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terça-feira, 11 de agosto de 2009

ALVINO FERREIRA


                                                     Foto o Alvino  com populares nas Festas do Rosário.

    Dando uma remexida nos armários das minhas memórias, encontro um grande amigo, um grande candeense digno do maior respeito e consideração. Um homem cujo nome está bem guardado na história de nossa Candeias. Ele era visto todas as tardes naquele banco defronte ao antigo Bar Piloto, empanado no seu terno azul e gravata. --- Hoje em dia a gente vê engravatado, advogados, crentes ou em festas de casamento e ou bailes. Naquele tempo colocava-se gravata para ir à missa, a cidade de Campo Belo e até mesmo para ir ao largo (Av. 17 de dezembro). --- Estou falando do meu grande amigo, Sr. Alvino Ferreira, mais conhecido por Alvim Ferreira.

Filho de Francisco Ferreira Neto e Claudiana Maria de Jesus, Alvino Ferreira nasceu no distrito de Vieiras Bravos, no município de Candeias, no dia 26 de novembro do ano de 1908. Descendente de família humilde veio ainda jovem com os seus pais e irmãos para a sede do município em busca de maiores recursos. Seu pai estabeleceu-se com uma pequena venda onde está, hoje, a “Simac, Casa de Material de Construção” situada na esquina com a Rua Pedro Vieira de Azevedo, com a Av. que dá o seu nome.

Pertencente a uma família muito unida. Nunca se viu falar de uma indisposição entre irmãos. Eram eles: Revalino, Antônio, Adalgiso, Francisco, José, Alvino e Washington.  Alvino que tão logo a família se acomodou em Candeias, foi aprender a profissão de barbeiro onde se encontra, hoje, a casa do Sr. Ângelo Afonso. Interessante observar que Alvino Ferreira não teve irmãs e nem filhas. Criou os seus quatro filhos com muito amor e disciplina.

Alvino casou-se com Benedita Ferreira em abril de 1941. Desta união nasceram 3 filhos, Willian, Wanderley e Adelson. Willian, o segundo filho do casal, aprendeu o ofício de barbeiro com o pai e exerceu, por muitos anos, a profissão num anexo do antigo Restaurante Bifão. ---- Alvino tinha outro filho, o mais velho, malfades vindo de um relacionamento anterior.

Era estabelecido com uma pequena venda e o seu salão de barbeiro, numa velha casa na Praça Antônio Furtado, esquina com a Rua João Caetano de Faria, hoje ali estabelecida uma filiar da Padaria Andrade.

Por ocasião da instalação da primeira Comarca de Candeias, no ano de 1954, o Dr. Zoroastro Marques da Silva, indicou o nome de Alvino Ferreira para o cargo de Carcereiro da cadeia pública do município. Foi mais uma das felizes escolhas do Dr. Zoroastro, pois Alvino Ferreira correspondeu a essa confiança de maneira louvável. Tratava os presos com dignidade e nunca teve nenhum problema de ordem interna. Sabe-se que se trata de um cargo difícil de ser executado, pois lida com pessoas em débito com a justiça e nem sempre são pessoas de bem.

Ele gostava muito de carnaval. Mas era solicitado sempre a colaborar na portaria do Clube Recreativo Candeense dado a sua paciência e o seu jeito habilidoso no trato com as pessoas.

Alvino era detentor de uma grande dose de humor e gostava muito de uma galinhada. E nunca dispensava esse tipo de convite. --- Certa feita, foi convidado para participar de uma galinhada onde se encontravam os seus amigos, Zé Chorão, Otávio Martins, Otávio Moreira e Geraldo do Orcilino. --- Ao se apresentar para essa ceia tão cobiçada, alguém lhe mostrou a panela no que ele diz: “Mas isso não é galinha, isso é um galo!” Foi quando lhes disseram: É o seu galo... O seu galo índio que não cantará mais... Alguém roubara o seu galo.  Alvino  não perdeu o humor. Disse apenas: Tenho direito às duas coxas, duas asas, a moela e o fígado.

Na instalação do Ginásio de Candeias, trabalhou como voluntário na portaria do Ginásio, sem salário, apenas para colaborar com a CENEG, instituição que regulava o ensino gratuito em Candeias.

Na sua residência poderia verificar ele sempre sendo solicitado a dar conselhos; orientando em alguma coisa, principalmente sendo solicitado para aplicação de injeções; dar banho em doentes, fazer curativos e barbear pessoas acamadas. Era um tipo de enfermeiro voluntário que não visava dinheiro com esses préstimos.

Alvim Ferreira fazia coisas que deixava as pessoas muito admiradas:

Naquele tempo Candeias não possuía uma funerária e os defuntos eram preparados para o enterro nas próprias residências. Alvino era sempre solicitado para esse tipo de serviço, dar banho, fazer a barba e preparar o morto para que esse fosse enterrado com dignidade. Fazia isso gratuitamente sem cobrar nenhum centavo. Era um homem extremamente caridoso... Um homem legitimamente do povo. ---- Ele e seus familiares tinham certos hábitos diferentes, como por exemplo, almoço às dez horas da manhã e jantar as quatro da tarde. É justo registrar que à mesa de Alvino, havia sempre um convidado da pobreza pegando o rango com ele.

Homem sem preconceito de raça e de cor. As diferenças sociais não faziam parte dos princípios de Alvino Ferreira. Era humilde, porém, bem relacionado com todas as camadas sociais de nossa cidade.

Fundador e Presidente da Festa do Rosário do Alto do Mingote. A construção da Capela do Rosário, sede da festa foi construída por um grupo de amigos liderados por ele. Alvino tinha o espírito de liderança. Homem muito respeitado pelos adeptos desta festa do congado. Não fosse por ele esta festa não teria, hoje, a grande conotação vista e sentida por todos os candeenses.

Numa homenagem justa da Câmara Municipal de Vereadores, a antiga Rua Itapecerica, que desce à frente de sua antiga residência, onde se aglomeravam os ternos dos dançantes; os quais dali se dirigiam para o alto do Rosário, hoje leva o seu nome... Avenida Alvino Ferreira.

Foi presidente por muitos anos da Vila Vicentina, onde era grande ouvinte dos clamores dos pobres ali residentes. Numa época em que, ainda, não existiam essas aposentadorias existentes nos dias atuais, o custeamento da Vila Vicentina fazia com que o seu presidente contasse com o seu círculo de amigos. Eu como era também irmão de São Vicente, por várias vezes fui intimado a ajudá-lo a dar banho em alguns mortos. Eu, então, na minha adolescência, pude aprender muita coisa com esse meu querido Sô ALVIM.

Grande amigo e homem de confiança do saudoso Monsenhor Castro, o qual lhe confiava sempre à responsabilidade maior da organização da Semana Santa. Alvino Ferreira nunca foi visto acompanhando uma procissão e sim colaborando na exigida organização disciplinada do Monsenhor Castro.

Alvino Ferreira faleceu no dia 27 de abril de 1992 aos 84 anos de idade. Está sepultado no Cemitério São Francisco.

 Meu querido Sr. Alvim: É com certeza que Deus enviou-lhe ao mundo na hora certa, você veio num momento em que Candeias mais precisava de pessoas como você. Só o conforto que você dava na cabeceira de um moribundo da vila, já era um grande alívio. Onde quer que esteja meu bom amigo, receba o meu abraço, e obrigado pelo capítulo que você escreveu na história de Candeias.

Armando Melo de Castro.

 

 

 






2 comentários:

MárioMoreira de Resende disse...

Òtima iniciativa,parabéns mesmo,sou candeense com muito orgulho,assim fico conhecendo cada vez mais a história de minha terra natal.

Claudia Saldanha disse...

Foi muito bom ver a história do tio Alvim aqui.Não era meu tio de sangue, mas tinha um imenso carinho por mim e meus irmãos! Na verdade sua esposa, a tia Benedita é que era minha parenta, irmã da vó Maria do Antero. Que saudades do tempo que a gente chegava lá para que o tio fizesse uma "benzeção" e depois a tia oferecia aquelas deliciosas broas de amendoim que ela mesma fazia!