O grupo da foto
é Abelino Salviano, Antonio Jacinto, Américo Bonaccorsi,José Delminda, Luizinho
do Américo, João Virgílio e Dino Guimarães. São
todos já falecidos.
Ontem, dando uma
remexida nas gavetas da minha memória, deparei-me com o “Jazz Tiro e Queda”, o
histórico conjunto de Jazz do maestro candeense Américo Bonaccorsi.
Uma das mais
agradáveis lembranças que tenho guardadas, é deste grupo musical, genuinamente,
candeense e que marcou época na história da nossa cidade.
Durante sua duração, a
sua composição teve muitas variedades de músicos, entretanto, citarei, aqui, um
grupo que formava o elenco mais constante nos eventos abrilhantados pelo Tiro e
Queda:
Na parte de solo,
apenas com instrumentos de sopro, estavam o Américo (saxofone), o João Virgílio
(pistom), o Zinho Borges (trombone).
No acompanhamento,
Luizinho Bonaccorsi (filho do Américo) na bateria, Zé Delminda, no banjo, o
Pedrinho do Candola no cavaquinho, e eventuais auxiliares na maracá, no
pandeiro e em outros instrumentos. O cantor era o Zé Vilela com o seu
repertório romântico. Não existiam instrumentos elétricos.
Como santo de casa
nunca faz milagre, os grandes bailes e os eventos importantes em datas
especiais, eram abrilhantados pelo Conjunto Centenário de Formiga e pela Orquestra
do Totó de Campo Belo. Outras orquestras passavam por Candeias, muitas das
quais internacionais que viviam em turnê pelo país. Um exemplo é “O Cassino de
Sevilha”, uma grande orquestra espanhola, com mais de duzentos anos de formação
e que, até hoje, viaja pelo Brasil e por outros países. Esta famosa orquestra
esteve em Candeias por mais de uma vez, nos bailes organizados pelo então Clube
Recreativo Candeense.
Certo número de jovens
criticava o conservadorismo do “Tiro e Queda”, pois, dificilmente, aparecia com
uma música nova. Acontece que, naquele tempo, o sucesso não era coisa efêmera.
Era duradouro. As condições técnicas eram precárias, afinal tratava-se de
músicos que não viviam somente da música. Contudo, mesmo assim, a presença do
Tiro e Queda era constante, principalmente, para o carnaval quando o conjunto
ensaiava as músicas novas e era visto como muito bom para eventos
carnavalescos. Durante anos e mais anos, o carnaval candeense foi animado pelo
famoso “Jazz do Américo”.
Os bailes programados
pelo então Clube Recreativo Candeense eram de alto nível e, mesmo quando
apresentados pelo modesto Tiro e Queda, diante das críticas na comparação, os
jovens se portavam de terno e gravata como se fossem para o altar e as moças,
vestidas com afinco, como se estivessem indo ao encontro do noivo. Aliás,
antigamente, um namorado tomava banho e se trocava de roupa para ir ao encontro
da namorada que, por sua vez, o aguardava, também, preparada. Isso era muito
bonito, muito romântico. Infelizmente, nos dias de hoje, essas coisas já não
são tão levadas a sério.
Atualmente, não temos
mais um conjunto musical sequer ao nível do popular “Jazz do Américo”. O mundo
eletrônico nos roubou esse contato direto com a música. O cantor de hoje não
vive mais a canção. O computador fabrica vozes e roubam o verdadeiro som do
instrumento. As composições são vazias e troca, na maioria das vezes, o sexo
pelo amor na hora da inspiração.
O Jazz do Américo
tinha a voz fiel da música. O seu sax era ouvido de longe e ele amava a música
como se amasse o seu próprio “eu”. Participou, durante anos, como membro da
Banda Musical Nossa Senhora das Candeias e de todos foi sempre o grande amigo,
o grande colega.
Américo Bonaccorsi
nasceu no antigo Arraial de São Francisco de Paula, filho de Italianos da
família Bonaccorsi que primeiro se aportou em São Francisco vindo,
posteriormente, para Candeias. Américo Bonaccorsi é um orgulho para os
italianos e para nós candeenses. Um candeense por adoção que amou Candeias tanto ou até mais quanto qualquer outro que tenha nascido
em seu solo. Serviu Candeias, não somente com a graça de sua música, como
também com os seus serviços como grande comerciante de aves e ovos que eram
enviados para o Rio de Janeiro nos tempos em que não existiam essas numerosas
granjas. Esse seu comercio trazia grandes divisas para a economia candeense
como também a prestação de serviço oferecida pelo seu famoso “Candeense Hotel”
conhecido em diversos pontos do Brasil. O nosso Maestro Américo Bonaccorsi era, também, tio-avô do famoso maestro de nome internacional, Silvio Barbato, que faleceu num acidente de avião numa viagem à França.
Casado com a senhora
Alice Viglioni com a qual teve cinco filhos. Prole que sempre participou
intensamente da sociedade candeense. Luiz Bonaccorsi Neto (Luizinho do
Américo), Wander Bonaccorsi (Wandinho do Américo), Armida Bonaccorsi, Sônia
Bonaccorsi e o caçula, Enio Bonaccorsi.
Américo Bonaccorsi era
um homem de grandes amigos. A sua amizade com o meu pai, José Delminda, era
como se fosse uma ligação de irmãos.
É muito difícil
existir uma pessoa que não saiba ofender alguém. Pois, Américo Bonaccorsi não
sabia. Era um homem inofensivo que fazia da música a sua verdadeira oração. O
silêncio do seu instrumento musical entristece as lembranças de quem lhe
conheceu. Sua morte foi como uma ribalta que se apagou para a musicalidade
candeense entre todos que o conheceu.
Lembrar do músico
Américo Bonaccorsi é lembrar de tempos áureos. Portanto, onde quer que esteja,
meu querido amigo Américo Bonaccorsi, receba o meu abraço e a minha saudade ao
som de “O abre-alas” e de “Jardineira”. E por que não dizer, também, ao som do
Bolero de Ravel e da Aleluia de Mozart?”
ARMANDO MELO DE
CASTRO
Candeias MG Casos e
Acasos
3 comentários:
Armando, uma dúvida: Vc deparou com um disco de vinil gravado pela banda? Se sim, tem como reproduzí-lo para CD. Aí em Candeias não sei se tem alguém que faz esse tipo de serviço, mas com certeza nas cidades vizinhas tem. Talvez Denílson da Foto, filho do Eustáquio da Caixa, saiba informar. Agora o principal: Será possível vc disponibilizar as músicas para nós?
Olá Armando,
Gostei muito de sua postagem sobre o meu Avô Américo e assim como você tenho boas recordações dele, de seu pai e dos amigos que tocavam na Banda.
Como ele gostava de dizer: " A Banda que tocava de Banda, rodava de Banda... era uma Bandalheira."
Voc~e captou e registrou muito bem a personalidade autêntica, honesta e até mesmo inocente de meu Avô. Um home de Família - como convém a alguém de descendência Italiana, bronco na fala e doce no trato.
Obrigado pelos registros e memória.
Wander Sena
Araços
Americo Bonacorssi, foi maestro da Banda Santa Cecília de Campo Belo, quase que inconsciente, era meu "herói" da infância, ao vê lo imponente a frente da banda com sua clarinete. Ainda farei uma homenagem a esse maestro.
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