Roberto Carlos no velório de Hebe Camargo.
Atualmente, presenciamos um grande número de pessoas que
procuram ultrapassar as leis naturais da vida. Pintam o cabelo, fazem
plásticas, tentam imitar os jovens à custa de muito sacrifício, porém, o seu
coração nem sempre aceita isso. Na realidade, sofrem intimamente e choram o
tempo que lhes pertenceu e que não volta mais.
Quem até hoje não ouviu a frase saudosista das pessoas mais
velhas: “Ah, no meu tempo!... No meu tempo era assim, assim, assim. Hoje é tudo
estranho, está tudo muito pior”.
Quando ouvimos essa lamúria, essas queixas ou essa
choradeira, acabamos por dar uma pequena volta ao nosso passado e chegamos até
a concordar que, realmente, muita coisa está piorando. Todavia, esta questão
merece uma reflexão:
Na medida em que o tempo vai ficando para trás, não podemos
mais ignorar que antes as coisas, independentemente de serem piores ou
melhores, eram muito diferentes. A sociedade era restrita. As pessoas viviam se
imitando. Mudava-se muito pouco o cenário da vida. O que antes era um dia santo
de festa religiosa é hoje um dia de labuta. Parece que o mundo vai, ficando sem
sono, sem dormir e sem vontade de parar.
A vida com as suas regras e suas maravilhas vem se tornando,
dia a dia, mais complicada para os idosos. Eis aí, portanto, o motivo maior do
grande conflito de gerações que desencadeia entre as sociedades. As coisas se
transformam da noite para o dia. O que há cem anos custava-se anos para se
modificar, hoje, é feito em dias. O grande escritor Figueiredo Pimentel dizia
que a vida não melhora e nem piora. O que acontece é, simplesmente, uma mudança
de cada geração dentro dela.
Em 1960, eu
ouvi do candeense, Mozart Sidney, que residia em São Paulo , que não fazia
ideia do que seria São Paulo dali a dez anos. Dizia que aquela cidade teria um
colapso em seu trânsito. E ao completar o tempo estipulado por Mozart, eu lá
estava, na cidade de São Paulo, em 1970. ---- Eu sentia como se houvesse chegado ao
Jardim do Éden, pois, para mim, a minha vida se iniciaria ali. Era a era da
Ditadura Militar, o tempo dos elevados e das grandes obras de infraestrutura da
capital paulista. ---- O país vivia conflitos constitucionais. --- A anarquia tomava
conta das ruas e o povo cheio de esperança via grandes soluções serem tomadas,
principalmente, na área do trânsito. Eu tinha vinte e poucos anos. Os dias eram
pintados com cores fortes. E quando a gente falava das vantagens de morar na
capital paulista, alguém sempre dizia: já foi muito melhor!
Na verdade, o mundo vem fazendo da vida um sacrifício maior
para quem viveu no passado. Nem sempre, sabemos se é o mundo ou se somos nós
que estamos, a cada dia, modificando mais apressadamente. Com isso, chega o
momento de sentirmos saudade e é muito mais fácil sentir saudade do que
acompanhar as novas gerações que inovam o mundo.
Quando jovem, a pessoa se integra no ambiente de maneira
natural. Assim, sente que a vida lhe é satisfatória porque vive a vida do seu
momento. A sua alegria interna transpira. Depois disso, o seu crescimento
íntimo começa a se esmorecer e a sua evolução passa a bater de frente com o
meio.
O mundo não piora para as pessoas. Ele piora para si. Uma
geração jovem sente a mesma coisa que sentiu uma geração antiga. Amanhã a
geração de hoje sentirá o mesmo desencanto que a de antes. Nesta sequência,
bate a saudade que leva a dizer que, na sua época, as coisas eram melhores.
Portanto, concluo que é mais vantajoso aprender a ser velho e
a substituir o prazer pela saudade. Devemos ajudar o coração a envelhecer com
alegria. A nossa condição interior deve estar preparada para receber o sopro do
vento que nos levará embora.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
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