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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

NA ESCURIDÃO DA RIBALTA




Wilsa Carla, atriz, teve uma carreira ativa na década de 50, 60 e 70. Sua trajetória artística foi cheia de altos e baixos. Nasceu em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Foi rainha do carnaval carioca, vedete das mais famosas do teatro rebolado quando este era uma grande atração nacional. Atriz de cinema que pnaarticipou de mais de cinquenta filmes. Fez teatro e novela. Atuou na Rede Manchete, Rede Record e Rede Globo de Televisão. Participante, no SBT, do Programa Sílvio Santos, por muito tempo. Era neta de um dos governadores do Rio de Janeiro e teve uma relação íntima com o Presidente Getúlio Vargas. Foi uma mulher linda quando jovem e atriz respeitada quando levada a sério pela sua cultura e o seu meio aristocrático. Infelizmente, Wilsa Carla deu um rumo diferente em sua carreira, passando a fazer uma arte deturpada.

Wilsa Carla morreu, aos 75 anos, esquecida, amargurada e pobre. Morando de favor e vivendo com a quantia de um salário mínimo. A última vez que a vi no programa da Rede TVfoi em um quadro estarrecedor. Jamais a teria conhecido se não tivesse sido anunciada. Ela, em uma cadeira de rodas, dizia que o seu único desejo era voltar a trabalhar e ser querida pelo público como fora outrora. Mas, infelizmente isso não lhe foi possível.

Geisa Celeste , outra cantora brasileira famosa, natural da cidade de Sacramento/MG, teve uma carreira de sucesso formando dupla com sua irmã Diva. O Duo Irmãs Celeste foi um grande sucesso nacional com os seus boleros apaixonados, na década de 60. Lembro-me de que, nos parques de diversões, as suas músicas tocavam repetidamente. Com o casamento de Diva, Geysa prosseguiu na sua carreira fazendo grande sucesso, todavia, no exterior, mais precisamente, na Europa e na América do Sul, em especial na Argentina e no Chile, países em que era muito conhecida. Tinha uma voz singular que atraía os espectadores mais exigentes.

Geysa Celeste morreu, aos 72 anos, na cidade de Sorocaba, interior do Estado de São Paulo, de forma muito melancólica. Doente, totalmente esquecida, vivendo com a sua ínfima aposentadoria. Às vezes, era vista, de porta em porta, vendendo CDs caseiros extraídos dos seus diversos discos gravados por grandes gravadoras como Chantecler e RCA Victor e ainda sendo ajudada pelos seus pouquissimos amigos.




Geisa Celeste, uma das mais belas vozes do cancioneiro brasileiro.





Tinoco, da dupla caipira Tonico e Tinoco, fez sucesso por mais de meio século. Tonico faleceu depois de um tombo que levou à porta de seu apartamento em São Paulo. Não se sabe como estava a sua situação financeira. Tinoco, entretanto, chegou a colocar seu carro, um gol 1998, numa rifa para tratar da saúde de sua mulher. Pobre, idoso e doente, já com mais de noventa anos de idade e ainda cantava para ganhar a vida. Contudo, nesta idade, Tinoco não tinha mais como trabalhar. Seu corpo já não resistia a viagens e sua voz já não ajudava. Sua arte já não atraia a maioria do público.

                                            Tinoco                                                        

Pouco tempo antes de falecer recebeu ajuda de outros artistas sertanejos, inclusive de Roberto Carlos, para remediar a sua situação financeira.                 

Nelson Ned, figura anã do cenário artístico brasileiro, com apenas 1,12 m de altura, contudo, considerado o “O Pequeno Gigante da Canção”, natural da cidade de Ubá/MG, começou a fazer sucesso na década de 60. Teve grande cartaz como cantor e compositor, no Brasil e no exterior. Único cantor latino a vender mais de um milhão de discos nos Estados Unidos com apenas uma música. (Feliz Aniversário Amor). Foi, também, o latino a lotar, por quatro vezes, o Carnegie Hall de Nova York uma das mais famosas salas de espetáculos do mundo.  

Nelson Ned
  Sua música, “Tudo passará”, lhe rendeu muito dinheiro no Brasil e em outros países além de um vasto repertório romântico. Muitos cantores brasileiros e internacionais gravaram as suas músicas.

 Doente, pobre foi levado para o esquecimento, após ter se envolvido com drogas e uma vida irregular. Ganhou muito dinheiro, mas, quanto mais ganhava mais gastava. Já não suportando mais o peso do corpo sobre as pernas e cheio de problemas de saúde já não conseguia mais cantar. Sem dinheiro para um tratamento, teve que contar com a ajuda de seu amigo e condiscípulo, Agnaldo Timóteo, que junto aos seus amigos, recolheu dinheiro para ajudá-lo. Até a igreja evangélica que o acolheu, talvez, com a intenção de tê-lo como fonte de renda, o abandonou quando mais precisava. 

É muito difícil imaginar como será o fim da vida de um artista. Apesar de viver diante das emoções de uma ribalta ou de um palco iluminado, o artista é, na maioria dos casos, aquele cuja carreira está cheia de altos e baixos. Vive cantando a tristeza para uns e a alegria para outros. Encenando as mentiras e as verdades da vida humana. Sem dúvida vive, naturalmente, quase sempre, enganando a si mesmo.

O artista, outrora famoso e agora velho, doente e sem trabalho é uma pessoa que foi alegre e que ficou triste. Tornou-se desiludida e para o público que um dia o aplaudiu ele é, agora, um pobre coitado. Acaba sendo digno de piedade e, com certeza, ele percebe essa piedade como um dia percebeu os aplausos. Os artistas em baixa na mídia seguem dois rumos: um que alimenta a chance de voltar ao sucesso e o outro que sabe que jamais voltará. Um se torna infeliz e o outro acaba desmerecido porque não reconhece que o seu sucesso acabou. Mas, ambos vivem a mesma esperança; a esperança de um dia voltar a ser aplaudido mesmo sem saber como, mas, espera. O artista não desiste do aplauso porque sabe que, sem ele, é uma planta que se esturrica em um sol escaldante.

O artista, sem mercado de trabalho, se considera uma vítima dos injustos critérios que lhes tiraram de uma seleção, onde se lhe faz derrotado diante de alguém sem qualidade que atrai o público através do seu dinheiro dando o poder de comprar influências e chegar ao público. É como se lhe roubassem a fama e devolvessem-no para a platéia na qual não encontra mais lugar. Um artista sem trabalho chora às escuras, lágrimas de verdade porque não tem como chorar as lágrimas da ilusão diante das luzes do proscênio.

Não devemos nunca vaiar um artista sem platéia. Como também não devemos aplaudi-lo como esmola. Um artista fora de mercado é uma pessoa que sofre o castigo dos pecados que a fama lhe proporcionou. Sofre a solidão que lhe faz recordar e reviver todos os seus momentos de glória.

Infelizmente, há o artista que se esquece que um dia as luzes da ribalta que o ilumina vão se apagar e as cortinas que lhe abre, agora, serão fechadas para sempre e a sua platéia irá embora. É que será o início de um espetáculo real para o artista sem platéia, sem cortinas e sem ribalta. – Salvo as exceções.


Clique aqui para conhecer ou recordar Geisa Celeste


Armando Melo de Castro
Candeias mg Casos e Acasos








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