José Orlando Vilela
Apesar de morarmos em pontos
diferentes da cidade, eu e Zé Orlando
fomos grandes amigos desde a nossa adolescência em Candeias. Fomos funcionários
do Clube Recreativo Candeense no princípio da década de 60, quando o clube
nesse tempo era animado, abria todos as noites para receber os sócios. Ali
funcionava o barzinho, num tempo que cerveja gelada e refrigerante não eram
muito fáceis, pois não existia, ainda, a CEMIG em Candeias. O Club teria
adquirido um balcão frigorífico, uma coisa rara, então, em nossa cidade. ---
Uma boa mesa de ping-pong; jogo de damas e baralho; para o jogo de buraco. No
mês de junho ensaio da “Quadrilha de São João” cujos marcadores eram os
senhores Geraldo Vilela e Alvino Ferreira. Um som muito especial para a época,
pois o Clube teria adquiro uma caixa de “Alta fidelidade” coisa recente, então,
no mercado. E além disso uma discoteca bastante atualizada. A minha tarefa era
o bar no dia-a-dia e preparar o salão para os dias de bailes, assim como suprir
de bebidas, encomendar as empadas para a Tereza do Candinho, a melhor empada do
mundo... e encerar o salão.
----- A tarefa do Zé Orlando era receber as
mensalidades dos sócios, para isso ele vivia correndo atrás dos sócios com a
sua pastinha na mão. E, também, o responsável pela discoteca ---
Naquele tempo uma música
ficava meses nas paradas de sucesso. E dentre a nossa discoteca esses cantores
eram os grandes sucessos. Roberto Carlos ainda não havia se destacado e ainda
não tinha nenhuma gravação dele na nossa discoteca. Mas podemos lembrar alguns
artistas já famosos: Claudio de Barros;
Nelson Gonçalves; Cauby Peixoto;
Edith Veiga; Teixeirinha; Agnaldo Timóteo surgindo; Miguel Aceves e o
grande sucesso americano The Platters
com a música Only You. – Orlando Dias com a música “Tenho ciúme de Tudo”
Esse era o cantor e a música preferida do Zé Orlando. Ele encomendou esse disco
ao Raimundo do Antero, que viajava para o Rio de Janeiro levando galinhas. O
dia que esse disco chegou, Zé Orlando parecia um menino que ganhou um sorvete.
---Lembro-me de quando a Nancy ia chegando, ele falava: La vem a Nancy com o seu
Only You, dela? Zé Orlando não era muito
chegado em músicas estrangeiras não...
Os sócios mais frequentes
cujos nomes eu me lembro eram Luizinho Bonaccorsi; Nestor Lamounier; Wandinho
do Américo; Antônio Macêdo; Gabriel Carlos;
Cristovão Teixeira e seu irmão Zé Antônio; Marley do Peruca; Titoco;
Caveirinha; Waldir da loja; Antônio Alves; Guilherme e Flavio Ribeiro; Galba
Moraneli e seu Irmão Tomé e tantos outros que seria muito difícil lembrar aqui
agora. ---- As moças mais lembradas eram Nancy do Zé Belarmino; Letícia;
Engrácia; Aparecida Fernandes; Bahia da farmácia; Magda Sena; Teré; e tantas
outras. --- As mulheres não precisavam ser sócias.
O Clube Recreativo Canadense
era um ponto de encontro muito agradável. Só não abria nas segundas feiras.
Quando faltava a luz da usina, o clube possuía um lampião a gás de 500 velas.
Tanto eu quanto o Zé Orlando
gostávamos do nosso trabalho. Tínhamos um salário igual de CR$ 600,00 cruzeiros
por mês. Mas, como o tempo sempre nos reserva surpresa, certo dia o Zé Orlando
chegou dizendo que seria o seu último dia de trabalho ali, pois teria
conseguido um emprego no banco Mineiro da Produção S.A. na Agência de Candeias.
Ele estava todo feliz e radiante. Restou-me desejar-lhe muita felicidade no
novo trabalho, e eu assumi agora o seu lugar também. O meu salário dobrou, mas
o serviço também dobrou. Eu feliz por ter sido promovido no Clube e ele feliz
porque iria ser bancário. Posteriormente, eu também vim a ser funcionário do
Banco Mineiro da Produção S.A em Divinópolis e ele na cidade de Lagoa da Prata,
voltamos a ser empregados do mesmo patrão, na mesma região 10 anos mais tarde. Posteriormente
Zé Orlando fez um acordo com o Banco e voltou para Candeias, onde se
estabeleceu com um bar e veio a ser Juiz de Paz.
Quando encontrávamos, o que
perguntasse primeiro como o outro estava, a resposta era a mesma para os dois: Estou
pobre de dinheiro, rico de amor e bonito. Zé Orlando era muito inteligente. Tínhamos
algo em comum: éramos conservadores. E
aprendemos muito um com o outro durante a nossa convivência. Tomamos
muitas cervejas juntos; bebemos muitas pingas; contamos muitas piadas; falamos
de futebol e de mulheres; de trabalho e da vida alheia; Nunca nos faltou
assunto quando nos encontrávamos. Na internet trocávamos muitas informações.
Poucos dias antes dele ser chamado por Deus, ainda tivemos contato.
Eu sei o quando ele sofreu com
a sua viuvez, com a perda de seu pai e sua mãe. Era uma pessoa bastante
sensível e bom. Foi um grande amigo meu. Numa emulação ao poeta Vinícius de
Morais, eu diria que eu tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos...
E você meu caro Zé Orlando, onde quer que esteja, pode crer você foi um amigo
que não imaginava o quando você era meu amigo.
Tomei conhecimento da sua
partida para a espiritualidade e levei um susto, isso porque aconteceu num
momento em que eu procurava você para
fazer-lhe uma pergunta na internet e encontrei essa notícia.
Onde quer que esteja receba o
meu abraço. Amigos como você não morrem eles apenas devolvem o corpo à terra e
voltam para junto de Deus.
Armando Melo de Castro.
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