Minha mulher amanheceu hoje
dizendo da necessidade de ir ao supermercado buscar reforços para a nossa
dispensa, porque o coronavírus vai arrasar. Dai a preocupação dela comentando: “Na
Itália estão todos em casa; na China já morreram tantos; O Zema já trancou as
escolas; o Bolsonaro falou isso... E mais isso e mais aquilo”.
Sinceramente eu até lamento
não comungar com essa preocupação. Mas não consigo e chego à conclusão de que o meu mundo foi outro. Nele não tinha internet; não tinha
televisão; não tinha Jornal da Globo, e nem da Record... A fonte de notícia mais
importante era o Repórter Esso, um noticiário radiofônico de 5 minutos de hora
em hora. Era tão rápido que os ouvintes tinham que ficar com o ouvido no rádio
e às vezes na hora da notícia parecia que o vento levava a voz do locutor e se
perdia parte da notícia. Além disso, eram poucas as pessoas que possuíam um
rádio. O rádio era um aparelho caro e valvulado, não existiam os rádios
portáteis transistorizados.
Diante dessa mexida
frenética a respeito do coronavírus eu fico pensando que o medo é pior que
qualquer doença; e me recordo que fui criado já esperando as chamadas doenças
do tempo, todas contagiosas. Não havia vacinas, se haviam não chegavam ao
povão. Varicela, catapora, caxumba, sarampo, coqueluche, doenças que deixavam
sequelas e matavam se não fossem tratadas cuidadosamente. Para cada uma tinha
um tipo de repouso. Eu tive todas elas. Mas já as esperava. A caxumba era a que
mais assustava e preocupava; eram dois inchaços que davam debaixo das orelhas
que tinham que ser protegidos, caso contrário baixava para o saco escrotal e o cristão ficava castrado sem poder futuramente gerar filhos. –----
A catapora era uma varicela mais leve, mas cobria o corpo da gente de pereba deixando cicatrizes para o resto da vida. Eu tenho até hoje as marcas da catapora. As marcas da varicela eram ainda maiores. A coqueluche era uma tosse que leva o filho de Deus a perder o fôlego e ficava até roxo, era preciso às vezes enfiar o dedo na garganta do doente, para puxar o catarro. O sarampo o doente deveria ficar preso dentro de um quarto sem tomar vento. Eu tive todas essas doenças.
A catapora era uma varicela mais leve, mas cobria o corpo da gente de pereba deixando cicatrizes para o resto da vida. Eu tenho até hoje as marcas da catapora. As marcas da varicela eram ainda maiores. A coqueluche era uma tosse que leva o filho de Deus a perder o fôlego e ficava até roxo, era preciso às vezes enfiar o dedo na garganta do doente, para puxar o catarro. O sarampo o doente deveria ficar preso dentro de um quarto sem tomar vento. Eu tive todas essas doenças.
Não podia ir à escola e o
aluno costumava ficar tão prejudicado que perdia o ano, pois naquele tempo não
havia recuperação nas escolas. --- Isso sem falar daquelas mais perigosas: A
varíola; a tuberculose e a lepra. Todas contagiosas. Na rua onde houvesse um
tuberculoso as pessoas tinham medo até de passar por ela. Só existia a vacina
para varíola. Essa vacina causava duas feridas terríveis no braço de quem a
tomava. ---
No mais, eram comuns os
problemas de garganta e ouvido. Garganta era curada com gargarejo de água de
sal grosso; ouvido era dente de alho e azeite de mamona; Gripe chá de laranja
com sal e limão da china. --- Como cada gripe altera o vírus, cada uma levava o
nome de uma pessoa importante que tivesse contraído o vírus. Uma gripe brava em 1963 tomou o nome Maria Tereza, a esposa do então Presidente da
República, João Goulart.
Para intestino preso eram
várias as opções; Não existia “Lactopurga” e sim purgantes de sal amargo, sal
de Glauber ou raiz de jalapa. ----- Uma vez por ano tomava-se um lombrigueiro
feito de semente de abóbora ou de bucha. Comia aquela farofa às quatro horas da
manhã e algum tempo depois tomava um purgante daqueles. Nesse dia o cristão não
saia de casa.
O chamado intestino entupido
era mais grave, quando chupava jabuticaba com caroço, principalmente aquelas do
caroço grande. Elas não prendiam apenas os intestinos, elas causavam um
entupimento terrível no cristão.
Para adultos era usado o clister
que também era chamado de lavagem. Consistia em injetar um chá morno nos
intestinos do filho de Deus, através do fiofó, até ele se borrar todo.
Para as crianças era uma
bombinha de borracha injetada com água no mesmo lugar. ---- Eu me lembro, certa vez eu chupei
jabuticaba à vontade, daquelas do caroço bem grande, nada me desentupia, e eu
fui crucificado com uma bombinha de borracha daquelas só de lembrar eu me
estremeço. Enfim, Toda mãe de família era uma técnica em fitoterapia, ministrava e receitava chás dos mais diversos e curava as doenças. Pouco se ia numa farmácia. Ah! Ia me esquecendo. Nesse tempo tinha um tal de andaço. Seria uma pequena epidemia.
Armando Melo de Castro.
Candeias MG Casos e Acasos.
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