Foto: AFP apenas para ilustração do texto.
Ano passado eu tomei conhecimento, através do noticiário, de que um touro teria dado uma chifrada no pescoço de um toureiro espanhol, e este estaria em estado muito grave. Hoje, fui surpreendido com a noticia de que esse toureiro está se preparando para voltar à arena e enfrentar, de novo, os touros.
Dá-se
para entender que neste mundo existem pessoas para todas as loucuras. Levar uma
chifrada no pescoço, ficar em estado grave e depois ainda querer touro de
novo!?...
Não
existe para mim uma violência maior do que seja este tipo de espetáculo... Não
existe para mim uma sintonia maior entre o homem moderno e o homem da idade da
pedra... Eu jamais entenderei, como pode estar nas gavetas da intimidade humana
a satisfação de travar entre si um combate com a irracionalidade de um
animal... Um animal que pode ser ou estar violento... Eu busco, com afinco, nas
profundezas do meu raciocínio, ter uma idéia clara no sentido de justificar
esse tipo de aplauso.
Diante
disso, me vem à tona, um fato que se encontra guardado nos fundos dos meus
olhos desde a minha infância, e que me fez repudiar, pelo resto da vida, essa
coisa chamada “tourada”.
Luiz Belo
cidadão natural da cidade de Formiga,bonitão; estatura elevada com os seus quase
dois metros de altura... Moreno, boa pinta, cabelos lisos de um castanho bem
claro; olhos fundos; bem escanhoado; boca grande e sorriso de machão... Bem
trajado e bem calçado... O seu visual fazia-lhe juz ao nome de Belo e
referência como quê: “um massa de homem rico e bonito”... A mulherada talvez
acrescentasse: “gostosão”.
Era, Luiz
Belo, um apaixonado pelas touradas espanholas. Filho de pai rico, foi parar na
Espanha, e lá não se sabe como, tomou aulas sobre a técnica de tourear. Após
ter andado lá pelo mundo das touradas, em busca de aprendizado dessa diversão,
a meu ver, excêntrica, voltou e se tornou proprietário de um bem montado circo
de touros.
No nosso
país não existe e nunca existiu estrutura para esse tipo de coisa. O circo de
touros não faz parte da nossa cultura apesar dos nossos fazendeiros admirarem
esses espetáculos. Influência, talvez, do convívio com esses animais donos
desta festa...
Era,
portanto, o circo do Luiz Belo, com certeza, o melhor circo da ordem; ao passo
que instalado na Espanha, com certeza, seria o pior de lá...
Diziam:
“Luiz Belo, é o melhor toureiro do Brasil”! Era a ultima atração do espetáculo
e para ele era reservado o touro mais teimoso e mais violento...
Apresentava-se
com uma pose de toureiro espanhol, talvez, trazendo no seu íntimo a máxima: “Se
El Cordobés chegou lá, eu também chegarei porque sou melhor...”. Garbosamente
se empanava em vestes de estilistas espanhóis...
Segurava
um boi pelos cornos enquanto o palhaço puxava o rabo do pobre animal...
Como se
vê, apenas as vestes de Luiz Belo, poderiam ser comparadas com as touradas
espanholas.
Um grande
problema: não possuía uma manada de animais preparados para tal. Portanto, os
animais eram cedidos por empréstimos por fazendeiros locais que escolhiam entre
as suas rezes as mais violentas e que oferecessem algum perigo.
Prudente
seria, todavia, transportar um animal desses, escolhido como bravo e rebelde,
num veículo próprio, ou à noite, para maior segurança da população...Mas,
não... Os animais designados para o espetáculo vinham tocados, como que para o
matadouro ou para um apartamento de reses... E nem sempre se faziam
acompanhados de uma madrinha.
Na década
de 50 quando eu morava na Rua Coronel João Afonso, era nosso vizinho e residia,
onde está localizado, hoje, uma loja de produtos agrícolas, na esquina com a
Rua Belmiro Costa, um senhor chamado João Lopes.
Cidadão
pacato e tranqüilo. Se me não engano já havia se aposentado de sua fazenda e
teria se estabelecido definitivamente na cidade.
Eu o via
sempre descer a rua e ir até a venda do Zé Lara, onde está localizado o Bar do
filho do Vicentinho Vilela. Subia e descia como que já tivesse acertado as
contas com a vida e já se encontrava desvinculado de compromisso com o futuro.
Afinal, aposentar-se, é, infelizmente, queira ou não queira, estar como que, no
aeroporto da morte aguardando o avião que faz escala no inferno, purgatório e
céu... Pior, ainda, antes, quando o vivente trabalhava enquanto continha
forças.
Eu, que
sempre estava de plantão assentado num banco à porta da minha casa, dava
noticias de tudo que se passava na rua. Vi, como sempre via, João Lopes,
calçado de chinelos de couro, descer a rua com os seus passos lentos, sorrindo
para um e para outro, exibindo os dois dentes de ouro no seu maxilar superior.
Lembro-me
da última vez que o vi sorrindo, quando desceu a rua, rumo à venda do Zé Lara.
Uma hora depois, eu o via transportado sobre uma cama conduzida por quatro
homens, alguns acompanhantes e uma meninada curiosa.... Estava agonizante e a
roupa tinta de sangue... Era uma quadro de dor que dali a pouco iria aumentar
aos olhos da família.
E o que
teria acontecido? Vi quando alguém perguntou a um dos transportadores da
padiola improvisada, o que teria acontecido ao senhor João Lopes, e a resposta
teria sido de que um boi bravo o havia atacado nas imediações da antiga praça
do circo, hoje Praça Antônio Furtado.
A falta
de recursos, ou mesmo a falta de expediente que havia naquele tempo, fez com
que os atendentes do socorro prestado ao moribundo, se limitassem ao entregar,
simplesmente, o corpo quase sem vida aos seus familiares, diante de um
desespero incontrolável.
Aquela
cena de horror encontra-se guardada dentro dos meus olhos. Vejo, ainda, aquele
homem pacato, descansado, agora com o corpo banhado em sangue... Não o sangue
de um boi, mas o seu próprio sangue...
Que boi
bravo seria esse meu Deus?... Perguntei aos céus!...
A Praça
Antonio Furtado era destinada a armação desses circos de arena, anfiteatros,
parques de diversões etc. E ficava bem proximo dali. O animal estourou-se nas
redondezas do circo quando era tocado livremente pelas ruas... João Lopes,
nascido e criado numa fazenda não teria avaliado o perigo que corria ao passar
pelo boi que se encontrava desnorteado por ali. O bicho avançou-se contra ele e
o arremessou longe.
Naquele
dia o serviço de alto falante do circo não funcionou, a casa da vitima ficava
muito perto... Mas, enquanto João Lopes estava entre a vida e a morte dava para
ouvir da trombeta do circo uma voz forte a gritar:
“Senhoras
e senhores! Dentro de alguns minutos na arena o touro criminoso... Luiz Belo
irá desafiá-lo com a sua capa espanhola”. Era Luiz Belo nos píncaros da glória!
Quanto ao
João Lopes a morte não lhe poupou. Algumas horas após o término do espetáculo
com o touro que lhe ferira, João Lopes partiu desta vida deixando impune os
responsáveis pela tragédia.
Era como
se fizesse cumprir as leis de Êxodo 21:28.
Anos mais
tarde, vejo um pequeno circo armado nas imediações do bairro da “Lage”.
Era um
circo com o aspecto geral da miséria traduzindo toda a falência da arte de
tourear. Aquilo poderia se chamar tudo, menos um ponto de espetáculo.
Diziam cá
de fora que o espetáculo se limitava a duas rezes e apenas um toureiro para
operar... O semblante do bilheteiro/porteiro traduzia amargura e desânimo. Seu
sorriso se escondia de uma boca sem dentes... Suas botas agora eram
substituídas por chinelos de tiras... Seus cabelos escondiam debaixo de um
chapéu velho... Um visual dramático... Era o fantasma de Luiz Belo, aguardando
o ônibus da morte aqui em Candeias onde outrora teria atuado na sua arena
iluminada... Já não era mais toureiro e talvez não tivesse mais gosto pelos
touros. Caíra num buraco do qual não conseguia se livrar...
A pobreza
tem o poder de pregar peças à felicidade...
Armando
Melo de Castro
Candeias
MM Casos e Acasos
16 comentários:
Caramba, na minha infância eu ouvi muito falar do Luiz Belo, e acho que me lembro um pouco desse final infeliz dele, lá perto do campo da Associação. Nunca tinha ouvido essa história do pobre do João Lopes, que coisa!
Parabéns pela lembrança, Armando
Clara Borges
Belo documentário Armando,até me emocionei aqui em ler essa história do meu avô,tem coisas aí que eu nem sabia,Ele ainda é vivo tem 85 anos e reside na mesma cidade de Formiga,tem duas filhas no casamento Emilia E Decimilia e um filho antes do casamento.
Hoje 2 filhos em formiga e uma em BH.
Ainda é o mesmo homem alto e por sinal muit vaidoso,o mesmo adorável.
raianelacerda@hotmail.com
Nossa !!!...Sou de Corrego Danta, MG, nao muito longe de Candeias ou de Formiga.
Me lembro dessas touradas qdo eu ainda era bem criança e nunca mais tinha ouvido falar nesse nome tão famoso pra mim naquela época. "luiz Belo"
Que Historia fantástica esta. Me remeti aos meus tempos de criança e me emocionei aqui.
Obrigado por mecher com minhas emoçoes Armando
Fiquei surpreso ao ler aqui algo sobre um personagem que marcou muito a minha infancia. Sou de Corrego Danta MG cidade nao muito longe de candeias ou formiga. Me recordo com nostalgia do famoso circo do Luis Belo......me emocionei aqui....viajei no tempo. Pensava nunca mais, nem sequer ouvir o nome LUIZ BELO abraço ao SR. Armando Melo de Castro
fiquei sabendo que o Luiz belo morreu
Na minha infância, em Campos Altos, lá por 1956, assisti a muitas touradas do Luiz Belo. Era mesmo bonitão e vaidoso. O alto falante do seu circo tocava até uma canção em sua humenagam: "Luiz Belo é o meu nome. Sou filho de fazendeiro. Sou natural de Formiga, porisso sou mineiro. Eu nasci come essa sina, sina de ser toureiro..."
Meu pai trabalhou muitos anos com o Sr. LUIZ BELO ele se chama José Ferreira e tinha apelido na tourada de PEITO DE AÇO eu não foi de minha época suas apresentações mas dizem que eram juntamente com outros colegas os melhores do Brasil.
luiz belo é primo da minha avó hilda gonçalves belo, hoje finada, mas minha mae maria das graças me contou de luiz belo. sou everton silva. e desejo um forte abraço a familia e amigos de luiz belo.
Já viu pescaria com linha de um atum? E de um merlin que tem até campeonato? Já viu pescarias de caranguejos em alto mar? Pescaria recreativa onde pescam um peixe em sua casa com anzol, olha, cutucam e devolvem para a água? E corrida de carro onde colocam a vida em perigo correndo em círculos e morrem ? Teve um que quase morreu queimado, voltou e é tido como herói.E o MMA onde até mulheres, cheias de hormônios masculinos, tiram sangue umas das outras?Passa até na televisão aberta. O touro na arena é um teatro da vida, um dia somos o touro, outro o toureiro e outro, ainda, o picador. É costume de uma nação e que os cheios de sapiência querem banir, igualar a todos para melhor domínio. Quem não gosta não veja.O touro é uma fera criada para matar e depois de morta é carne para os mais necessitados locais.Eu só gosto das faenas e vejo pelas diversas formas de imagens. Mas não acho ninguém ali pior do que eu.Provavelmente não teria estômago para ver uma tourada inteira. Menos, menos, que o ser humano é um leque diversificado e colorido.E, se bobear o touro mata; na arena ou na vida.
Boa noite .sr Armando . Sou Eliana moro em Santo André .SP .e venho dês dos meus 28 anos. Pois hoje tenho 62. Procurando saber de Luiz belo .se o sr o conheceu .ou tem contato com algum familiar . Por favor me passe o contato .pois gostaria de co haver minhas origens .sou filha de Luiz belo .gostaria de ver pelo menos uma foto. Pois esse direito foi me negado a vida toda .se o sr acompanhou a trajetória de meu pai (Luiz belo ) teve ter conhecido minha mãe .ela tinha uma dupla sertaneja com seu marido que era .Neno e Nena .fizeram nome cantando em circos e tinham um programa na radio bandeirantes .e cantavam folia de reis .por favor se o sr tiver qualquer informação me auxilia .só quero saber quem ele era .não quero mais nada .meu contato .011 9 51 39 37 76 agradeço das de já .
Boa noite .sr Armando . Sou Eliana moro em Santo André .SP .e venho dês dos meus 28 anos. Pois hoje tenho 62. Procurando saber de Luiz belo .se o sr o conheceu .ou tem contato com algum familiar . Por favor me passe o contato .pois gostaria de conhecer minhas origens .sou filha de Luiz belo .gostaria de ver pelo menos uma foto. Pois esse direito foi me negado a vida toda .se o sr acompanhou a trajetória de meu pai (Luiz belo ) teve ter conhecido minha mãe .ela tinha uma dupla sertaneja com seu marido que era .Neno e Nena .fizeram nome cantando em circos e tinham um programa na radio bandeirantes .e cantavam folia de reis .por favor se o sr tiver qualquer informação me auxilia .só quero saber quem ele era .não quero mais nada .meu contato .011 9 51 39 37 76 agradeço das de já .
Sim, já faleceu.
Era meu tio, irmão de meu pai
Sebastião Belo meu avô materno. Não sei o parentesco mas a origem dele é Capitólio. Em minha terra Guapé havia touradas locais com Pedro Cavalhada e o nome Luiz Belo era sempre lembrado como um ídolo. Até 1978 me lembro de ter assistido touradas em Guapé
Esse circo tinha o nome de Luiz Belo? Minha tia tinha 12 anos quando fugiu com rapaz desse circo,nunca mais ninguém soube dela o nome dela é Maria das dores
Eu conheci Luiz Belo era um excelente toureiro, gostei desta história sobre a trajetorea de um dos maiores toureiro brasileiro
Eu fui toureiro nesta mesma época no circo formiguinha também de formiga e também no circo dois irmãos de Guapé
Luiz Belo dava prazer em velo toureiro
Meu nome é José Bento amador vulgo toureiro meia noite
Muito legal essa história, parabéns a escrita que fica registrado agora para sempre
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