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terça-feira, 2 de junho de 2020

O MEU AMIGO ERASTO DE BARROS.


 Certa vez a minha filha Bruna, que nunca havia comido caqui, me perguntou qual o gosto da fruta. Eu lhe disse que o caqui, quando bem maduro, tem o gosto doce da saudade. A minha resposta, um tanto abstrata, tinha a ver com a saudade que guardo dentro de mim desde a minha infância quando comi, pela primeira vez, um caqui.

Foi um presente do Sr. Erasto de Barros, meu amigo desde quando eu era um menino, éramos vizinhos, na Rua Coronel João Afonso. Ele tinha, no quintal de sua casa, um pomar com várias árvores frutíferas e, entre elas, estava um caquizeiro. Seria, talvez, o único da cidade naquele tempo quando muita gente, em Candeias, tomou conhecimento da existência desta fruta através da gentileza do Sr. Erasto de Barros, que gostava de presentear os amigos com aquela fruta incomum nos pomares candeenses.

Trata-se, o caqui, de uma fruta bastante nutritiva. Existem dela diversas variedades, contudo as mais conhecidas no Brasil são o caqui-chocolate e o caqui rama forte.  É um fruto de cor vermelha e de consistência macia e fibrosa. A casca do caqui-chocolate, porém, possui cor alaranjada. E um sabor, muito doce. É típico de regiões de clima tropical e subtropical. Cerca de 70 a 80% do caqui é composto por água. É uma fruta rica em proteínas, cálcio, ferro e licopeno. Em média, cada 100 gramas de caqui possui 75 calorias. Em termos de vitaminas, é rico em vitaminas E, A, B1 e B2. A China é o país de origem deste fruto. O caqui pode ser confundido com um tipo de tomate.

Como eu dizia, o caqui bordeja na minha memória a imagem marcante do senhor, Erasto de Barros. Não só como porteiro da Escola Estadual Padre Américo, onde estudei, como também na sua vida rotineira. Acredito que é por esse motivo que, toda vez que vejo ou me falam do caqui, vem à tona de minha memória, a imagem simpática do meu amigo Erasto de Barros. -----

O seu ponto predileto era o Bar Piloto, antiga parada de ônibus, quando ainda não existia em Candeias o terminal rodoviário. O ônibus que fazia a linha de São Paulo era como um amigo para ele porque levava e trazia o seu filho, Ademir. Quando Ademir estava para vir a Candeias a cidade toda tomava conhecimento pela felicidade em que ficava Sô Erasto. Entretanto, quando Ademir voltava era notório o seu semblante de tristeza.

Ninguém se ofendia com o jeitão rústico do Sr. Erasto de Barros. A sua imagem emitia uma pureza de alma e uma espontaneidade tão grande que as pessoas o respeitava muito, até mesmo diante de uma tirada ofensiva em um dos seus momentos de explosão. -----

Um homem que tinha um coração que mal cabia dentro de si. Chorava por qualquer coisa. Era um excelente pai de família. Tratava com dignidade a sua esposa Maria e com total esmero os seus filhos, Cidinha, Ademir, Ademar e Mauro. Um homem nervoso. O seu palavreado, às vezes vulgar, não condizia com o seu real comportamento. Homem honesto, trabalhador, correto em todos os sentidos.Mas, o seu temperamento era explosivo. Quando lhe pisavam no calo, não deixava para depois o que poderia falar na hora. -----

As pessoas o incitavam porque ele se tornava uma pessoa engraçada, bastante engraçada quando respondia por uma brincadeira de mau gosto e que ele a levava a serio. Era uma criança sem maldade. Acreditava fácil em boatos fáceis. Boatos feitos, propositalmente, para vê-lo responder irritado.

Quando um de seus filhos fazia alguma coisa errada, ele vinha com aquele seu rompante de trovão e dizia: “Eu vou te matar!” – Tirava o seu sinto, mas, as lambadas iam para o ar, pois, nenhuma acertava o filho arteiro. Ele tentava apenas assustá-lo, enquanto o menino caia na risada de não ser atingido pelo cinto.

Se algum de seus filhos ia para rua e demorava a voltar, ele saía, em busca de encontrá-lo, gesticulando com as mãos e falando sozinho: “Hoje, eu esfrego a cara do Demi no chão” Na época em que seus filhos saíram de casa para ganhar a vida em outra cidade, Sr. Erasto quase morria.

Lembro-me quando fui para São Paulo e estive morando em uma república com o seu filho, Ademir. E assim que eu cheguei a Candeias ele foi logo à minha casa e eu tive que contar nos mínimos detalhes tudo que se passava com o Ademir, em São Paulo. Para tranquilizá-lo, era preciso reproduzir tintim por tintim como era a vida de seu filho. Os problemas rotineiros enfrentados por um jovem que saía de casa, eu não poderia contar porque isso poderia levá-lo às lágrimas. ---

Na época de eleição, Sô Erasto ficava, constantemente, agitado. Tudo que lhe dizia ele acreditava. As pessoas que conheciam o seu jeito de ser e o seu linguajar rude incitavam-no para vê-lo hilariante. --- Certa vez o Titoco, um amigo meu, que era muito brincalhão disse-lhe: “Eu ouvi dizer que o senhor vai se candidatar para vereador no partido do Zé do Anjo, Sô Erasto?” --- E a resposta foi na tampa. Irritado ele disse: “Vou candidatar é no seu rabo!”.

Meu querido Sr. Erasto de Barros, onde quer que esteja, receba o meu grande abraço. 

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos

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