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segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A MORTE DE UM PORCO.



Quem contabiliza tantos janeiros, assim como eu, tem a oportunidade de ver como a vida da gente muda enquanto o mundo se transforma sobre as nossas vistas e ao nosso redor. Eu, no decorrer da minha existência, tenho observado essas mudanças à medida que o tempo vai passando. A cultura se transforma com o progresso natural que a vida impõe. Uns ficam pobres e outros ficam ricos. A morte leva uns e o nascimento traz outros. O comportamento das pessoas vai se modificando de geração para geração. E quando olhamos para traz podemos sentir que o mundo em que nascemos tem pouco a ver com o mundo no qual estamos vivendo.

Matar um porco em casa, no passado, por exemplo, era como se fizesse uma festa. Mas, podia, também, se transformar num mal-estar, numa indisposição.

Não era proibida a criação de porcos nos terreiros, na cidade. Muitas pessoas faziam de seus quintais, na cidade, uma verdadeira chácara. Tinham um chiqueiro; um galinheiro e um cercado para horta.

Muitos criavam um porco de sociedade o que se chamava “à meia” o que quer dizer: um dava o leitão e o outro o criava a seu custo e depois partiam o animal morto. ----

Isso costumava dar confusão e até inimizades, uma vez que o criador do animal se comprometia com os vizinhos o fornecimento de lavagem (restos de comida) e em compensação lhe daria um pedaço de carne na ocasião da matança do porco, na divisão queria debitar metade desse agrado, em forma de retribuição ao sócio que teria fornecido o bácoro para o capado, o qual dificilmente concordava.

De outra forma o fornecedor da lavagem, também, costumava reclamar ou sair falando do pequeno tamanho ou da qualidade do pedaço ganho.

Acontecia, também, muita reclamação entre a vizinhança pela demanda no fornecimento de lavagem. Havia aqueles criadores que davam um pedaço de carne maior e melhor, ao contrário daquele mais “pão duro”, portanto, isso incentivava a preferência.

Outra questão que, às vezes, surgia, era a reclamação do criador do animal, que sempre com o intuito de querer levar vantagem colocava defeito no animal que teria recebido para criar. --- Uma hora o bicho era roncolho; noutra hora o bicho teria vindo para os seus cuidados com uma caganeira difícil de ser contornada; falavam-se, também, da linhagem ruim do animal, sempre na hora da partilha.

Na lambança com que eram criados esses porcos tanto na cidade como nas roças, fazia com que eles fossem portadores e transmissores de lobrigas e vermes, principalmente uma tal de solitária, um verme que diziam subir para a cabeça levando a pessoa à morte; como também as canjicas que portavam os vermes perigosos, que não eram eliminados pelo calor do cozimento.

A mesma diferença que podemos contar com um frango caipira, com os de granja, podemos, também, fazer a comparação com os porcos. Hoje esses porcos brancos de granja, não podem ser comparados com os antigos, Canastra, o maior; o Piau que era o médio e o carunchinho que não passava de quatro arrobas, cujas carnes tinham um sabor diferenciado.


Hoje, a criação de porcos na cidade foi proibida. Acabou, portanto, o fornecimento de lavagem; o mau-cheiro dos chiqueiros foi embora juntamente com as solitárias e as canjicas. Mas o cheiro da carne daquela lambança ficou na lembrança, ficou na saudade!


Armando Melo de Castro.


3 comentários:

roberto disse...

meu DEUS este texto fez eu voltar a infancia vivi isso até as raças do animal eu lenbrei!!!!

ROBERTO disse...

meu DEUS VC ME TROUXE NO MEU PASSADO,NA MINHA INFANCIA,PARABÉNS PELO TEXTO!!!!

roberto disse...

Lembrei de minha infância!Fiquei emocionado!]