Todas as manhãs por volta
das sete horas, após me levantar e tomar o meu café, abro a janela da minha
sala que dá para a rua e cá de cima do quarto andar, fico olhando o que se
passa na rua, como se tivesse num camarote assistindo um teatro da vida real.
Vejo o sobe e desce de
alunos e professores da escola que existe lá em cima na ponta da rua; também
vejo os operários assentados na entrada de uma grande construção ao lado do
prédio onde eu moro, aguardando o momento de entrar para o serviço; vejo a mexida dos porteiros e faxineiros do chamado prédio
do Itamar Franco (Prédio onde morou o ex-presidente da República) tomou esse
nome por ter sido a morada do politico famoso.
Afinal a minha falta de
compromisso me faz com que eu passe a conhecer cá de longe quem sobe e desce
apenas de vista. Enquanto tomo o meu solzinho daqui da janela vou apreciando o
movimento da rua e convivendo com ele. Enfim, fazendo daqui da janela do meu
aposento o que um aposentado sempre faz: Nada!
O que sempre me atraiu neste
convívio matinal com a rua onde eu moro, é um senhor de estatura média, meio
careca e com cara de quem conta os seus oitenta e tantos anos. ---- Ele todos
os dias subindo a rua acompanhando uma cachorrinha que vinha sempre à sua
frente uns três ou quatro passos. ---- A cadelinha, naturalmente adestrada não adiantava
os passos, considerando os passos trôpegos do velho à medida que o nível da rua
fosse ganhando elevação. E se ele parasse para conversar com alguém ela voltava
e se acomodava ao seu lado.
A pontualidade desse senhor
para passar diariamente pelos meus olhos era tão grande que eu passei a ter
hora marcada para abrir a janela e apreciar o convívio dele com o animalzinho.
O fato levou-me um dia descer à rua e puxar conversa com aquele senhor e saber
o seu nome: Antenor, o nome dele. E a cachorrinha uma poodle branca, pequenina,
muito bem cuidada e nome “Flor”, ---- Flor era conhecida por todos os moradores
da rua.
Até que um dia do mês de
janeiro, ambos sumiram das minhas vistas. Eu abria a janela na esperança de
vê-los passar, mas não os via. Mês passado eu o vi passar sozinho. --- Desci
quase correndo até a rua no intuito de perguntar aquele senhor onde estava a
sua cachorrinha. E ele com lagrima nos olhos, contara-me a história:
Eu fui à praia em Cabo Frio
em janeiro com a minha família. Levamos a flor. Lá ela adoeceu. Já era idosa e
tinha um probleminha de coração. Foi levada para o hospital onde ficou
internada. Assim que teve uma melhora, o veterinário a liberou para a viagem,
viemos embora.
Chegando aqui em Juiz de Fora, imediatamente eu a levei ao
hospital veterinário ela fez exames e foi liberada. Assim, que cheguei a Casa,
ela morreu. Morreu como um passarinho.
Deu dó ver os olhos de o
velho Antenor lacrimejar. Não lágrimas propriamente dos olhos, mas sim lágrimas
do coração. Parecia que havia perdido um filho. ---- Diante daquele cenário,
os meus olhos também reclamaram pela ausência daquela flor em forma de um
animal. Eu sentira, naquele momento um grande pesar.
Posteriormente, por poucas
vezes pude ver o velho Antenor subir a rua, agora sem a sua “Flor” daqui de
cima eu lhe acenava com a mão no que era correspondido. Um aceno triste de quem
está fustigado pelas chicotadas do tempo.
Ontem, quando passava pela
barraca de frutas existente na esquina, perguntei ao fruteiro, se não teria
visto passar por ali o Sr. Antenor, e a resposta foi chocante: “Ele morreu!
Você não soube?! A filha dele disse que desde que a cachorrinha dele morreu
nunca mais ele esteve bem... Coitado"
Finalizando, concluo que ter um
animal de estimação é ter uma fonte de amor bem viva dentro de nós. Os animais
não se cansam de amar os seus donos e não pedem nada em troca. E se a morte
busca esse animal a fonte de amor continua plantada dentro da gente. É o mesmo
que criar um filho dependendo do nosso carinho e do nosso amor.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
2 comentários:
Uma bela história,Armando,tive também um cachorrinho que me esperava na porta de casa todos os dias,viveu 12 anos me dando muitas alegrias
👍💚
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