Foto: Deoclecio Ribeiro.
A vida, na infância e
juventude, é uma estrada larga que parece nos levar à verdadeira felicidade.
Mas à medida em que vamos vivendo ela vai se transformando e pode até terminar
abruptamente em precipícios. O trecho corrido pode ser revisto através do retrovisor
da vida, mas voltar ao passado vivido, por mais que se tente, será apenas uma
abstração... É um filme preto e branco.
Às vezes, quando me
afloram esses sentimentos, eu encontro pessoas com as quais eu vivi e convivi
na minha querida Candeias. Pessoas que morreram, mas que para mim não morreram;
apenas se encantaram para repousar dentro do meu coração.
----- Busco na rua
onde nasci, ----- a velha casa de Dona Benta, mãe do Sr. Erasto de Barros e avó
de minha professora Maria do Carmo Bonaccorsi. ----- Dona Filomena Barros e
Dona Melada, também filhas de Dona Benta. ----- Ainda fermenta em minha memória
o armazém do Sr. Chico Freire e Dona Mariquinha, sua esposa; a venda do Zé Lara
e as fofocas de Dona Joana do Galdino. ---- Encontro, ainda, bem no fundo de
uma gaveta do meu cérebro a torneira de água pública, quando ainda não havia
água encanada nas casas da minha querida Rua Coronel João Afonso Lamounier.
Era a década de 50...
Era o meu tempo de escola. E eu nunca imaginara que um dia fosse me envelhecer
e ver esse tempo tão longe de mim.
--- A saudade, às vezes, é dolorosa, esmagadora. Na vida sabemos claramente que
não somos nada mais do que simples passageiros neste mundo de Deus, bendito,
maravilhoso e cruel ao mesmo tempo.
--- Quanto mais vivemos mais contabilizamos perdas de pessoas queridas e amadas
e muitas vezes perdas traumáticas.
Está, todavia,
patente que todos nós vamos um dia enfrentar a perda de um ente querido de
forma distinta. Mas por uma bênção de Deus, nós não nos acostumaremos com isso.
Envolvido nesta
nostalgia, busco nos armários da minha memória alguns guardados da minha
infância e juventude e encontro-me com um grande amigo; um grande companheiro
desde o Grupo Escolar Padre Américo, quando foi nossa professora a minha tão
querida Dona Ninita Alvarenga: FLÁVIO RIBEIRO DO NASCIMENTO.
Professor Flávio
Ribeiro, foi no meu tempo o maior amigo dos jovens estudantes. Ele teria se
formado em Campo Belo e viria ser o professor de Inglês no recém-fundado
Ginásio de Candeias. Não só foi apenas um professor, foi membro da diretoria do
Ginásio sem recurso, sem dinheiro, cujo prefeito Nestor Lamounier teria doado o
seu salário de prefeito para auxiliar a permanência do nosso Ginásio de
Candeias.
Humilde e prestativo,
Flávio foi casado com a filha do Casal Mariinha e Vete Teixeira. Era carinhosamente
tratada de “Fitinha” ----
Um professor dedicado que dava aulas
particulares de graça, procurava os pais de alunos para incentiva-los a estudar
os filhos, tendo em vista que muitos pais não apoiavam o Ginásio. Aliás, temos
que reconhecer que a permanência do Ginásio de Candeias foi por mais tempo
devido um esforço do corpo docente da época que colocou à frente dos seus
interesses, o anseio do povo de Candeias em ter um ginásio.
O Ginásio de Candeias
acabou. Infelizmente acabou.
Flávio transferiu-se
para Campo Belo, agora como professor e proprietário de uma farmácia.
Posteriormente mudou-se para são João Del Rei onde se estabeleceu, também, com
uma farmácia. ----
Certa vez, eu
passando por São João Del Rei, eu o procurei na sua farmácia. Infelizmente não
o encontrei teria viajado para Belo Horizonte. Foi um desencontro cruel.
Até que um dia, eu em
Candeias, ouvi o aviso pelo alto-falante da igreja Matriz, de que Flavio
Ribeiro do Nascimento teria falecido e seria enterrado naquele dia. -----
Custou-me ouvir aquela notícia. Foi como se o mundo ficasse mais vazio... Aquele
amigo não era amigo para se perder. Pensando assim não fui ao enterro. Eu não
queria ver o Flávio dentro de um caixão, inerte; olhos fechados e sem aquele
sorriso nos lábios que lhe era tão peculiar. --- O relógio de sua vida estivera
adiantado e despertou-se fora de hora para o chamado de Deus.
Dar adeus a um grande amigo é algo muito difícil. É
perder um pouco de si, é um sentimento de ausência dramático.
Não é
fácil entender a perda pela morte. Mas no decorrer da viagem pela estrada da
vida vamos compreendendo que a morte de um amigo ou de uma pessoa da família é
como se fosse um acidente na viagem dessa estrada, um acidente que não machuca
o corpo, mas fere o coração com a ausência e a saudade.
Meu amigo e bom
parceiro Flávio Ribeiro do Nascimento, eu guardo-o comigo numa lembrança viva,
acomodado num canto agradecido do meu coração, sem me esquecer de que você
está, também, juntinho de Deus.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e
Acasos.
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