Nas minhas caminhadas, pelos arredores da nossa cidade de Candeias, fiz passagem por uma rua de poucas casas. Uma viela que toma todo o seu lado direito pelo Cemitério São Francisco e do lado esquerdo, estão às poucas casas residenciais. ----- Trata-se da Rua Nicodemos Salviano.
Eu não conheço o critério usado pela Câmara de Vereadores de Candeias no momento de escolher uma rua a quem vai dar o nome de um cidadão merecedor desse ato de veneração e respeito. Mas, entendo tratar-se de um fato relevante, mesmo porque, isso envolve todo um processo de reconhecimento ao homenageado pelos serviços prestados a sociedade, sem esquecer o atributo de personalidade idônea.
O cidadão comum, na posteridade, esteja certo
ou errado, queira ou não queira, verá na representatividade da rua a equivalência
da homenagem.
Ainda que os políticos vivam considerando
diferenças dentro das desigualdades, como também, das igualdades e buscando
desculpas de que o conceito sobre a igualdade, de Rui Barbosa, é jurídico, não
interessa. Sabemos que a desigualdade social é patente em todos os pontos e é
inerente à vida. Portanto, seria de bom alvitre os senhores políticos atinarem
pela lição de igualdade que Rui Barbosa deixou para os cidadãos brasileiros:
“A regra da igualdade não consiste senão em
quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta
desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a
verdadeira lei da igualdade... Tratar com desigualdade a iguais, ou a
desiguais, com igualdade, seria desigualdade flagrante e não igualdade real.” (Rui Barbosa -
Oração aos Moços).
Pelo que representa o nome
do empresário, Nicodemos Salviano, para a história de Candeias, entendo que a
lembrança de tomar o seu nome para colocá-lo numa rua, por parte dos
representantes do povo candeense, na Câmara Municipal, foi justa, muito justa.
Mas a escolha da rua não teve um critério judicioso. A Câmara não usou de
equidade ao escolher a rua onde estaria cravado o nome de um cidadão como
poucos na história de Candeias.
Esse ponto de vista não visa ferir a
essencialidade da rua. Apenas busca elevar o merecimento do homenageado no
sentido de fazê-lo mais evidente.
Portanto, peço desculpas aos senhores moradores da Rua Nicodemos Salviano.
Portanto, peço desculpas aos senhores moradores da Rua Nicodemos Salviano.
Nicodemos Salviano, o popular candeense tratado
pelos amigos de Nico Pacheco, nasceu no dia 04 de abril de 1895, em Candeias.
Filho único de Antônio Rodrigues Salviano e Maria Eufrásia de Jesus.
No seu tempo, não havia em Candeias nenhuma
escola regular. Portanto, foi educado pelo então pároco, Padre Américo
Brasileiro, homem de profunda cultura com quem aprendeu a ler, escrever e
adquiriu conhecimentos básicos, além de aprender línguas, entre elas, latim,
espanhol e francês. Estudou, também, com o Padre Américo, a arte da música, o
que lhe fez ser grande apreciador da música clássica e um louvável pistanista
da Corporação Musical de Candeias, da sua época.
Em 1922, após acordo de seu pai com o Sr. Antonino Basílio de Azevedo, da cidade de Itapecerica-MG, casou-se com Dona Zita Bemaventurada dos Santos que contava à época 16 anos, sendo ele onze anos mais velho que ela. Tiveram vários filhos, dos quais, onze sobreviveram. São eles:
------Zizica – Aparecida – Terezinha - Antônio - Alba - Santa – Agda -- Nicodemos
- Zitinha - Raimundo e Rosália.
Começou a vida como carpinteiro, porém, no decorrer do tempo, realizou vários empreendimentos, muitos ao mesmo tempo. Destacam-se, entre eles:
Olaria, no lugar denominado Cachoeirinha;
Exploração de jazidas de calcário, nas comunidades de Trindades e Bugios;
Fabricação de farinha de mandioca;
Fabricação de farinha de milho;
Beneficiamento de arroz;
Moinho de Fubá;
Torrefação de café da marca “Café Ene Esse”; (NS)
Fabricação de ladrilhos hidráulicos;
Fabricação de móveis;
Fabricação de urnas funerárias;
Fabricação de bancos de cimento; --- existentes, ainda, nas Praças de Candeias ---.
Fabricação vigas e pré-moldados;
Revendedor de material para construção, inclusive cimento.
Em 1922, após acordo de seu pai com o Sr. Antonino Basílio de Azevedo, da cidade de Itapecerica-MG, casou-se com Dona Zita Bemaventurada dos Santos que contava à época 16 anos, sendo ele onze anos mais velho que ela. Tiveram vários filhos, dos quais, onze sobreviveram. São eles:
Começou a vida como carpinteiro, porém, no decorrer do tempo, realizou vários empreendimentos, muitos ao mesmo tempo. Destacam-se, entre eles:
Olaria, no lugar denominado Cachoeirinha;
Exploração de jazidas de calcário, nas comunidades de Trindades e Bugios;
Fabricação de farinha de mandioca;
Fabricação de farinha de milho;
Beneficiamento de arroz;
Moinho de Fubá;
Torrefação de café da marca “Café Ene Esse”; (NS)
Fabricação de ladrilhos hidráulicos;
Fabricação de móveis;
Fabricação de urnas funerárias;
Fabricação de bancos de cimento; --- existentes, ainda, nas Praças de Candeias ---.
Fabricação vigas e pré-moldados;
Revendedor de material para construção, inclusive cimento.
O Grupo Industrial do senhor Nicodemos
Salviano, formado por diversas pequenas empresas, tinha como sede a Rua
Salatiel de Carvalho, 84, e funcionava nos galpões, até hoje lá existentes, já
em estado precário, numa área ligada com a sua residência.
Nicodemos foi também dedicado à política do
Município, desde os tempos em que Candeias era distrito de Campo Belo.
Ocupou cargos públicos como juiz de paz e delegado de polícia. Membro de
diretório e candidato ao cargo de vice-prefeito, na década de 50.
Autodidata que nunca parou de estudar.
Gostava de inventar coisas e aprendeu a profissão de construtor tendo adquirido
o registro no CREA sob nº. 138. Com essa especialidade, construiu inúmeras
casas em Candeias muitas das quais ainda existem na sua forma original.
Foi um grande amigo e braço direito, para muitas obras, do Monsenhor Joaquim de Castro. Junto a ele, construiu o cinema de Candeias e, mais tarde, dirigiu a sua reforma transformando-o no prédio que ainda hoje existe, quase na sua forma original.
Foi um grande amigo e braço direito, para muitas obras, do Monsenhor Joaquim de Castro. Junto a ele, construiu o cinema de Candeias e, mais tarde, dirigiu a sua reforma transformando-o no prédio que ainda hoje existe, quase na sua forma original.
Sob a orientação do Monsenhor Castro, reuniu
um grupo de amigos, entre eles Sebastião Salviano e Antônio Freire, quando
fundaram o Círculo Operário São José que tinha por objetivo unir e apoiar a
classe operária, tendo sido o seu primeiro tesoureiro.
Foi o construtor das primeiras casas da Vila
Vicentina. Foi também o responsável pela construção da Santa Casa de Candeias,
instituição que não se concretizou, além de muitas outras construções, algumas
já demolidas e outras ainda de pé, como o prédio do Bar Piloto.
Enfrentou o seu maior desafio ao dar início à
reforma da antiga Matriz de Candeias. Dirigiu os primeiros trabalhos e ficou à
frente da construção da nova Matriz até por volta de 1965. Desgostoso com o
rumo que as obras tomavam, adoeceu e veio a falecer, em 19 de fevereiro de
1970, dois anos após a morte de seu grande amigo e confessor Monsenhor Castro.
Alguns casos pitorescos, lembrados por seus filhos e narrados por sua neta materna, Clara Salviano Borges:
Conta-se que ele estava trabalhando na casa
de uns franceses que aqui residiam. A mulher, com medo de que ele fosse uma
pessoa desonesta, guardou o relógio de ouro do marido. Esse, ao procurar pelo
relógio, perguntou a ela, em francês, se ela tinha visto o objeto. Nicodemos
respondeu, também em francês, que ela o havia guardado, deixando os dois sem
graça.
Diz-se que o Monsenhor possuía uma mula que
só deixava o dono montá-la. Aí, meu avô vestiu a batina do padre e montou,
enganando o animal.
Ele inventou uma tinta para caneta (usava-se
apenas canetas tinteiros na época), feita de amora. Ensinou o segredo apenas
para o Sr. Cristovam Alvarenga e não deixou registro da invenção que acabou se
perdendo.
Outra tia contou dois casos: ele tinha um
amigo que morava em uma rua, mais abaixo da sua casa, e, quando o amigo
passava, os dois se comunicavam através de assobio, dizendo frases inteiras por
esse meio, se entendendo perfeitamente. E com sua veia de inventor, comprou,
certa vez, um automóvel velho da marca Ford que desmanchou para aproveitar
peças e, com um pedaço, fez a porta do forno de fogão à lenha que ainda está
inteira no mesmo local.
Nicodemos Salviano dedicou toda a sua vida à
sua terra natal. Aqui nasceu, viveu e morreu. ---- Nasceu, quando Candeias,
estava longe de ser uma cidade. Era uma vila sem recursos e sem expectativas,
pois, somente em 1938, aconteceu a emancipação do Município, contando,
inclusive, com o seu esforço como um dos aliados do emancipador, Dr. Zoroastro
Marques da Silva.
Constituiu a sua família com dignidade. Os
percalços da vida sempre foram enfrentados quando amparado por uma
religiosidade fiel. Sempre de mãos em punho para a luta e colocando sempre a
sua inteligência à prova.
Dado à sua autoridade moral e ao seu
comportamento lhano era também conselheiro. Muitos pediam o seu conselho, nos
momentos de dúvida.
Infelizmente, as empresas do senhor Nicodemos
Salviano não subsistiram após a sua morte depois de terem servido a nossa
cidade, durante muitos anos.
Quem passar pela Rua Salatiel de Carvalho
poderá ver o cenário do que restou, depois de uma longa história de muitos
ideais. Trata-se da obra do tempo. O tempo, esse ácido que mata virtudes e
ironiza destinos, que transforma a matéria, brinca com a imensidão e corrói a
vida em troca da morte.
Os escombros do velho galpão onde funcionava
a máquina de beneficiar arroz e a marcenaria. Ali se fabricava de tudo, inclusive
urnas funerárias, aquelas de modelos antigos, envolvidas num tecido roxo.
Antônio, o filho do Nicodemos, estava sempre ali produzindo aqueles caixões
mortuários, quando falecia alguém.
Do lado de fora, está o engenho de serra
carcomido pela ação do tempo, parado e ainda contendo a serra fita, como se
estivesse esperando alguma tora para serrar.
Ao lado, está o barracão destinado à fábrica
de bancos e ladrilhos dando frente para o pátio de secagem dos produtos e
outras atividades.
Num canto contíguo, está o galpão da
torrefação do Café Ene Esse. Uma das primeiras marcas de café torrado e
empacotado da nossa região. Muitas pessoas viram, pela primeira vez, esse tipo
de produto através do “Café Ene Esse”, popularmente, tratado de “Café do
Sô Nico”.
Um cenário triste para quem se lembra da
movimentação existente naquele local, hoje com o silêncio das máquinas e o
cessar dos martelos.
Naquela área restrita, havia lugar para tudo
e se não tivesse, ou se inventava ou se arranjava.
A família, como base fundamental da
sociedade, faz nascer de si valores que dão guia à vida das pessoas. Portanto,
é dela que nasce o líder que se coloca disposto, não só pela necessidade de
pertencer a ela, mas para servi-la. E é assim que consigo ver você, Nicodemos
Salviano. A singularidade do seu modo de vida e a contribuição que você deu à
história de Candeias, o faz ilustre. Portanto, hoje, lembramos você e
escrevemos aqui para que as pessoas que não lhe conheceu possam saber quem foi
você. Um nome digno de respeito e que escreveu um maravilhoso capítulo da
história de Candeias.
Obrigado, Sô Nico! Obrigado por Candeias!
Armando Melo de Castro
Candeias – Minas Gerais
Armando Melo de Castro
Candeias – Minas Gerais
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