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quarta-feira, 28 de março de 2012

AI SE EU TE PEGO!


Foto para ilustração do texto.

---Eu contava com os meus 16 anos, mais ou menos, quando chegou a Candeias um parque de diversões armado, como de costume, na Praça Antônio Furtado. Um parque a altura da nossa cidade, na década de 50. Chamava-se “Parque Teatro Zélia”. Contudo, não tinha nenhum teatro. Naquele tempo, esses itinerantes tinham um palanque em forma de palco onde faziam um número teatral no final da função para segurar os frequentadores. Mas entendo que o teatro desse parque estava desativado por falta de artistas.

 ---Tinha apenas no nome a palavra teatro. --- Zélia seria a filha do dono; um velhote pequeno e ágil, com a cabeleira grisalha cobrindo a nuca e prendendo no seu topo um chapéu de palha bonito, muito diferente do qual ele sempre dizia ter sido  fabricado por encomenda. 

 ---Como exemplo dos demais parques que visitavam Candeias, o Parque Teatro Zélia era o protótipo da pobreza. Consistiam as suas diversões, nos balanços venezianos que caiam aos pedaços; sorteio, por meio de um coelhinho da Índia; ---- cigarros na argola; ----uma sombrinha rodante para crianças; ---- uma roleta de jogo de azar com 37 números; um cercado em que funcionava o jogo de víspora valendo dinheiro. E o tiro ao alvo com tremenda falta de segurança, o que proporcionou um chumbo no nariz da minha irmã Maria Amélia, quando um usuário foi brincar com a arma. (Isso foi terrível)

---O parque ficava lotado, afinal naquele tempo não existia em Candeias a televisão que passou a prender o povo dentro de casa. Esses parques eram comuns. Às vezes saia um e pouco tempo depois já chegava outro. Assim, como também os chamados circos de cavalinhos e touradas.

---Naquele tempo, o jogo em parques rolava solto. A víspora era exercida sem limite de idade. Meninos jogavam, livremente, sem qualquer intimidação. Os chamados delegados “calça-curta” raramente apareciam na delegacia. O destacamento policial, limitado a um cabo e dois soldados, por algumas vezes, arbitrários e, por outras vezes, acomodados sendo  pessoas totalmente despreparadas para o cargo. --- Uma polícia completamente diferente da polícia dos dias atuais. Hoje, felizmente muito mais bem preparada.

 ---De posse de minguados cruzeiros (dinheiro da época), resolvi pôr uma fezinha no jogo de víspora. Eu não sei o que me deu naquele dia. Eu nunca fui de sorte com jogo, mas nesse dia, parecia que a sorte teria me abraçado. ------ O cartão, que tomei estava mesmo condicionado para mim. Ele tinha os números 16, 01 e 46. Exatamente 16 de janeiro de 1946, cuja data eu me aportei neste mundo, na Rua Coronel João Afonso. Desde então, uso esses números nas minhas fezinhas, mas nunca aconteceu mais nada.

 ---Adolescente e bobo, com a cabeça cheia de imaginação e com os bolsos cheios de dinheiro, juro que tive a sensação de ser o homem mais rico do planeta. ----- Ao sair dali, entrei no boteco do Edmundo Simões que ficava ali bem próximo. Tomei uma copada de vinho Vênus, um vinho vagabundo pelo qual os jovens iniciavam-se na vida alcoólica. Assim, com a mente fermentada pelas coisas que o diabo inventou, saí dali e fui parar no Bar Piloto, um bar rico, de propriedade, na época, do Sr. Guido Bonaccorsi.

 ---Até então, eu que já teria experimentado, apenas pinga Iracema, a 51 da época, e os cigarros Saratoga, os mais baratos do mercado, queria beber uísque e fumar os cigarros Columbia, produtos que não eram encontrados nos botecos das ruas de baixo, como se dizia.

---Como “cowboy” de faroeste americano, num “saloon”, adentrei o Bar Piloto, meio zonzo do vinho, levantei o pescoço, firmei o olhar, passei as mãos na cabeça como se acertasse o chapéu, afinal, parecia que o espírito de Roy Rogers teria encarnado em mim. Talvez até pudesse imaginar o “Trigger” amarrado do lado de fora. Com a voz firme pedi, aliás, mais mandando do que pedindo ao Guido como se estivesse comprando briga: “Eu quero um Uísque e um maço de cigarros Columbia”. Ora, o que teria pensado o Guido, naquele momento? 

---Eu era um rapazola pobretão e bobo, acostumado a ser visto sem dinheiro, ganhava uma migalha para baixo e para cima com um balaio de pão da Padaria do Mozart Andrade. Dai o Guido, surpreso e sorridente, perguntou-me: “Uai, Armando, o que aconteceu? Você ganhou na loteria ou assaltou a carteira do seu pai?”. 

 ---Sem levar a mal a pergunta, lhe disse: ganhei na víspora. E enfiando a mão no bolso, mostrei-lhe o “toco” de dinheiro deixando-lhe, ainda, mais desconfiado com a minha justificativa.

 ----Bebi aquele uísque sem dar conta do sabor. Queria outra dose, mas ele não quis me vender. Peguei o maço de cigarros, ---- paguei a conta exaltando o “toco” de dinheiro e fui saindo. ----- Já era tarde da noite. ----- O Bar Piloto já se preparava para encerrar a tarefa do dia. A cidade quase que às escuras, as lâmpadas dos postes mais pareciam um tomate maduro. Era ainda o tempo da chamada “Usina do Bonaccorsi”. E ao sair, de súbito passando pela rua, vejo uma mulata, cabelo crespo e repuxado para traz, boca pequena e dentes claros realçados por um sorriso em cadeia com os lábios vermelhos. ----- Ao ganhar aquele sorriso da cabritinha, senti como quê recebendo uma fluidificação dos céus, ou do inferno. .

 ---A maliciosa olhada que a cabrocha me deu me fez sentir uma coisa diferente. Era como um calafrio. Um frio na espinha. Uma coisa gostosa de ser sentida. Parecia que fui atraído por um imã aos seus olhos. Eu nunca tinha sido olhado daquele jeito. Assim, saí seguindo aquela que eu não sabia se era ou não era donzela. Acho até que parecia um cachorro atrás de uma cadela no cio.

 ---Parecia que o meu coração andava e as pernas batiam. A mulata dava uma olhada para trás como quem dizia: anda mais rápido, meu bem, vamos para onde eu vou e eu quero você. Então, eu ali, atrás com o cérebro a duzentos por hora com o olho enfiado naquela poupança saracoteando sobre aquelas pernas grossas e gostosas. -----Ah, se eu pego essa nega pensava! --- Eu parecia um pangaré querendo entrar na baia de uma potra quarto-de-milha.

 ---Ela desceu a rua que faz esquina com a loja do Carlinhos Giannasi e parou na outra esquina onde, hoje, se encontra o Posto de Gasolina do Itamar Freire. O clarão era de apenas uma penumbra do poste, quase apagado. Na esquina de frente, existia uma pequena fábrica de farinha de milho do Sr. Sebastião da Picidonha. Do lado de fora, um monte de palha de milho refugado pela fábrica. O escuro tomava conta do monte de palha. Pensei comigo: tá aí o diabo na casa do terço.

---Contudo, havia um problema. É que eu era bobo demais, acanhado em demasia e um tanto encalistrado. Na verdade, eu era um tatu de galocha. Não sabia me apresentar a uma garota. Perdia a voz e, mesmo tendo tomado o vinho e o uísque, faltavam-me as palavras. Todavia, eu estava com dinheiro e como dinheiro faz coisas, eu me aproximei e paramos ali naquela esquina:

 ---Oi,

---Oi,

---Cume que cê chama?

---Isabel!

---Isabel?

---É...

---Para onde cê vai?

---Pra minha casa, uai.

---Leva eu?

---Cê ficou doido?

---Não, eu não...

---Que é qui ocê qué cumigo?

---Nada!

---Nada?

---kakakaka

---Intão purquê tá me inrabichano?

---É porque eu gostei do seu jeitão?

---Ocê gostou de mim sem isprementá?

---Gostei!

---Meu povo pensa que eu sô moça...

---E num é não?

---Mais ou meno!

---Mais ou meno? Como assim?

---É que ainda tem um resto...

---Resto! Que resto?

---Cumé qui ocê chama?

---Armando...

---Armando? Qui nome esquisito... Armando o quê?

---Nada...

---Nossa, mas cê é meio bobo, né?

 ---Diante disso, em um esforço muito grande, eu quis deixar de ser bobo e ataquei:

 --- Quanto você cobra pra nós rolar naquele monte de palha?

---Déis conto!

---Dez conto? Tá feito!

---Fomos parar no monte de palha de milho. E, já de cara, defrontamos com um cão que dormia ali, sossegadamente. A alcova improvisada tinha o cheiro de tudo, menos o perfume de mulher. Mas, eu tinha pensado em pegar, peguei, mas coitado de mim, não sabia segurar e deixei escapar.

---Frustrado eu fui para casa, já teria deixado a janela só encostada para a minha chegada fora de hora. E no outro dia que ressaca... E o medo de alguém contar para o meu pai!? Que vergonha de mim e do Guido Bonaccorsi!... Eu fiquei um bom tempo sem entrar no Bar Piloto. 

---Ser adolescente é deixar de ser criança sem lamentar. É deixar faltar um pouco de responsabilidade na sua vida. É não ter desânimo para aproveitar o que é de bom que a vida nos oferece. ----- Eu fui um adolescente muito feliz, apesar de muito bobo, tímido e acanhado. ----- Mas o mundo incumbiu-se de me dar uma mãozinha. ---- Ser adolescente nos dias atuais está sendo muito perigoso. O caminho do bem está cheio de buracos onde se escondem as drogas, a violência e a prostituição. ---- Cuidado jovem, você merece ser feliz. --

Armando Melo de Castro

Candeias MG casos e acas

quarta-feira, 21 de março de 2012

O VINHO DO PAPA NO RESTAURANTE PINGUIM


Eu aprendi a falar palavrão na escola da vida. Em casa, minha mãe não deixava. Mas iniciei o meu curso de palavreado chulo quando trabalhei na tabacaria do Midinho, no princípio da década de 60. A Tabacaria ficava junto do seu salão de  barbeiro situado ao lado de onde atualmente está o Restaurante da Cidinha. Foi nesse tempo que eu comecei a colocar na minha boca os primeiros  palavrões. 

Como todo mundo sabe, salão de barbeiro aparece tudo quanto é sacanagem: piadas pornográficas e aquele noticiário público da vida íntima das pessoas. Uma forma de o barbeiro segurar o freguês por horas e horas, enquanto vai, “despelando” a clientela. Antigamente, salão de barbeiro aos sábados era lotado.

 Entretanto, um dos meus maiores professores da linguística chamada de "nome feio" foi o Lulu, dono do antigo Bar e Restaurante Pinguim de quem eu fui empregado após ter deixado a tabacaria.

 O Bar e Restaurante Pinguim situava-se numa velha casa verde de Dona Maroca, onde se encontra, hoje, a loja de produtos agrícola do Zé Alencar Ribeiro. O meu patrão, o Lulu, apesar de ter os seus picos de bom humor, falava palavrão com a cara séria. Eu sugiro ao leitor: pense um palavrão daqueles bem crus e eu garanto que já o terei ouvido da boca do Lulu uma centena de vezes.

 Lulu era um ser humano dos mais humanos que eu já conheci. Coração, extremamente, mole. Se ofendesse uma pessoa, no mesmo instante, ficava triste e até chorava. Contudo, na hora do seu desabafo, ele mandava até o Papa para os infernos. Se lhe pisasse no calo, era uma chuva de palavrões dos mais variados. A Dona Teresinha, sua esposa, que o diga. Ele falava o que vinha à boca e não falava baixo. Falava alto, muito alto. Ficava vermelho como um peru e, se o contestasse, era aí que a coisa ficava preta. Quando aparecia um freguês embriagado, vindo de outro bar, Lulu ficava uma fera e  sempre: “Vai catá a rudia onde você quebrou o pote seu filho da p...”.

 Certa vez Candeias ficou sem pároco e a Igreja era atendida precariamente por padres holandeses de Campo Belo ---- Um dia, o padre João Maria, um holandês que falava tudo enrolado e que tomava as suas refeições no Restaurante Pinguim, disse-lhe:

 ---“Ó Lólu, eu querer comer comida mais sem sal. Comida sua tem muito sal. Muito sal faz mal, Lólu! Na minha teurá, eu comer comida pouco sal.”.

 Isso foi o bastante para o Lulu soltar os cachorros no padre.

 ---Até o senhor, agora, vai encher o saco aqui, Padre? Por que não manda vir cumida da Holanda. Quem vem de lá, tem que acustumá com o rango daqui, ora. Océis lá, vive numa merda danada! Lá come sem sal porque não tem sal.

 Depois de uma dessa, Lulu acalmava e ficava puxando conversa com a pessoa ofendida. Neste caso, beirou o Padre e lhe disse:

 Olha,  padre amanhã, o sinhor vai cumé uma cumidinha sem sal. Eu tava era brincando.

 Lulu era um homem caridoso. Muito amoroso, era chorão e vivia se arrependendo quando ofendia alguém. Jamais se viu, em Candeias, um comerciante tratar os fregueses desta maneira. Mandava-lhes “tomar naquele lugar” sem que ninguém ficasse com raiva dele.

 Zé Viroto era um alfaiate que abandonou a profissão por causa do uso extravagante do álcool. Vivia nos bares pedindo uma pinga para os fregueses que estavam à beira do balcão. Mas, o ponto em que ele mais ficava era no Bar Pinguim, onde eu trabalhava. Uma pessoa inofensiva, baixo, chapéu de pano, dentes mostrando os pinos dos pivôs quebrados, moreno, conversa mole e quase sem barba. Quando Lulu estava com a veia boa, tudo bem. Porém, se Lulu já tivesse, também, dado uma bochechada com a água que o gato não bebe, ele já começava a brigar com Zé Viroto e aí todo mundo parava para assistir aquela encrenca que mais parecia um debate:

 Lulu --- Zé Virôto! Sai fora daqui!

 Zé Viroto --- Que é isso Lulu, eu num tô fazendo nada, uai!

 Lulu ---Tá inchendo o saco!

 Zé Viroto --- Que é isso Lulu, que saco que eu tô incheno?

 Lulu ---Tá pedindo pinga para os fregueses.

 Zé Viroto --- E isso é inche o saco?

 Lulu ---Ah Zé ho vai para o inferno!!!

 Zé Viroto --- Cê tá nervoso dimais Lulu, calma sô!

 Lulu - Vai pro diabo?

 Zé Viroto ---Nossa senhora, o que é isso meu Deus!

 Lulu ---Não me goza, seu merda!

 Zé Viroto ---E eu tô te gozando Lulu?

 Lulu ---Vai pros quintos ...

 Tinha um garrafão de uma pinga muito ruim, que ficava debaixo da pia. Ninguém bebia dela pela tão má qualidade. E quando chegava um desses pinguço Lula dava um gole dela e mandava ir embora. Jair pulga, Zé Viroto, e outros  alcóolatras eram fregueses dela porque era de graça.

Lulu botou um gole dessa pinga e disse ao Zé:

 Lulu --- Bebe essa merda e some.

 Zé Viroto --- Tá, tá bom Lulu, já estou indo embora. E bebeu aquela pinga das piores do mundo, como se bebesse o vinho do papa e disse: Tô indo embora Lulu...

 Eu notei que a cena teria já mexido com a sensibilidade do Lulu. Zé Viroto passou a mão na boca num gesto de satisfação e foi saindo. E Zé Viroto vai saindo como um cachorro escorraçado. Ao vê-lo sair humildemente e agradecido, Lulu ficou desassossegado. Olhou para o teto como se estivesse pedindo ajuda a Deus... Correu até a porta e gritou, Zé, Zé Viroto, volta aqui. E ele volta.

 Lulu pega uma garrafa da melhor pinga que tinha no bar, uma reserva sua, dois manda o Zé viroto assentar e serve duas pingas e pergunta: Você quer um tira-gosto Zé? E Zé Viroto responde não Lulu obrigado, põe só mais um pouquinho da pinga e eu fico satisfeito. E Lulu disse-lhe, põe você mesmo o tanto que você quiser. --- Os dois fizeram um brinde e Lulu disse: Essa é boa não é Zé? Melhor que o vinho do Papa você não acha?...

 E Zé Viroto se sentindo o homem mais feliz do mundo disse com uma frase que lhe era comum: “ É o tal negócio Lulu, eu nunca bebi o vinho do papa, não mas deve ser muito melhor”...

 Zé Viroto sai passando a mão na boca e diz feliz da vida.

 ---Até amanhã, Lulu, fica com Deus! E Lulu responde, vai com Deus também Zé, até amanhã.

 Ao vê-lo sair Lulu comenta comigo:

---Tadinho do Zé! Eu tenho muita dó dele! Também o filho da puta num deixa de beber, Eu acho que ele não passa do ano de 1965 não...

 E Zé Virôto morreu no ano de 1965.

 Armando Melo de Castro

Candeias MG casos e acasos.

 

quinta-feira, 8 de março de 2012

UM DIA DE CÃO



Quando eu contava com os meus dezoito anos, era magro feito um danado e tinha uma grande vontade de ser gordo. Comia, comia e, quanto mais comia, mais magro ficava. Quando eu me entendi com a minha magreza, entrei na onda de ser gordo. Agora, que estou velho, não posso ter preguiça de andar, preciso passar fome e, ainda, ser alvo de comentários aborrecíveis.

Estou fazendo dieta. O excesso de peso me incomoda. As roupas começam a “enfiar”... ---- As banhas começam a pegar debaixo do ombro, a gente começa a andar com os braços abertos... Parece até que vai voar!  A barriga cresce e vem logo as dificuldades para aparar uma unha; para calçar um sapato... Meu Deus que horror!

Ficar sem beber uma cervejinha é um grande sacrifício. ---- Passar de frente a uma lanchonete com fome, com o dinheiro disponível no bolso para gastar e não poder entrar e comer; ----- Deixar de comer o meu feijão com arroz, os meus torresminho...  O meu bife mal passado, o meu churrasco dois pelos, isso para mim é um castigo...  

Ficar andando sem destino! Ah! Meu Deus do Céu!... Eu não sei como existem pessoas que dizem gostar de fazer caminhada! Isso para mim é terrível!  Bem, afinal eu tenho que me submeter a tudo isso. Enfim, é uma questão de razão. Eu devo fazer esse sacrifício, mas que é difícil... Ah! Como é difícil...

Primeiro dia de caminhada. Ao passar em uma das ruas do meu mapa que fora cuidadosamente traçado, passo defronte à casa de um amigo meu assentado em um banco à sua porta. Como há tempos eu não o via, não me foi possível evitar uma parada. ------ O Pedro mais parecia um Buda gigante, todo esparramado. Suponho que oitenta por cento do seu corpo foi tomado pela barriga que parecia um fole de ferraria. As pernas abertas. Camisa de fora das calças. Ponta da língua fora da boca e respiração ofegante. Contudo, sorridente como sempre.

---Olá Pedro, como vai?

---Bão e gordo!

---Você está gordinho mesmo!

---Gordinho não. Eu tô gordão! --- E riu gostoso.

---Você, então, gosta de ser gordo?

---Num é que eu gosto. É qui eu fico muito preso dentro de casa e preso come muito.

---Você já tentou fazer dieta?

---Num dô conta não. Nem penso nisso. Cumê é bão dimais, Armando!

---E você come muito? ---Perguntei.

---Uma latinha dessas de doce eu abro ela e logo, logo, meia vai imbora. ----- Ovo é meia dúzia frito cum farinha. Pão de queijo uns cinco cum carne. Cedo é meio bolo. Carne eu gosto é bem mantegosa. Gosto de cumê até iscorrê mantega no canto da boca. Uma custela de boi assada e um pedaço de toicinho de barriga, ah, num tem coisa mió não. Frango tá teno qui sê dois. Um vai quais só pra mim. Agora, o que me ingorda é o arrôis. Esse é qui é danado. Eu como quais uma caçarola de arrôis duma veis. É o qui tá me engordano. Mais eu num dô conta de dexá de cumê não. Quero morrê de barriga cheia... E deu aquela risada gostosa.

---E você não sente nada?

---Sinto umas parpitação. Eu até tô quereno ir no médico mais é que a gente chega lá e ele inventa tanto remédio que eu até vô ficano.

---Você não tem medo?

---Medo de quê? De cumê? (Riu satisfeito) Eu num tenho medo nem de morrê qui dirá de cumê? Um dia eu iscutei, num sei quem falá, qui a baleia só bebe água e come peixe e é gordona.----- Ah! Tamém quando eu morrê de todo jeito eu vou virá ossada memo. Tá bão! O maió disajeito é quando eu vô no banheiro. Aí a patroa tem que me ajudá!

---Ajudar? Como assim?

---Eu num dô conta de limpá não...

---Quer dizer que...

---É ela que me limpa!

---Ela que limpa você!? Não!!!

E eu depois disso, saí assustado, andando feito um louco e naquela ânsia de emagrecer fui pensando sem parar: ----- Puta que pariu a mulher ter que limpar a bunda dele?!!!!! ----- Meu Deus me acode!!! Eu preciso de ajuda enquanto há tempo... Perto do Pedro, eu estou magro! Afinal, eu quero é ser livre como um lobo e não quero ficar preso às minhas banhas, como preso fica o cão na corrente.

À frente, encontro-me com uma antiga vizinha sorridente e diz:

---Olá, Sr. Armando! Andando para se emagrecer? Isso é bobagem. Gente velha cansa as pernas e a barriga continua. Meu pai nunca andou, nunca fez nada. Viveu 96 anos. Vou falar para o senhor: andar para emagrecer é querer ir para o céu sem morrer. Eu tenho um primo que é carteiro. Ele anda o dia inteiro e está gordo feito um balão.

---Bem, só que eu faço dieta, também, Dona Lia!

---Poupando a boca, Sr. Armando? Não faça isso não! Cuidado com a anemia. O senhor gordo está bonito. Larga disso!

E nessa confusão mental, vem em mim a vontade de falar um nome bem feio, daqueles bem cabeludos, tipo pedra 90. Um palavrão que esvazia a gente por dentro de uma só vez. Porém, acabou ficando apenas na vontade. Só em pensar, eu devo ter perdido mais de mil calorias.

Gordo! Gordo! Saber que um dia eu fui magro e pensei que ser gordo era bom. O tempo é que era bom. Eu pensava e não sabia o que pensava.

Armando Melo de Castro
Candeias MG casos e acasos.


quinta-feira, 1 de março de 2012

A PERUCA DO CAPADOR DE PORCOS.


                                               ESTA CRONICA FOI TRANSFERIDA PARA O LIVRO DO MESMO NOME DO BLOG CANDEIAS MG CASOS E ACASOS.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

TOMANDO UM CLISTER



Foto apenas para ilustração

Entre os males que mais atormentam a vida das pessoas o pior deles é a doença. São tantos os tipos de moléstias que não se contam as doenças e sim os seus grupos. --- O CID: Classificação Internacional de Doença ---- Existe uma relação tão grande de doenças que muitas são totalmente desconhecidas pela maioria das pessoas. Umas são mais graves, outras menos e outras corriqueiras. Entretanto, por mais corriqueira que seja, incomoda muito. Quem nunca sentiu uma dor de dentes, não faz ideia do que seja uma dorzinha mais chata. Para certos segmentos, a dor de barriga não é uma doença. Eu entendo que a dor de barriga, ou seja, a diarreia é quase sempre um grande alívio para as pessoas que têm problemas de constipação intestinal.

 A constipação intestinal ou prisão de ventre é um mal que atormenta muitas pessoas. É sempre uma grande queixa feita aos médicos e nas farmácias. A medicina recomenda que o ideal seja uma pessoa evacuar duas vezes por dia. No entanto, existem pessoas que passam até uma semana sem ir ao banheiro. O interessante é que existem aqueles que, mesmo evacuando, normalmente, têm problemas de constipação intestinal, sendo necessário um grande esforço na hora de evacuar. ----

 Portanto, podemos entender que cada caso é um caso, tendo em vista as diversas causas desse terrível incômodo. Esse problema atinge mais as mulheres grávidas e aos idosos. Um dos principais motivos da constipação intestinal é a baixa ingestão de fibras, de pouca fruta, de verduras e de grãos, etc.

Quem sofre desse mal deverá tomar mais cuidado com a alimentação, evitando produtos que congestionam os seus intestinos. A própria pessoa vai descobrindo o que não lhe faz bem. Naturalmente, com a própria experiência diante da observação necessária.

Nos dias atuais, as coisas têm sido mais fáceis. Existem medicamentos eficazes que atendem essas necessidades. Tipos de clisteres mais modernos. Se bem que o uso constante de medicamento pode causar transtornos porque o organismo vai se acostumando com o remédio e esse passa a não fazer um efeito satisfatório. ---- Lembro-me de que antigamente eram vistos, em muitas casas em Candeias, dependurados nas paredes, um aparelho que tinha a função de resolver o problema de prisão de ventre.

O instrumento tinha o nome de Clister. Era uma coisa bem rudimentar e muitos eram até mesmo de fabricação caseira. Tratava-se de um recipiente de capacidade para uns dois litros, mais ou menos. Tinha o fundo em forma de um funil no qual era adaptada uma mangueira de um metro mais ou menos, com um bico injetor.

Preparava-se uma infusão onde eram misturadas plantas laxativas como a raiz de jalapa, azeite de mamona (óleo de rícino) e sal amargo. Fervia isso tudo, coava e colocava, ainda morno, nesse aparelho que muitos o tratavam de “chuca”. Este era posto numa posição alta, para dar queda ao líquido cujo bico era penetrado no ânus do doente colocado de bruços sendo tal ato, popularmente, chamado de lavagem.

A primeira vez que vi um instrumento desses foi pela janela de uma velha casa que existia próximo onde hoje é a clinica do Dr. Celso. A janela sempre aberta e aquela coisa dependurada na parede e eu perguntei ao meu pai o que era aquilo. Só de me contar para que servisse e como o funcionamento daquela geringonça, eu já quase sujei as calças de medo de um dia precisasse levar uma estocada daquilo no meu (...) – Seria muita humilhação para a minha reserva de dignidade.

Tempos depois, na esquina da Rua Coronel João Afonso com o Beco Belmiro Costa, onde hoje reside o Sr. Carminho Machado, existia a casa de propriedade do Sr. Quincas Guimarães. Tratava-se de um imóvel de aluguel. Durante muitos anos aquela casa teve diversos inquilinos e todos eles deixaram, em minha memória, muitas lembranças gravadas. Eu morava quase defronte e como vizinho próximo participava da vida dos moradores.

Certa vez, veio morar ali um casal de idosos, Sô Afonso e Dona Ritinha. Ele baixo, carrancudo, grosso, meio careca, barba crescida e cara fechada, pescoço curto e um sorriso contrafeito. Ela magra, cabelos curtos, rosto cheio de rugas, um óculos fundo de garrafa, sorridente, comunicativa e amiga de toda a vizinhança.

Sr. Afonso era carrancudo e tinha sérios problemas com constipação intestinal. Aliás, a cara dele já seria como identidade de alguém encalhado. Já havia tomado de tudo e nada de melhorar. O velho já tinha uns dez dias que não desocupava os intestinos. Dentro de casa não tinha banheiro. E depois, não seria fácil para uma pessoa idosa usar um penico, uma coisa realmente complicada. Alguém já imaginou uma pessoa encalhada sobre um penico? Ah! Viva a liberdade dos casais!!! Até o amor sai correndo!

Existia uma latrina nos fundos do quintal, todavia, não havia como ele ir à noite, mesmo porque, tinha uma escada na saída da porta da cozinha que, praticamente, lhe impossibilitava de sair ao quintal. Essas dificuldades, sem dúvida, foram colaborando para que fosse ficando, a cada dia, mais difícil dar alívio ao triste mal-estar.

Sabe-se que de médico e louco todo mundo tem um pouco, diz o ditado popular. Assim, não faltou quem quisesse ajudar a dar alívio ao velho. ---- Aos domingos à tarde, depois da reza, descia um grupo de mulheres carolas. Dona Ester, Dona Joana do Galdino, Dona Maria do Zico, Dona Chiquinha e outras. Ao passar à frente da casa de Dona Ritinha, que já teria puxado conversa com todas essas senhoras, ela de pé, à porta, foi questionada por Dona Chiquinha, uma velha que morava no final da rua e era muito prestativa.

---Uai, Dona Ritinha, eu num tem visto a sinhora na igreja?

 ---Ah! minha fia, o Afonso num tá me dano forga!

 ---O que qui ele arrumô?

 ---Tem uns deis dia que tá intupido!

 ---Intupido! Coitado!

 ---Eu até to isperano o Quinzinho vim pra nóis levá ele no dotore! Tem uma duda quarqué. Ele num dispacha de jeito ninhum!

 ---Ah, Dona Ritinha, a sinhora vai tê qui dá uma lavage nele!

 --Lavage! Aquele trem que tem que infiá no...?

---É aquilo mesmo. Eu tenho lá in casa. Se quisé eu impresto.

 ---Mais o Afonso é muito isquisito, é capais dele num querê!

 ---Mais aí é pirigoso ele até morrê, Dona Ritinha! Eu vô traze o “chuca”. Aí a sinhora isprementa e resorvê o probrema.Eu insino a senhora direitinho cume que faz.

No outro dia, vi quando Dona Chiquinha chegou à casa de Sô Afonso levando o tal “Chuca” e explicando, em detalhes, como usá-lo. Eu, com a minha imaginação fértil de criança, fiquei imaginando o sofrimento do velho na hora que lhe enfiassem nele aquele bico. Mais tarde, eu e meu primo Vicente, ficamos fingindo que estava brincando debaixo da janela da casa deles só para escutar o barulho.

---Tira essa merda de dentro de mim, Ritinha, eu já num aguento mais não! Tá ardeno muito e quente.

Eu não fiquei sabendo a que tipo de merda ele se referia. Contudo, não me foi difícil imaginar o que realmente aconteceu dada à inexperiência de Dona Ritinha com o “chuca”: Foi merda pra todo lado, inclusive, nela.

Hoje, quando me lembro disso eu fico imaginando, o Sr. Afonso com todo aquele seu perfil de homem sério, carrancudo, machão, de bruços levando uma estocada no (...) “Tadinho” ai que dó!

Há quem diga: Bons tempos! Bons tempos! (Eu hein!?) Bom tempo é hoje que tem outros recursos e ir a um médico ou à farmácia não é caso de morte; temos banheiro dentro de caso e o pinico foi erradicado o clister que hoje mudou chamam-no de enema tem um bico mais educado é mais bem elaborado e tem outras serventias como na safadeza e no preparo cirúrgico. De qualquer jeito... Tô fora!

Armando Melo de Castro

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

LÁGRIMAS DE SANGUE



ESTE TEXTP FOI TRANSFERIDO PARA O LIVRO CANDEIAS MG CASOS E ACASOS.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O CACHORRÃO CAGÃO!

O MAIS ANTIGO AÇOUGUE DE  CANDEIAS

 

 

      ESTE TEXTO FOI TRANSFERIDO PARA O LIVRO CANDEIAS MG CASOS E ACASOS.

 


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O HISTORIADOR DA RALÉ


O celibato clerical não é um dogma da Igreja. Ele teve a sua origem por mais de 300 anos d.C. --- A Igreja Católica justifica o celibato como uma maneira de tornar o religioso mais próximo aos propósitos de Jesus Cristo. ---- Ora, meu Deus dos Céus! Isso para mim é uma grande piada. Que sejam celibatários aqueles que assim o desejarem... Mas que respeitem aqueles que querem servir a Cristo e sejam casados, pois com certeza seriam bons pais e bons maridos. Bons filhos que poderiam seguir a carreira religiosa dos pais, como acontecem em outros seguimentos religiosos. O Celibato, só se explica, para a conservação do patrimônio físico da Igreja. A meu ver, não existem outras razões.

---Certa vez eu postei no nosso Blog Candeias MG Casos e Acasos, um comentário sobre um sermão que eu teria ouvido do Padre Fábio de Melo, em defesa do celibato, quando ele teria dito que o celibato foi feito para eles, padres, e que as pessoas deveriam se preocupar mais com as suas vidas. Eu tive a impressão de que aquele reverendo não conhecia a lei de causa e efeito. ---- E diante do meu texto, recebi por isso, de uma leitora da cidade de Santo Antônio de Pádua, do Estado do Rio de Janeiro, não apenas um simples comentário, mas um e-mail agressivo onde essa senhora defendia não só o reverendo sacerdote em tela, mas sim todo o clero católico.

Era a minha interpelante, a senhora Ana Zélia Rodrigues que me enviou um e-mail contrário ao tema do texto, como também, uma agressividade sobre a minha pessoa levando-me a entender tratar-se de alguém extremamente fanático, o que conforme dizia o famoso cearense, Padre Cícero: “O fanatismo é o mal das religiões”. --- Aquela senhora ao ler o meu pensamento sobre o celibato manifestou-se a favor da fala do padre e não se conteve a dar a sua opinião, agredindo-me, enviando-me um e-mail quando falou pouco de si, limitando-se a dizer tratar-se de uma professora de 59 anos, privilegiada com a graça de Deus e na sociedade católica onde é participante ativa. Fez ainda, questão de realçar de que se trata de uma pessoa independente financeiramente.

O interessante é ela não se limitou a dar a sua opinião apenas sobre o texto que fazia referência apenas ao celibato. Ela fez questão de insultar-me falando e babando. --- Disse que os meus textos revelam um meio obscuro, ressalvando a minha afinidade com a ralé. Disse ser Católica, Apostólica Romana e que não consegue se omitir quando alguém ousa desdenhar a sua religião. Borbulhou outras pragas dizendo que uma pessoa que não respeita os padres, está faltando com o respeito com Jesus Cristo. Chamou-me de herege, ateu, e que deveria lavar a minha boca antes de falar algo sobre a sua amada Igreja Católica e que eu seria um historiador da ralé, desse Blog Candeias MG Casos e Acasos”.

Longe de mim qualquer intenção de refutar as opiniões que possam advir dos leitores que me honram lendo o nosso Blog. É de todo patente que qualquer exposição de ideias encontrará prós e contras. Portanto, eu recebo de bom grado qualquer crítica seja ela contrária ou favorável ao meu pensamento. Isso, com certeza, é a recompensa para quem pensa algo e tem a coragem de colocá-lo sob debate. Respeito qualquer juízo de valor que venha a ser feito sobre os meus escritos que jamais me levaram a pensar em ser membro de uma academia de letras. Cumpre-me, todavia, apresentar as minhas desculpas àqueles que não concordam comigo. Pois levo em conta a reciprocidade dos direitos.

Resolvo, portanto, me dirigir à Sra. Ana Zélia Rodrigues, aqui, através deste texto do Blog numa demonstração de que não tenho nada a omitir e que a sua manifestação em nada irá alterar o que penso.

Prezada Dona Ana Zélia Rodrigues:

Confesso-lhe que estou lhe abrindo uma exceção considerando que esse comportamento, sob a minha óptica, não se trata de uma atitude elegante, principalmente, relativa a pessoas com as quais não conheço e não convivo pessoalmente. ---- Pena que falou muito pouco de si. O seu intento foi realmente me censurar e condenar o meu texto. De si limitou-se a dizer muito pouco. O seu maior interesse foi desnudar a minha pessoa em defesa da sua ideologia religiosa a meu ver totalmente desencontrada. --- Pois bem! Na verdade, eu gostaria de conhecê-la melhor para que, assim, pudéssemos discutir o assunto de uma forma mais abrangente. Todavia, eu tenho uma grande certeza Dona Ana Zélia, é que estará enganada a meu respeito. Isso porque eu tenho sim uma religião, a mesma sua, só que não sou praticante e nem congrego. Não participo dos rituais religiosos, porque não sinto necessidade disso. Estou muito feliz, pois sinto que o Divino Espírito Santo reside em minha casa.

A maneira com que se referiu a minha pessoa foi como uma sentença oriunda do tribunal da sua consciência. Todavia, a senhora pode estar enganada. Aliás, eu tenho a certeza que está enganada. Mas, eu também tenho uma consciência que comporta um juízo e que, neste momento, me absolve, senão vejamos:

A senhora diz que sou um herege e que não tenho religião. Pois bem, quem me conhece sabe que eu não sou um herege e tenho uma religião onde fui batizado, crismado e representado catolicamente pela fé dos meus pais. Fui um assíduo congregado, mas o tempo me mostrou com decepções e contradições o meu desânimo religioso. Mas jamais abateu a minha fé celestial. Jamais duvidei da existência de Deus, de Jesus Cristo e a Mãe Maria. Conclui que a minha igreja está dentro de mim ou de um quarto de portas fechadas, como Cristo nos orientou no capítulo 6 de Mateus.

Eu acho que servir a Deus, não é amar os padres e nem pastores. Não são as religiões. Eu entendo que a senhora, pratica uma heresia maior do que a que me julga. O meu comentário se reduzia à minha opinião simplesmente sobre o celibato. Mas a senhora abriu um cenário muito maior na ânsia de defender o que não conhece bem.

O meu comentário se reduz a minha opinião sobre o celibato. O celibato clerical não é um dogma da igreja e a meu ver serve apenas para ocultar uma vergonha nos armários da igreja, vergonha que pode ser tratada de um homossexualismo deturpado, pecaminoso e vergonhoso. Muitos padres escondem-se dentro de suas batinas as suas tendências nem sempre religiosas. Sou contra, e isso é a minha opinião. Quem não concordar comigo, o problema não é meu. Eu não acho que os padres estão errados com relação ao celibato. A Igreja Católica sim, ela é que está errada a meu ver.

--- Eu tenho admiração por diversos padres. Nunca generalizei a coisa. Temos por exemplo, o Padre Zezinho, o Padre Antônio Maria e outros que mostram um verdadeiro trabalho de amor ao próximo. Mas não vamos negar que existem os pedófilos e os ladrões de dízimo e ofertas; e aqueles que vendem a sua voz por um alto preço.
A senhora me chama de historiador da ralé, de herege e ateu. Garanto para a senhora que eu não sou nada disso, senão vejamos:

Sendo uma professora está um tanto por fora do dicionário. A heresia significa ofensa, falta de respeito, a uma religião. Em momento algum eu desrespeitei os dogmas da Igreja apesar de não concordar com alguma coisa. Parece que a senhora pensa que o celibato é um dogma e não é. Chamou-me de ateu... Sem me conhecer... Será que esse comportamento justifica a Igreja Católica? O tratamento que recebo da senhora, seria aprovado pelos padres?

Historiador da Ralé! Essa ralé é explorada por diversos pastores e padres, que vivem no rádio e na televisão espalhados por toda a mídia sensacionalista como em seus altares nos seus sermões tendenciosos. A boa expressão é que usam as religiões para achacar os pobres ignorantes e humildes, criando mitos, purgatórios e causando transtornos emocionais aos que temem ao diabo e o inferno. --- O meu Deus está dentro de mim e não na boca daqueles que usam um canal de televisão ou os seus altares para fazer o mal orientado de idiota. Eu respeito a todas as religiões, desde que ela propague apenas o mundo celestial. Para mim minha ilustre senhora, heresia é se opor aos dogmas da igreja, mas insistir em seguir fielmente uma regra contra Deus, impedindo um homem de ser pai, pode, também, ser chamado de heresia. ----- Aquele que realmente ama o Filho do Carpinteiro não faz discriminação dentro de uma sociedade hipócrita. Jesus foi assediado pelos pobres que a senhora denomina de ralé. Contudo, Ele tratou toda essa gente com extrema dignidade. Ele, que nasceu pobre, veio, igualmente, para os ricos que o perseguiam desde o seu nascimento.

Sou contra o Celibato sim porque entendo que é um direito de qualquer ser humano acordar e discordar de algo. Devemos ter as nossas opiniões, as nossas ideias. Eu sou contra o celibato porque ele esconde crimes sexuais, esconde pecadores e afronta a Igreja de Cristo. Eu sou contra o celibato porque ele bate de frente com os princípios da própria Igreja que vive condenando os métodos contraceptivos e usa de uma forma muito mais agressiva ao princípio humano.

A responsabilidade de uma família é tão difícil que privar um homem de constituí-la é conceder-lhe um grande prêmio ou isentá-lo de um ônus importante para Deus. Ter filhos é viver carregado de obrigações, cercado de responsabilidades e sofrendo de cuidados. Não os ter é viver dentro de si, livre de preocupações, todo sossegado, a cabeça descansada e descomprometido com o sofrimento próprio do ser humano.

A política interna no catolicismo sobre o celibato é demagoga. Ela visa outros interesses além da evangelização. Pessoas sem nenhuma vocação sacerdotal ocupam espaço na Igreja Católica para se esconder da sua homossexualidade incubada. A cada dia que passa os problemas de pedofilia aumentam e essa história de padre não se casar para ficar à disposição da evangelização é pura balela.

-- A senhora diz que eu sou uma pessoa sem religião. Não. Não me considero sem religião. Sou cristão e qualquer igreja cristã me serve desde que não seja administrada por mercenários. Eu apenas não sigo as diretrizes de padres e pastores que não merecem a minha confiança. Todavia, acredito na existência e na exigência de bons religiosos que cumprem com louvor os ensinamentos de Jesus Cristo.
Sou adepto incontestável de Jesus Cristo e grande admirador da Obra da Criação. Venero um Deus que é Onipotente, Onisciente, Onipresente, Justo e Bom. Talvez, por uma ironia, deste contato, sou adepto fervoroso, há 74 anos, de Santo Antônio de Pádua desde quando integrei essa irmandade com apenas um ano de idade. Observei pela sua mensagem que se faz tratar-se de uma pessoa rica, materialista, seguidora de uma religião não por convicção, mas, por vaidade. Contudo, sem retratar a filosofia maior do mestre dessa Igreja, Jesus Cristo. --- Pode ser que a senhora traga apenso ao seu pescoço um crucifixo, entretanto, poderia estar trazendo, ao invés da cruz, um pequeno revólver ou uma forca em sua corrente de ouro. Infelizmente, suponho que a cruz não lhe seja o símbolo maior da cristandade e quanto ao seu coração, me parece estar vazio.

Dirijo-lhe algumas perguntas para finalizar minha resposta que não a faço como contestação, mas sim por uma exigência sua. Portanto, pergunte a sua consciência e essa, com certeza, fará a devida resposta se tenho ou não religião:

A senhora já deu banho, em uma pessoa idosa, abandonada pela família, esquecida em um quartinho de fundo de quintal, envolvida nas suas fezes causando extremo nojo em seus próprios filhos?

Eu já fiz isso Dona Ana Zélia e lhe confesso que não foi fácil. É preciso ter muito amor ao próximo. É necessário ter uma religião, não de padres e nem de pastores, mas, uma religião na qual o Cristo esteja no coração.

A senhora pegou um leproso acidentado e o colocou dentro de seu carro e para vê-lo atendido em um hospital foi preciso brigar, ameaçar e quase apanhar? E ainda ter que pagar do próprio bolso pelo tratamento precário que deram ao infeliz acidentado.

Eu já fiz e o faria de novo porque acredito que na Obra da Criação de Deus todos nós somos um prestador de serviço e se coube a mim esta tarefa, eu não fiz nada mais do que a minha obrigação.

A senhora já deu banho em algum defunto?

Eu já. Como membro da Sociedade de São Vicente de Paula, eu fiz isso por diversas vezes.

A senhora já salvou alguma vida?

Eu já. Existem três pessoas que se lembram de mim em todos os natais há mais de quinze anos, por lhes ter salvado a vida, quando acidentados, se esvaindo em sangue, enquanto todo mundo passava e não parava. Eu os socorri e, posteriormente, tive que lavar o meu carro com água de sal para tirar o forte cheiro de sangue. Eram pessoas desconhecidas e distantes do meu meio. Lembro-me que ainda tive que prestar contas à justiça por esse feito.

A senhora já perdeu algum parente acidentalmente?

Eu já. Perdi a minha primeira esposa, aos 37 anos de idade, em um violento acidente de carro, quando eu dirigia corretamente. Perdi, também, uma filha, de maneira trágica, ainda muito jovem, quando se suicidou vítima de uma depressão profunda e cruel. Foi, assim, diante de todo esse sofrimento que aprendi que Deus não estava nas igrejas e sim dentro de mim.

A senhora já adotou um afilhado mendigo?

Eu sempre, em todas as cidades em que morei eu adotei um mendigo, para visita-lo no dia do seu aniversário e no natal, quando levo-lhe um presentinho, e algo com referência ao dia.

O Santo padroeiro de sua cidade é Santo Antônio de Pádua.

A senhora, por acaso, sabe que em todas as primeiras terças feiras do mês, os irmãos de Santo Antônio, o seu padroeiro, distribuem pães em seu nome? Eu faço isso e jamais esquecerei. Faço desde quando comecei a trabalhar ainda com poucos anos de idade. Eu sou da sua irmandade desde 1 ano de vida.

Eu teria mais o que falar, dona Ana Zélia. Todavia, acredito que quando se dá com uma mão, deve se esconder a outra. Assim disse o Mestre.

Obrigado, Dona Ana Zélia Rodrigues. Valeu muito. Continue lendo as minhas historinhas. A ralé tem coisas interessantes. Umas tristes; outras bobas; algumas alegres. Porém, são histórias humanas e verdadeiras. Ah! Não se esqueça jamais que Jesus disse:

“Nem todo aquele que me diz “Senhor! Senhor!”, entrará no Reino do Céu”. Mateus 7.21

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
NB) Este texto não está sendo postado no Grupo Sou de Candeias com muito orgulho, devido o tema fugir as regras do Grupo.