Diante do recente
falecimento do Sr. Luiz Gonzaga Teixeira, o nosso tão querido amigo e conterrâneo
Luizinho Teixeira, veio à tona de minha memória uma manifestação minha através
de nosso Blog Candeias MG Casos e Acasos; em junho de 2010, por ocasião da
morte de seu filho Geraldo Magela Teixeira, o muito querido candeense “Magelinha”.
---- Eu teria pouco tempo antes disso, devolvido a Deus a minha filha, Regina
Alves de Castro, aos 30 anos de idade, levada de uma forma dramática e triste
deixando-me envolvido num sentimento confuso até mesmo perante Deus. --- Encontrava-me
em Candeias fui procurado por Luzinho Teixeira que deu a mim o mais puro, o
mais sincero, o mais fiel a Deus e o mais amigo discurso colocando-me bem próximo
de Deus e retirando de mim toda aquela revolta que me envolvia num momento em
que me encontrava envolvido pela fragilidade humana.
Vejam como eu me encontrava:
Candeias MG 07 de junho de
2010
Percalços da Vida
No mês passado o povo de Candeias assistiu a um
lúgubre cortejo de dor atravessar a cidade rumo ao Cemitério São Francisco. Era
o sepultamento do jovem Geraldo Magela Teixeira, filho do grande amigo de minha
família, Sr. Luiz Gonzaga Teixeira, o conhecido, Luizinho Teixeira; um dos
cidadãos mais ilustres da sociedade candeense na atualidade; não só pela sua
participação social na vida de Candeias, mas pela sua vida exemplar como bom
filho, bom chefe de família e bom amigo. Jamais alguém terá ouvido sob os céus
de Deus, algo que pudesse denegrir a intocável dignidade do senhor Luizinho
Teixeira.
Magela, ainda jovem, contando apenas cinquenta e sete anos de existência,
partiu, quase que de repente, vítima de uma pneumonia dupla, para atender aos
desígnios de Deus; deixando, entre os seus familiares e inúmeros amigos, um
vazio que jamais será preenchido... Presença
malograda e ausência surda, própria para dilacerar o coração paterno...
Diante daquele cenário de profunda tristeza eu me senti inteiramente sensibilizado pela dor de um grande amigo e pai. Isso porque apenas aqueles que já estiveram diante de tal martírio podem fazer uma avaliação da dor pela perda de um filho.
Eu passara por aquele martírio e saberia,
portanto, que todo o conforto que chega aos pais de um filho morto seria
inútil. Dizer que Deus dará o conforto não teria me levado a nada e nem me consolava.
Para mim a morte de um filho era o mesmo que deixar um pai vivo e morto ao
mesmo tempo. Era um castigo de Deus a um pai inocente.
Naturalmente os filhos enterram os pais... E os pais, ao contrário, estão incumbidos da vida dos filhos. Portanto, perder um filho é sentir uma dor sem nome que leva o ser humano ao inteiro desânimo, para o qual só o tempo, esse ácido que coroe o nosso corpo, transformando-nos em monstros sugando a vitalidade e trocando a saúde em doenças. Esse tempo de uma viagem cujo percurso é marcado pelo dia do nascimento ao dia da morte trocando o sorriso pela lágrima. O alivio dado pelo tempo não apaga jamais o convívio com aquele filho. E esta ausência é como um castigo que será vivido dia após dia pelo resto da vida.
Minha filha Regina aos trinta anos de idade, cheia de vida, formada em direito, e com louvor, tinha isso como o seu maior desejo... Conseguiu o seu emprego sendo aprovada com louvor em concurso público para o Fórum de Divinópolis... Teve o seu namorado querido... Vivia no seu apartamento próprio e tinha uma situação financeira consolidada. Possuía tudo para ser feliz e fazer um pai muito feliz... Foi vitimada por um distúrbio da mente dividida marcada por surtos de delírios e alucinações. Uma doença cruel e impiedosa veio a perder a vida pelas próprias mãos, após um ano de enfermidade, sem nenhum motivo aparente, deixando-me numa tempestade emocional.
Sinto-me, com a sua morte, como que cair num
poço sem fundo; como estar no deserto dos meus dias... Como estar jogado numa
lata de lixo do tamanho do mundo; como estar vivendo diante de uma trombada
entre a vida e a morte. Passo a não pertencer a este mundo e crio o meu próprio
mundo, um mundo mental de desenganos, de maldade, de injustiças, de decepções e
da ausência de Deus...
Procuro ser julgado pelo tribunal da
minha consciência e sou absolvido... Afinal! Que mal eu teria feito a Deus para
passar por tão severas penas? É a revolta que se acomoda dentro do meu coração
e diante de tamanho infortúnio questiono Deus: “Onde estou meu Pai”? Que mundo
imundo é este no qual me jogaste? Que mal eu Te fiz para ter que sofrer na
minha carne uma dor tão profunda? ---- Enquanto eu procuro florir o lugar em que me colocaste, Tu me cobres de
amargura e desânimo? Sendo Tu o Criador de todas as coisas, o Onipotente, o
Onisciente, o Onipresente, de repente permite que minha filha, - a qual me
deste cheia de vida e saúde, cheia de inteligência e bondade, cheia de alegria
e caridade, - se transforme numa tocha de fogo e morra de forma tão cruel e
humilhante? Será isso obra do diabo meu Pai?
Mas que Deus És Tu meu Pai que Te permites um opositor adepto do mal? O que poderás dizer de mim que se criando um cachorro atirasse fogo nele? Ou se cortasse a asa de um passarinho? Como seu filho será que me deixarias impune? E as pessoas não iriam considerar-me um traste da humanidade? Tu, meu Pai, não terás Te esquecido desse Teu mundo imundo enquanto dormes tranquilamente vigiado pelos anjos no canto mais aconchegante dos céus?
Por que meu Senhor de todas as coisas tantas sentenças?... Por que tantos castigos, para quem nem sabe se crime cometeu? Por que sofre aqui no Teu mundo as crianças inocentes? Eu custo a entender que um sofrimento desses seja obra Tua, meu Deus? Não! Não pode ser!...Se fosse tudo isso obra Tua, o Teu filho Jesus deveria se chamar satanás. Afinal o bem está sendo superado pelo mal.
E aquele rei maldito, que mandou degolar criancinhas inocentes. Se isso for obra Tua meu pai, o teu filho não é o filho do carpinteiro que protegia as criancinhas desamparadas!... Estará o teu mundo entregue ao diabo?...
Olha meu Senhor de todas as coisas: Eu, e outros pecadores podemos até merecer castigo por vivermos desafiando as Tuas leis e o Teu mundo... Esse mundo materializado, aonde a força do ódio vem ficando dia-a-dia mais forte... Onde a impunidade para os indignos se escasseia... O castigo da velhice, para quem vive muito -- só sabe crescer... Esse mundo onde o mal toma o lugar do bem... Mas e essas crianças atiradas pelas janelas pelos próprios pais; espancadas e assassinadas covardemente? “O que fazem de mal essas pobres crianças meu Senhor Deus”!?...
E nessa agressão desencadeada pela emoção eu me perco entre os meus recalques... Entre as minhas revoltas... Levo um susto!... Felizmente, dou Graças, dou conta de voltar a mim. Encontro-me de novo e consigo me lembrar de que Deus é a única forma de explicação da existência e razão. ----- Contudo, me sinto fraco e impotente. Não consigo me concentrar se ainda existe a esperança dentro mim para que um dia o mundo possa ser melhor... Se existem, ainda, mãos para afagar e voz para.
Consolar. Se posso continuar acreditando que
na construção da obra de Deus o mal existe para mostrar o bem... Falta-me
convicção e o meu fundamentalismo católico está frágil, muito frágil. ------ Apesar
da fraqueza que me afronta, consigo forças para pedir perdão a Deus e prometer
ser mais cauteloso. Pergunto-Lhe, ainda, onde está a felicidade aqui na terra.
Mas não obtive resposta. Talvez eu seja quem deva procura-la. Assim é o livre
arbítrio dado a todos nós.
Portanto, ao meu querido amigo Luzinho
Teixeira a minha eterna gratidão.
Armando Melo de Castro
Nenhum comentário:
Postar um comentário