forró do Chiquinho Ferreira, quando o sanfoneiro era o Amaleneo, namorado da filha dele, depois se casaram. Esse não tinha lugar certo, às vezes era na máquina de limpar café do Emídio Alves, ou então num galpão da serraria do Quinho. O mais animado era o forró do “Bastião Picidonha”, no galpão da sua antiga fábrica de farinha de milho, que ficava ali na esquina da Rua Celestino Bonaccorsi com a Rua Padre Dionísio. – O forró era animado pela sanfona da filha do Sebastião a Toninha, muito boa sanfoneira. Esse forró era muito animado; tão animado que certa vez um dos frequentadores, chamado Mariano, enfiou uma faca na barriga de um tal José e a coisa teve preta. Depois desse fato, quando falava no forró do “Bastião Picidonha” o ouvinte ficava um pouco apreensivo e o juiz da sua consciência fazia o julgamento em silêncio.

Mas o melhor do sábado de aleluia, era a queima do Judas. Isso acontecia normalmente na área de frente ao Cine Circulo Operário São José. Candeias não tinha ainda calçamento e nem as praças. O povo se concentrava naquele local. Nesse tempo a Avenida 17 de dezembro era mais conhecida como “Largo” --- O movimento por ali antes da sessão do cinema era grande, muita gente vendendo quitandas, pipocas e broas de amendoim. O cinema nos fins de semana dava duas sessões.

O boneco do judas ficava já colocado o dia todo para a apreciação do povo. O local era bem onde hoje está o coreto. Era olhado com raiva das pessoas principalmente as crianças quando ficavam sabendo que aquele boneco, era a imagem do homem que traiu Jesus Cristo e o levou a ser crucificado.

A queima do Judas era e se não me engano ainda é até hoje uma tradição em diversas comunidades católicas. Trata-se de uma cultura introduzida na América latina pelos portugueses e espanhóis. Uma acontecimento bastante conhecido em outros países reservado para o sábado de Aleluia representando a morte de Judas, aquele que traiu Jesus entregando o Mestre as autoridades, quando foi preso e crucificado.

A queima do Judas não condiz com a realidade do seu fim. Judas Iscariotes era um dos discípulos de Jesus Cristo, e era o discípulo mais culto, e liderava entre os demais discípulos. Ele traiu Jesus pelo pagamento de 30 moedas de prata, mostrando-o através de um beijo na testa, quando Jesus em meio a multidão e sendo procurado pelos soldados. Jesus foi entregue as autoridades, tendo sido coroado com uma coroa de espinhos, espancado e crucificado. Diante do que fizera, Judas se arrependeu e se enforcou.

O boneco que representava o Judas a ser queimado, tinha o porte de um homem adulto. E era carregado de bombas e outros fogos. O início da queima era pura explosão até o boneco se desfazer de vez. --- Esse judas era confeccionado na fábrica do foguetes do Sr. Belmiro Costa. A fábrica do Belmiro ficava na Rua do Cemitério São Francisco. E lá trabalhava muitos meninos. Eu mesmo cheguei a trabalhar lá por um pouco tempo. O mentor para criar o boneco do Judas era o nosso amigo Sebastião Quirino, muito criativo e inteligente. E ele era um dos funcionários do Belmiro Costa. É uma pensa não ter uma fotografia, ou algo que tivesse registrado um evento desses. Infelizmente, a história de Candeias em termos de registro, nunca foi uma preocupação dos políticos candeenses. Parece que ninguém ousava pensar no interesse das novas gerações.

Eu tenho muitas lembranças da minha querida Candeias. Fecho os olhos e me transporto para ver a queima do traidor --- Sou menino e estou próximo do Sansão junto de meu pai. Mantemo-nos a uma certa distância. Vejo o Sebastião Quirino o criador do boneco, sacudindo a sua cabeça como se estivesse dizendo, o meu boneco ficou muito bom! ---- Tem gente demais para assistir à queima daquele que traiu Jesus. Muitos devotos de Jesus se deleitam com as bombas que explodem sob o boneco Judas. Parece até que estão queimando o verdadeiro Judas. De volta para casa vou ouvindo atentamentE toda a história do Judas contada por meu pai.

Viva a história.

Armando Melo de Castro

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO EM CANDEIAS.


Eu vejo hoje o comportamento das pessoas numa sexta-feira da paixão, e fico pensando o quando era diferente no meu tempo de criança em Candeias. Era muito diferente! O comercio todo fechado, nem as farmácias tinham plantão no dia de hoje. --- Certa vez o Lelei da Maria do Juca, que tinha um bar com jogo de sinuca no sobrado, onde hoje se encontra um escritório de contabilidade, ele abriu o seu bar na sexta Feira da paixão, tomando certos cuidados. Ele amarrou os tacos sobre a mesa de sinuca, o que significava que naquele dia não haveria jogo; escreveu um aviso de que, também, não serviria bebidas alcoólicas. Mas como a sua mãe era quitandeira, as vitrines estavam cheias de biscoitos, bolos etc. Um pequeno fogareiro onde estaria coando café. --- Aliás, seria até uma contribuição com a festa, porque o seu bar ficava muito próximo da igreja Matriz e muita gente vinha das roças e não tinha como comprar ou tomar um café ou comer alguma coisa. --- Mas quem viu o Bar do Lelei aberto, naturalmente se lembrou de que era uma sexta-feira santa apenas para mostrar o seu egoísmo, a sua falsa fé, pois saíram excomungando o comerciante que a bem da verdade não estava faltando com o respeito.

Candeias nesse dia era um dia morto, não se ouvia o tocar dos sinos, apenas as matracas pelas ruas e o grito dos meninos vendendo velas com o bordão: “ Olha a vela, quem tem cobre compra ela quem não tem fica sem ela.” As velas mais solicitadas eram umas velas amarelas de pura cera, fabricadas pelo Sr. Nelo Gianasi, que tinha uma produção de mel de abelhas. --- Não se ouvia nenhum sinal de rádio ligado. Nesse tempo, quem tinha um rádio o deixava no ultimo furo do som, para a vizinhança escutar. Rádio era um produto de gente rica ou de boa renda. Era um dia muito triste sem nenhum sinal de alegria. As pessoas em grande parte jejuavam nesse dia. E para os que não jejuavam produtos com carne e ou os seus derivados, era como veneno. Os açougues durante a quaresma praticamente não funcionavam. --- Eu obedecia a todas essas regras ensinadas pelos meus pais e pela catequista Maria Brasileira, neta do Padre Américo Brasileiro.

Há muitos anos não passo uma sexta-feira santa em Candeias. Não sei se lá acompanhou as evoluções que houve nesse sentido. Mas por mais que tenha mudado, podemos notar que ainda existem pessoas que cumprem a tradição, não comem carne durante a quaresma e a sexta feira santa é o dia santo mais guardado do ano. Esse, portanto, é um costume exclusivamente dos católicos. Entendo que naquele tempo em Candeias havia apenas a Igreja Católica, e a Semana Santa é um evento católico que os evangélicos e outros segmentos religiosos não experimentam. Mas com a evolução dessas outras religiões a Semana Santa não tem mais o mesmo perfil do passado. Para os evangélicos que fazem referência a um grande número de brasileiros, e hoje estão espalhados por todos os cantos do Brasil, a Sexta Feira Santa é um dia como outro qualquer.

Essa questão de não comer carne na quaresma e na Sexta Feira Santa é uma cultura católica. Temos observado uma evolução em que estamos vendo o comercio de carne durante a quaresma, porque com o crescimento das outras igrejas, especialmente dos evangélicos, essa cultura passou a não ser tão fechada. Certa vez eu estive conversando com um pastor regional, de uma igreja evangélica e ele no seu comentário me disse que essa história de não comer carne em abstinência religiosa é um desencontro com a Bíblia, pois o próprio Jesus Cristo disse que o que entra pela boca não faz mal, o que faz mal é o que sai dela. Percebi, naquele momento, que realmente, religião não se discute.

Para muitos, inclusive católicos, a proibição de se comer carne na sexta-feira caiu em desuso. Contudo, para grande parte dos católicos continua valida e no seu vigor. Isso trata-se de uma prática secular e não vai ser descartada assim de um ano para o outro. Essa prática pode levar o cristão a alcançar a virtude definida pelo catecismo, que os católicos acompanham desde a infância.

Existem pastores cristãos que pregam em seus púlpitos referindo-se ao que disse o Santo Católico, São Tomás de Aquino, que o jejum estabelecido pela Igreja Católica foi para reprimir o exagero da carne, cujo objetivo são os prazeres sensíveis das relações sexuais, dando a entender de que os católicos trocaram uma noite de prazer sexual por um bife. --- Lamentavelmente essa teoria de alguns pastores, bate de frente com a filosofia de São Tomaz de Aquino. E ao ouvir tamanha aberração, devemos buscar o verdadeiro conhecimento de que São Tomas de Aquino fez sim referência ao sexo, mas incluía, também, os prazeres da mesa.

Finalizando entendo que não comer carne na Sexta Feira Santa, é um princípio que está arraigado no coração de muitos cristãos. A meu ver, isso é um gesto maravilhoso. uma das formas de manutenção da fé no nosso tão querido Salvador. É a certeza da ligação com o Espírito Santo. É poder falar com certeza que ama Jesus Cristo.

Armando Melo de Castro.

EU COMO ALUNO DE LATIM.


    Eu estava em Candeias, minha terra querida e resolvo dar uma volta. Desço a rua de minha casa, a Vereador José Hilário da Silva, e tomo a Avenida Pedro Vieira de Azevedo; sigo rumo a Vila Vicentina. É lá que faço uma parada de vez em quando para recordar quando por lá participei como Irmão de São Vicente; ver se ainda encontro algum amigo e, enfim, conviver um pouco com aquela gente cujo futuro já é bem conhecido. Eu na minha adolescência e como irmão de São Vicente, fui colocado na irmandade pelo meu avô João Delminda, participei muito da assistência daquele local então triste. Não havia ali nada do que existe hoje. Sequer um banheiro digno. Era aquele local o cumulo da pobreza. Trabalhadores que trabalharam a vida toda no fim era jogado ali, sem uma recompensa, dos antigos patrões, sem direito algum a um fim de vida com dignidade. Lembro-me de ajudar o Sr. Alvim Ferreira, quando presidente da instituição até mesmo a lavar os mortos. Hoje a nossa Vila dá gosto ver. E eu posso dizer claramente numa frase clássica: “VILA VICENTINA DE CANDEIAS, QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ?”

Nessa caminhada nas imediações da casa do amigo Zé Duarte, defronto-me com um cidadão gordo, assim como eu. De cabeça branca, assim como eu. Contando mais de meio século de vida, assim como eu... E outros adjetivos mais carregados na nossa cangalha de tempo...

Eu não o reconheci e nem ele me reconheceu... Melhor: nós não nos reconhecemos por culpa do tempo que mudou a pele de nosso rosto... Trocou as nossas cadeiras por ancas... Pintou a nossa cabeleira de branco, enfim esse tempo que prefere transformar a gente em monstros e outras coisas mais. E isso fizera com que passamos um pelo outro sem nos perceber que ali se cruzavam duas pessoas que outrora se encontravam regularmente numa sala de aula. Ele era o meu professor e eu o seu aluno.

Ao cruzarmos, pensei cá comigo: eu o conheço, mas não sei quem... E ao vê-lo entrar na sua residência, confirmei: uai!!? Aquele é o Zé Duarte! Sim, porque Zé Duarte foi meu professor de latim quando estudei no Ginásio de Candeias, no principio da década de 60. Pessoa muito distinta, e grande conhecedor do Latim, pois teria sido seminarista no tempo que os padres tinham o Latim na ponta da língua. Além de professor, era também bancário, do então Banco de Crédito Real de Minas Gerais S.A. cuja Agência ficava estabelecida onde se encontra, hoje a Prefeitura.

Ao identifica-lo pensei! Puxa que pena! Zé Duarte eu gostaria tanto de conversar com ele sobre o tempo em que foi meu professor no ginásio, afinal nunca teríamos trocado uma palavra, na escola. Eu não gostava da matéria dele. Sei que não era só eu, mas acredito que eu terei sido um dos seus piores alunos. Na sabatina da semana, Zé Duarte dava a nota de todos os seus alunos. Eu ria e achava graça quando ele dizia alto e em bom som: “Armando Melo de Castro ZERO”. Quando o Zé Duarte entrava na Sala eu tinha vontade de sair.

Nada mais, no meu tempo de ginásio, deixava-me tão contrariado do que assistir àquelas benditas aulas de latim, ministradas pelo Zé Duarte. Aquele sotaque do latim fermentava o meu cérebro. Talvez pelo fato de estar acostumado com o lero-lero do padre nas missas em latim. Essas me faziam totalmente alheio àquela coisa. E depois, não me passava, nem por perto, vir a ser padre. Eu era um adolescente bobo e o que eu mais queria era perder a vergonha, cair na gandaia, beijar uma menina, sei lá mais o quê? Ser padre? Conviver com essa coisa chamada celibato? Nem morto. ------ Não poder me casar, não poder saborear o sabor de uma mulher???? Isso não passava pela minha cabeça, de jeito nenhum. E depois já diziam que o Latim era uma língua complicada e que agonizava nos currículos escolares. Lembro-me de que aprendi a fazer o sinal da cruz em Latim. Contudo já me esqueci.

Havia uma sabatina semanal cujas notas eram transmitidas aos alunos em voz alta e em bom som... O Ginásio, então, era no Grupo Escolar Padre Américo, Portanto, quem passou pela rua, num desses momentos, com certeza, terá ouvido o Zé Duarte encher o peito e dizer: Armando Melo de Castro: Zerooooooooooo.

Eu preferia muito mais as aulas de Francês dadas pelo professor Candinho Barreto, dentista, quando ele abria a boca até atrás para traduzir a palavra pescoço, que era cou, mas parece que o Candinho tirava o O do cou e dava uma ênfase no U que a turma caia na risada, parecia que ele estava traduzinho o pescoço da girafa, com o anus do elefante.

Bons tempos!

Armando Melo de Castro.

 

 


REMINISCÊNCIAS CANDEENSES.


A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos. Esse dia é muito importante porque é a celebração da entrada de Jesus Cristo em Jerusalém, quando o povo o recebeu com ramos de palmeira aclamando-o como o Messias. Nessa semana é quando os católicos comemoram os mistérios da salvação recordando a ultima semana de vida de Jesus Cristo, crucificado na Sexta-Feira e morte, finalizando no Domingo da Ressureição.

No meu tempo de criança e adolescência em Candeias a Semana Santa era agitada. Aquela cidadezinha parada, onde rolava pouco dinheiro, nessa semana era bastante movimentada. Nesse tempo a zona rural também era bastante habitada, os fazendeiros tinham as suas casas fechadas na cidade e apareciam sempre de um dia para o outro, quando vinham fazer compras ou em casos diferentes, como casamentos, doenças, batizados etc. No mais aquelas casas ficavam fechadas quase sempre e muitos vinham para passar uns dias apenas no fim de ano para assistir a missa do galo, uma missa que começava a meia noite. Isso fazia com que Candeias ficasse acordada a noite toda. Outra oportunidade em que a cidade aumentava a população era festa do Congado.

Contudo, a festa que deixava a nossa Candeias mais agitada, quando a população até dobrava, era a Semana Santa. --- O povo da zona rural não participava da vida da cidade como nos dias atuais. Mas na Semana Santa, eles eram fieis com a participação. --- E nessas oportunidades o comercio dobrava as suas vendas, os vendedores de rua aumentavam e o dinheiro circulava muito mais na nossa pobre Candeias.

A procissão da Sexta-Feira Santa, acontecia da ponta dela, a cruz processional, estar na praça da bandeira e o final estar ainda saindo da porta da Matriz. E poderia ver muito mais gente naquele tempo de que nos dias atuais. As pessoas superlotavam a antiga Igreja Matriz e muitos ficavam do lado de fora, até mesmo numa cerimônia simples. Imaginemos , então numa Semana Santa? --- Naturalmente isso inspirou o Monsenhor Castro a construir um igreja bastante espaçosa como a atual Matriz de Candeias.

O calor era demais em meio ao tamanho da aglomeração. Não existiam ventiladores na igreja. E devemos admitir que nesse tempo, como as atividades numa cidade como Candeias eram bastante reduzidas, as pessoas que vinham para assistir a festa, tanto das roças como de outras cidades para se encontrar com a família, não perdiam nada e a Igreja era muito movimentada.

Mas em meio a todo esse evento em que a população se multiplicava, nesses dias, um problema surgia. Como fazer uma necessidade fisiológica no caso dessa necessidade surgir na hora que a pessoa estivesse lá dentro da igreja naquele sufoco? Ou na rua onde não existia banheiros públicos? Os idosos consequentemente com problemas de próstatas que os faz necessitar de um banheiro... As pessoas com incontinência urinária... Ou aqueles que com a alteração da alimentação, por ter saído do seu ritmo normal, tenha conseguido um desequilíbrio intestinal? ---- As pessoas mesmo sabendo desses problemas se arriscavam e não deixavam de ir até mais cedo para obter um local nos bancos.

Nesse tempo não existiam essa modalidade de banheiro público. O único bar que tinha um banheiro era o Bar Piloto. Mas era um banheiro tão sujo, que parecia que havia 50 anos que não era lavado. Só entrar nele, já saia fedendo. Os homens, principalmente os mais jovens ainda se remediavam com essa única opção, mas os idosos, e as mulheres? E o povo desse tempo não usava fazer como se faz hoje, urinar na rua descaradamente.

Raríssimas eram as casas que existiam banheiros com descarga d’água. Eram latrinas no fundo dos quintais. Muitos nem isso tinham; e era muito comum o uso de penicos. Agora imaginemos a cidade com todo aquele movimento... Comumente saia alguém “mijado” da igreja ou até mesmo “cagado”. E a gente nunca ouvia alguém falar que na igreja deveria ter um banheiro. Isso era uma coisa inimaginável, impensável, igreja ter um banheiro.

Quantas vezes nós vimos o Osmar da Sota, o dentista, que era Congregado Mariano dos mais fervorosos sempre com a sua fitinha azul claro no pescoço. Na hora de começar a missa ele chegava no lugar do Padre Joaquim (Posteriormente Monsenhor) e dizia: “Gente hoje o nosso querido padre Joaquim não está passando bem, portanto nós vamos fazer aqui a nossa oração comunitária e puxava um terço.

Às vezes no mesmo dia, a gente via o Padre Joaquim, fumando o seu cigarrinho, da marca Columbia, bem tranquilo a porta da casa paroquial. Talvez, por esse motivo de não ter um banheiro sequer para o padre, na igreja, quando o padre faltava com o compromisso da missa. não faltava quem dissesse:

O Padre Joaquim hoje não celebrou missa, deve estar de caganeira.

Armando Melo de Castro.

 


ASSIM JÁ FOI A VIDA DOS CANDEENSES.


Nós brasileiros estamos vivendo dias difíceis. Não podemos negar isso. Estamos naturalmente vivendo a lei de causa e efeito, a lei que diz não existir causa sem efeito e nem efeito sem causa. --- Mas nesse caso perguntemos: Onde estão as causas desses efeitos? --- Esta é uma pergunta que os brasileiros estão formulando e que nem sempre encontram resposta.

Eu que conto um monte de anos nas costas, chego a uma conclusão: Durante a minha vida eu vi tudo melhorar. A minha Candeias tão pobre, tão sem recursos, com uma meia dúzia de veículos que eram mais vistos nas garagens, hoje fazem filas estacionados na nossa tão querida Avenida 17 de Dezembro, antigamente chamada de largo.

Candeias apesar de não poder ser chamada de uma cidade próspera à vista de outras que foram emancipadas na mesma data, assim como Lagoa da Prata e Arcos, que contam com uma população três vezes mais que Candeias e uma economia incomparável. Mas mesmo assim, podemos reconhecer que a ordem natural do progresso brasileiro lhe permitiu uma certa evolução.

Vi a saúde do povo brasileiro melhorar muito, apesar das reclamações, antigamente a mortandade, principalmente a infantil era de doer por falta de recursos. Não havia as facilidades de hoje em dia, não havia vacinas e nem remédios de graça, e sobreviver era uma questão de sorte ou de muita experiência dos pais.

A odontologia era muito atrasada. Gente fazia com os dentes para comer com a gengiva, assim se dizia. Rádio era coisa de Rico; televisão não existia e pedintes de esmolas pelas ruas tropeçavam uns aos outros.

O transporte ferroviário não atendia satisfatoriamente o progresso do Brasil. Uma encomenda de São Paulo para Candeias demorava até um mês. As comunicações era um horror.

As pessoas tratavam as doenças mais com remédios de raiz e as garrafadas eram muito encontradas e produzidas. Nas roças quando quebravam um braço ou uma perna, por lá mesmo eles os encanava com lascas de bambu. Muitos arrancavam os seus próprios dentes, quando esses ficavam balançando na boca. O café de rapadura era comum, como também a carne de lata ou de panela. Roupas remendadas era comum, e hoje estamos vendo as moças rasgando as suas calças como se isso fosse uma moda.

Muitas famílias compravam o tanto de alimento suficiente para uma refeição. E os ditados vulgares daquele tempo, eram assim como: ----- “Estou vendendo o nariz para comprar pó”. --- Estou cagando para jantar” Pobre só come frango quando um dos dois está doente”.” Remenda seu pano que ele dura mais um ano, remenda outra vez que vai durar mais seis meses.” “ Pobre só vai pra frente quando leva um tropicão”. “Não tenho um tostão no bolso” (moeda antiga que representava 100 réis) “Estou mais quebrado do que arroz de terceira” (Havia o arroz de primeira, de segunda e de terceira)

Está hoje bem claro que tudo mudou para melhor. O povo tem mais saúde, vive melhor, tem mais proteção da justiça e dos políticos. Mas é triste, muito triste saber e ver que o ser humano não melhorou nada. Continua matando, roubando, agredindo, ofendendo, explorando, enfim se alimentando do ódio e se afastando de Deus.

Às vezes podemos ver alguém dizer que antigamente era melhor, o ser humano era mais humano. ---- Não --- Nada disso. Desde o tempo de Adão o home já matava, desde o tempo de Cristo o homem já roubava. Naturalmente a medida em que a população do mundo aumentou, os crimes aumentaram num proporção maior. O mal e o bem sempre andaram juntos, mas hoje estamos vendo o mal crescer ainda mais que o bem. E as causas desse efeito, é a ausência de Deus nos corações do ser humano.

É triste!

Armando Melo de castro.

ASSIM JÁ FOI A VIDA DOS CANDEENSES.

Nós brasileiros estamos vivendo dias difíceis. Não podemos negar isso. Estamos naturalmente vivendo a lei de causa e efeito, a lei que diz não existir causa sem efeito e nem efeito sem causa. --- Mas nesse caso perguntemos: Onde estão as causas desses efeitos? --- Esta é uma pergunta que os brasileiros estão formulando e que nem sempre encontram resposta.

Eu que conto um monte de anos nas costas, chego a uma conclusão: Durante a minha vida eu vi tudo melhorar. A minha Candeias tão pobre, tão sem recursos, com uma meia dúzia de veículos que eram mais vistos nas garagens, hoje fazem filas estacionados na nossa tão querida Avenida 17 de Dezembro, antigamente chamada de largo.

Candeias apesar de não poder ser chamada de uma cidade próspera à vista de outras que foram emancipadas na mesma data, assim como Lagoa da Prata e Arcos, que contam com uma população três vezes mais que Candeias e uma economia incomparável. Mas mesmo assim, podemos reconhecer que a ordem natural do progresso brasileiro lhe permitiu uma certa evolução.

Vi a saúde do povo brasileiro melhorar muito, apesar das reclamações, antigamente a mortandade, principalmente a infantil era de doer por falta de recursos. Não havia as facilidades de hoje em dia, não havia vacinas e nem remédios de graça, e sobreviver era uma questão de sorte ou de muita experiência dos pais.

A odontologia era muito atrasada. Gente fazia com os dentes para comer com a gengiva, assim se dizia. Rádio era coisa de Rico; televisão não existia e pedintes de esmolas pelas ruas tropeçavam uns aos outros.

O transporte ferroviário não atendia satisfatoriamente o progresso do Brasil. Uma encomenda de São Paulo para Candeias demorava até um mês. As comunicações era um horror.

As pessoas tratavam as doenças mais com remédios de raiz e as garrafadas eram muito encontradas e produzidas. Nas roças quando quebravam um braço ou uma perna, por lá mesmo eles os encanava com lascas de bambu. Muitos arrancavam os seus próprios dentes, quando esses ficavam balançando na boca. O café de rapadura era comum, como também a carne de lata ou de panela. Roupas remendadas era comum, e hoje estamos vendo as moças rasgando as suas calças como se isso fosse uma moda.

Muitas famílias compravam o tanto de alimento suficiente para uma refeição. E os ditados vulgares daquele tempo, eram assim como: ----- “Estou vendendo o nariz para comprar pó”. --- Estou cagando para jantar” Pobre só come frango quando um dos dois está doente”.” Remenda seu pano que ele dura mais um ano, remenda outra vez que vai durar mais seis meses.” “ Pobre só vai pra frente quando leva um tropicão”. “Não tenho um tostão no bolso” (moeda antiga que representava 100 réis) “Estou mais quebrado do que arroz de terceira” (Havia o arroz de primeira, de segunda e de terceira)

Está hoje bem claro que tudo mudou para melhor. O povo tem mais saúde, vive melhor, tem mais proteção da justiça e dos políticos. Mas é triste, muito triste saber e ver que o ser humano não melhorou nada. Continua matando, roubando, agredindo, ofendendo, explorando, enfim se alimentando do ódio e se afastando de Deus.

Às vezes podemos ver alguém dizer que antigamente era melhor, o ser humano era mais humano. ---- Não --- Nada disso. Desde o tempo de Adão o home já matava, desde o tempo de Cristo o homem já roubava. Naturalmente a medida em que a população do mundo aumentou, os crimes aumentaram num proporção maior. O mal e o bem sempre andaram juntos, mas hoje estamos vendo o mal crescer ainda mais que o bem. E as causas desse efeito, é a ausência de Deus nos corações do ser humano.

É triste!

Armando Melo de castro.