A história católica diz que São Benedito nasceu na Itália e era Capuchinho. No mosteiro onde morava, exerceu várias funções, entre elas, a de cozinheiro. ---- Ele era, extremamente, preocupado com os mais pobres. Muitos o procuravam no mosteiro buscando sua ajuda, haja vista a falta de alimentação que os acometia. Muitas vezes, levado pelo seu sentimento caritativo, tomava de alimentos do convento e os escondia, entre suas vestes, a fim de levá-los para matar a fome dos necessitados.
Conta-se que, numa dessas saídas, seu Superior lhe surpreendeu, perguntando-lhe: “O que levas debaixo do seu manto, irmão Benedito?” E o santo responde, tranquilamente: “São Rosas, meu senhor”! E abrindo o manto, de fato, estavam as mais belas rosas no lugar dos alimentos, tirando a dúvida do Superior. ---- E, assim, aconteceu o primeiro milagre de São Benedito que ficou denominado como o milagre das rosas.
Existem duas imagens
que representam São Benedito: Na primeira, ele está com o menino Jesus em seus
braços e, na segunda, com flores nas mãos, como marca do seu primeiro milagre.
O santo negro,
conhecido por Santo Preto, conquistou o coração dos católicos e é muito
popular. Comumente, a sua imagem é vista nas cozinhas e dispensas dos
brasileiros. Muitos católicos gostam de simbolizar a sua presença,
oferecendo-lhe o primeiro café da manhã. Ele é o protetor dos cozinheiros e
cozinheiras.
Fé é fé. A fé
pode parecer uma metáfora ou uma abstração. Bem dosada, ela serve de qualquer
jeito. Desde que não pegue uma montanha em peso para removê-la ou que a sua
obra não a faça morta. Mas, o pior é quando a fé se torna cega. A fé cega
pertence aos que não a têm na sua essência. É a fé do egoísmo que se torna no
espírito da coisa e por que não dizer que se torna em uma mercadoria que uma
igreja charlatã, rouba do seu fornecedor e o transforma em freguês?
O nome de são
Benedito me faz dar uma olhadinha no retrovisor da minha vida, e ver Dona
Ester, a minha grande amiga Dona Ester já comentada aqui neste Blog, num tempo
quando fomos vizinhos na Rua Coronel João Afonso na década de 50.
Após ter levado uma
vida irregular sob os olhos da sociedade, Dona Ester se casou com o Sr. João de
Paiva, o pedreiro Joãozinho, como era mais conhecido. Era um homem simples, cumpridor
dos seus deveres. Tinha o hábito de tirar um dia, dentro de uma temporada, para
mamar umas pingas. Ninguém sabia quando seria esse dia. Era sempre uma surpresa
para toda a vizinhança e até mesmo para Dona Ester que começava falando e
terminava chorando, quando o via naquele estado de embriaguez.
Joãozinho era o
contraste de Dona Ester. Baixinho, careca, rosto miúdo e bastante branco. Olhos
azuis, dentes quebrados, narigudo, orelha de abano, parecia um coelho. Barba
rala e uma voz fanhosa e baixa. No seu dia-a-dia, era mais manso do que um
pardal. Tratava bem a esposa, era respeitoso com ela e lhe entregava todo o
dinheiro do trabalho. Até o pedaço de fumo era ela quem comprava para ele. Mas,
se tomasse umas pingas, sua figura mudava completamente. Falava alto e o fanho
da sua voz sumia. A porta de sua casa se transformava num picadeiro de circo.
Ofendia tanto a pobre mulher, a ponto das pessoas sentirem pena dela. Ainda bem
que isso acontecia de duas a três vezes por ano.
Na normalidade do cotidiano, Joãozinho chegava a sua casa, completamente, sóbrio, tomava o seu banho, jantava e assentava-se à porta da rua fazendo o seu cigarrinho de palha, onde sempre aparecia alguém para conversar.
Toda a vez que ouço
falar de São Benedito, logo vem, na minha memória, a imagem de Joãozinho na
porta de sua casa falando mal, em voz alta, de sua pobre mulher que se
encontrava no interior da casa. Dona Ester era devota de São Benedito. Apesar
de ter a cor parda, ela era neta de escravos e, talvez, por isso, se declarava
devota de quase todos os santos negros, São Benedito, São Maurício, Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, e outros. Vivia fazendo novenas e oferecendo
promessas aos seus santos. Entretanto, o Santo pelo qual ela dava uma atenção
maior era para São Benedito. Estava sempre exclamando: “Meu São Benedito”!!! E
aquilo, na hora que o Joãozinho estivesse turbinado, seria uma afronta a sua
pessoa, uma afronta moral que dava início à encrenca.
Vejamos pois, o quanto o alcoolismo pode transformar uma pessoa, nessas raras vezes que Joãozinho se deixava dominar pelo álcool, ele mostrava o demônio que estava escondido dentro dele:
---Invém ocê de novo
quesse diabo desse Santo Binidito, Muié? Eu já num te falei que num quero sabê
desse nome aqui in casa? Mas, qui diabo, sô! Cadê os ôto santo preto qui ocê
gosta? Purquê tem qui cê esse Binidito? Um santo quesse nome num fais milagre
coisa ninhuma, sua vaca! Ocê puxa tanto o saco dele que dá até café pra ele,
pois eu vô pô pinga pra ele, quero vê se ele fica tonto! Sua égua. Sua
mula véia. Esse santo só fais ingrizia. Vê se arruma um santo mio pró cê ficá
chamano. Quando cê berra o nome desse santo me dá vontade de te pô a mão. Vê lá
se isso é nome de santo! Trem ruim. Isso é santo de figa. Se fosse um santo tão
bão, num tinha dexado ocê passá fome, sua vaca! Ocê memo vive falano que passou
fome. E onde qui tava esse santo negão que nunca te ajudô em nada.? Discarada!
Safada das maió! Bisca ordinária! Cachorra sem dono! Quarqué cuisinha já vem: “
ai, meu São Binidito!!!” Eu sei, sua mula! Quando ocê fala o nome desse santo,
ocê tá lembrando é do Jereba, aquele arriero safado, cachorro
sem vergonha,
isploradô de muié, freqüentadô de cabaré! Aquele trem vagabundo morreu, mais
ocê continua tarada com ele. Se ocê sonha arto com ele eu te mato. Eu tô de oio
no seu sono, sua mula! Agora, quem trata dô cê é eu, intão ocê é só minha e tem
qui tirá esse santo da cabeça porque esse diabo desse santo é uma discurpa
amarela. Sua tarada!, Vaca, mula, égua, cachorra... Eu ainda vô morrê de raiva.
Sua mula! Eu tenho nojo de tudo que é Binidito. Eu vô pidi a Deus pra me mandá
pus infernos pra eu incontra quesse traia desse Binidito, fazedô de arreio.
Tinha qui tê um santo
quesse nome. Isso é coisa do diabo. Só pode sê!
Moral da história:
Dona Ester teria sido amante de Benedito Arreieiro e o trazia vivo na sua
memória e Joãzinho tirava três dias, no ano, para desabafar o seu ciúme sobre
aquilo que, talvez, pudesse observar sobre o comportamento de sua mulher em
relação ao seu passado.
É como dizia a Rachel
de Queiroz: “Eu queria contar uma história gentil, mas, só deu
miséria”.
Armando Melo de
Castro
Candeias MG Casos e Acasos
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