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quinta-feira, 5 de março de 2020

ERA UMA FLOR, ERA UMA CACHORRINHA!


 Todas as manhãs por volta das sete horas, após me levantar e tomar o meu café, abro a janela da minha sala que dá para a rua e cá de cima do quarto andar, fico olhando o que se passa na rua, como se tivesse num camarote assistindo um teatro da vida real.

Vejo o sobe e desce de alunos e professores da escola que existe lá em cima na ponta da rua; também vejo os operários assentados na entrada de uma grande construção ao lado do prédio onde eu moro, aguardando o momento de entrar para o serviço; vejo a mexida dos porteiros e faxineiros do chamado prédio do Itamar Franco (Prédio onde morou o ex-presidente da República) tomou esse nome por ter sido a morada do politico famoso.

Afinal a minha falta de compromisso me faz com que eu passe a conhecer cá de longe quem sobe e desce apenas de vista. Enquanto tomo o meu solzinho daqui da janela vou apreciando o movimento da rua e convivendo com ele. Enfim, fazendo daqui da janela do meu aposento o que um aposentado sempre faz: Nada!

O que sempre me atraiu neste convívio matinal com a rua onde eu moro, é um senhor de estatura média, meio careca e com cara de quem conta os seus oitenta e tantos anos. ---- Ele todos os dias subindo a rua acompanhando uma cachorrinha que vinha sempre à sua frente uns três ou quatro passos. ---- A cadelinha, naturalmente adestrada não adiantava os passos, considerando os passos trôpegos do velho à medida que o nível da rua fosse ganhando elevação. E se ele parasse para conversar com alguém ela voltava e se acomodava ao seu lado.

A pontualidade desse senhor para passar diariamente pelos meus olhos era tão grande que eu passei a ter hora marcada para abrir a janela e apreciar o convívio dele com o animalzinho. O fato levou-me um dia descer à rua e puxar conversa com aquele senhor e saber o seu nome: Antenor, o nome dele. E a cachorrinha uma poodle branca, pequenina, muito bem cuidada e nome “Flor”, ---- Flor era conhecida por todos os moradores da rua. 

Até que um dia do mês de janeiro, ambos sumiram das minhas vistas. Eu abria a janela na esperança de vê-los passar, mas não os via. Mês passado eu o vi passar sozinho. --- Desci quase correndo até a rua no intuito de perguntar aquele senhor onde estava a sua cachorrinha. E ele com lagrima nos olhos, contara-me a história:

Eu fui à praia em Cabo Frio em janeiro com a minha família. Levamos a flor. Lá ela adoeceu. Já era idosa e tinha um probleminha de coração. Foi levada para o hospital onde ficou internada. Assim que teve uma melhora, o veterinário a liberou para a viagem, viemos embora.

Chegando aqui em Juiz de Fora, imediatamente eu a levei ao hospital veterinário ela fez exames e foi liberada. Assim, que cheguei a Casa, ela morreu. Morreu como um passarinho.

Deu dó ver os olhos de o velho Antenor lacrimejar. Não lágrimas propriamente dos olhos, mas sim lágrimas do coração. Parecia que havia perdido um filho. ---- Diante daquele cenário, os meus olhos também reclamaram pela ausência daquela flor em forma de um animal. Eu sentira, naquele momento um grande pesar.

Posteriormente, por poucas vezes pude ver o velho Antenor subir a rua, agora sem a sua “Flor” daqui de cima eu lhe acenava com a mão no que era correspondido. Um aceno triste de quem está fustigado pelas chicotadas do tempo.

Ontem, quando passava pela barraca de frutas existente na esquina, perguntei ao fruteiro, se não teria visto passar por ali o Sr. Antenor, e a resposta foi chocante: “Ele morreu! Você não soube?! A filha dele disse que desde que a cachorrinha dele morreu nunca mais ele esteve bem... Coitado"

Finalizando, concluo que ter um animal de estimação é ter uma fonte de amor bem viva dentro de nós. Os animais não se cansam de amar os seus donos e não pedem nada em troca. E se a morte busca esse animal a fonte de amor continua plantada dentro da gente. É o mesmo que criar um filho dependendo do nosso carinho e do nosso amor.

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.

2 comentários:

Unknown disse...

Uma bela história,Armando,tive também um cachorrinho que me esperava na porta de casa todos os dias,viveu 12 anos me dando muitas alegrias

Ernesto Castanha disse...

👍💚