Total de visualizações de página

terça-feira, 3 de setembro de 2019

O SABUGO DE MILHO.


O uso de banheiros dentro das casas teve início antes de Cristo. ---- Na Índia foram encontrados vestígios dessas construções em escavações arqueológicas. ---- Na Grécia neste mesmo tempo as residências não contavam com banheiros dentro de casa. Os gregos preferiam se aliviar ao ar livre.

Na Roma antiga, foi muito comum o uso de penicos. Os romanos faziam, também, as suas necessidades em público, quando estavam fora de casa, junto às térmicas.

Os banheiros começaram a ser destacados na Europa em 1668, em virtude de um decreto emitido pelo Comissariado de Polícia francês, de Paris, determinando que as casas construídas a partir daquela data, na cidade, deveriam ter um cômodo destinado ao banheiro.

Mas e em Candeias? Quando começaram a surgir os banheiros dentro de casa? Não faz tanto tempo como aconteceu na França. Lembro-me de ver aquela “casinha” nos quintais de quase todas as moradas. Até mesmo as poucas residências que possuíam banheiros dentro de casa, tinham uma latrina no quintal, isso porque era constante a falta d’água. O fornecimento do líquido precioso era da prefeitura e muito precário.

Lembro-me de ver na venda do Zé Chorão, na Rua Expedicionário Jorge, aquela porção de penico nas prateleiras. Pequenos, médios e grandes.

Era um tempo atrasado. Meu pai era oficial de Justiça e viajava muito pelas roças. Parece que nas roças tinha mais demanda do que na cidade. ---- Não havia os caminhões leiteiros e poucos veículos. O meio de transporte do meu pai era uma égua e uma bicicleta, para as suas viagens de intimações nas roças. E eu sempre na garupa quando contava ai com os meus oito ou nove anos. Sei que tive a oportunidade de passar pelos quatro cantos do município de Candeias.

Minha mãe sempre cuidadosa recomendava-me levar papel higiênico, para a higiene durante as necessidades fisiológicas. Nessas viagens nem sempre voltávamos no mesmo dia. Acontecia de tomarmos o pouso na casa de algum dos amigos do meu pai. ----

O pessoal das roças sempre muito fartos, nos ofereciam sempre aquele rango caprichado; comumente nos ofereciam a famosa carne de panela ou de lata; àquele doce de leite de fazenda, bolo e broa de fubá; e biscoito de polvilho frito. Tudo isso está até hoje entranhado na minha cultura alimentar. E quando me lembro desses manjares minha boca, ainda, enche d’água.

Mas havia uma coisa que me deixava intrigado. O que existia em comum eram latrinas ou privadas, que consistiam num buraco de fossa de aproximadamente uns três metros de fundura, coberto por um assoalho com um orifício central. Sobre essa base se construía um pequenino cômodo.

O papel higiênico raramente era visto nessas latrinas, normalmente quando a pessoa ia fazer as suas necessidades levavam algum tipo de papel para ser usado. Poderia, também ser encontrado papel de embrulho dependurado.

Nas roças eu tive sempre uma curiosidade. Sempre havia num canto daquele cubículo intimo uma lata cheia de sabugo de milho. Eu sempre pensava que aquilo estava ali para estar protegido de um mau tempo. Afinal, eu sabia que sabugo de milho era bom para acender o fogo e fazer brasa. Minha mãe usava para por no ferro de passar roupa.

Até que num certo dia eu perguntei ao meu pai, por que em quase todas as latrinas das roças tinha uma lata de sabugo de milho, foi ai que fiquei sabendo dessa cultura deixada pelos portugueses, de que o sabugo de milho servia como papel higiênico. ----

 Fiquei com aquilo na cabeça e num certo dia, na curiosidade de menino, resolvi fazer um teste. E o que aconteceu? Que fique aqui entre mim e Deus.

Saber que isso foi herança dos portugueses ... Sei não, mas parece piada! 

Armando Melo de Castro

Candeias MG Casos e Acasos.

Nenhum comentário: