Quem contabiliza tantos
janeiros, assim como eu, tem a oportunidade de ver como a vida da gente muda enquanto
o mundo se transforma sobre as nossas vistas e ao nosso redor. Eu, no decorrer
da minha existência, tenho observado essas mudanças à medida que o tempo vai
passando. A cultura se transforma com o progresso natural que a vida impõe. Uns
ficam pobres e outros ficam ricos. A morte leva uns e o nascimento traz outros. O
comportamento das pessoas vai se modificando de geração para geração. E quando
olhamos para traz podemos sentir que o mundo em que nascemos tem pouco a ver
com o mundo no qual estamos vivendo.
Matar um porco em casa, no
passado, por exemplo, era como se fizesse uma festa. Mas, podia, também, se
transformar num mal-estar, numa indisposição.
Não era proibida a criação
de porcos nos terreiros, na cidade. Muitas pessoas faziam de seus quintais, na
cidade, uma verdadeira chácara. Tinham um chiqueiro; um galinheiro e um cercado
para horta.
Muitos criavam um porco de
sociedade o que se chamava “à meia” o que quer dizer: um dava o leitão e o
outro o criava a seu custo e depois partiam o animal morto. ----
Isso costumava dar confusão
e até inimizades, uma vez que o criador do animal se comprometia com os vizinhos
o fornecimento de lavagem (restos de comida) e em compensação lhe daria um
pedaço de carne na ocasião da matança do porco, na divisão queria debitar metade
desse agrado, em forma de retribuição ao sócio que teria fornecido o bácoro
para o capado, o qual dificilmente concordava.
De outra forma o fornecedor da
lavagem, também, costumava reclamar ou sair falando do pequeno tamanho ou da
qualidade do pedaço ganho.
Acontecia, também, muita reclamação entre a vizinhança pela demanda no fornecimento de lavagem. Havia
aqueles criadores que davam um pedaço de carne maior e melhor, ao contrário daquele
mais “pão duro”, portanto, isso incentivava a preferência.
Outra questão que, às vezes,
surgia, era a reclamação do criador do animal, que sempre com o intuito de
querer levar vantagem colocava defeito no animal que teria recebido para criar.
--- Uma hora o bicho era roncolho; noutra hora o bicho teria vindo para os seus
cuidados com uma caganeira difícil de ser contornada; falavam-se, também, da
linhagem ruim do animal, sempre na hora da partilha.
Na lambança com que eram criados esses porcos tanto na cidade como nas roças, fazia com que eles fossem portadores e transmissores de lobrigas e vermes, principalmente uma tal de solitária, um verme que diziam subir para a cabeça levando a pessoa à morte; como também as canjicas que portavam os vermes perigosos, que não eram eliminados pelo calor do cozimento.
A mesma diferença que podemos contar com um frango caipira, com os de granja, podemos, também, fazer a comparação com os porcos. Hoje esses porcos brancos de granja, não podem ser comparados com os antigos, Canastra, o maior; o Piau que era o médio e o carunchinho que não passava de quatro arrobas, cujas carnes tinham um sabor diferenciado.
Hoje, a criação de porcos na
cidade foi proibida. Acabou, portanto, o fornecimento de lavagem; o mau-cheiro
dos chiqueiros foi embora juntamente com as solitárias e as canjicas. Mas o
cheiro da carne daquela lambança ficou na lembrança, ficou na saudade!
Armando Melo de Castro.
3 comentários:
meu DEUS este texto fez eu voltar a infancia vivi isso até as raças do animal eu lenbrei!!!!
meu DEUS VC ME TROUXE NO MEU PASSADO,NA MINHA INFANCIA,PARABÉNS PELO TEXTO!!!!
Lembrei de minha infância!Fiquei emocionado!]
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