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segunda-feira, 1 de junho de 2009

O MEU AMIGO ANTÔNIO MACÊDO


                                                                                      Antônio Macêdo.


A expressão “meu amigo”, a meu ver, não é bem colocada na boca de muitas pessoas que a confundem com companheirismo, coleguismo etc. Um amigo na essência da palavra é um presente de Deus... É um patrimônio sagrado. --- No mundo atual, um amigo de verdade está ficando muito difícil. ---- Neste mundo de ambição, corrupção, desonestidade, o materialismo vai só aumentando e junto com ele a ganância, e com isso o sentimento humano que ampara as boas amizades vai desaparecendo dia após dia.

---Um amigo de verdade nunca cobra pelos favores; é sinônimo de simpatia, estima e fidelidade. Ele briga em nome da amizade; não poupa o amigo da franqueza e nem da verdade. ---- Tem sempre uma boa palavra de ânimo para alimentar a alma do amigo. ---- A distância não separa uma grande amizade. Ele não precisa estar perto. Mesmo distante é uma mão estendida. Conhece-se um grande amigo nos momentos difíceis da vida. Quem nunca teve um momento de dificuldade na vida, não saberia avaliar um amigo. Enfim, um grande amigo não divide apenas uma despesa e o sorriso; ele divide, também, a lágrima e a tristeza. ---- Comumente se vê por ai alguém dizer: fulano é meu amigo... Beltrano é meu amigo... Cicrano é meu amigo... Na maioria dos casos não passam de “fulanos e beltranos” simples companheiros ou amigos restritos que não se entrelaçam de urtigas e rosas.

--No meu rol de amigos, o que não me completa os dedos das mãos, um deles eu não o coloco nos armários da minha memória porque ele está no pretérito, no presente e no futuro da minha vida. E o seu nome só poderia estar na capela do meu coração recebendo as bênçãos de Deus rogadas por mim, como forma de lhe retribuir os tantos favores que dele recebi e que por toda a vida tenho sido beneficiado: o meu amigo ANTÔNIO MACÊDO.

--Quando fui menino, em Candeias, às vezes, ficava à porta de minha casa, na Rua Coronel João Afonso e, de quando em vez, via descer e subir, com uma pasta, aquele jovem elegante nas vestes e no porte. Tinha mais ou menos dezoito anos; rosto corado, alegre e mostrando que era saudável. O seu objetivo naquela parte da cidade era o comerciante Vicente Vilela, que ficava abaixo, na esquina. Como era costume os viajantes passarem por ali para visitar o Vicente, eu imaginava que aquele jovem também fosse um viajante. Posteriormente fui entender que se tratava de um funcionário do Banco Mineiro da Produção S.A. e como o cliente era economicamente folgado, entendia-se que o Banco o atendia em seu domicílio.

--E sempre quando ali passava, talvez pela curiosidade minha e de outros ajuntados, ele sempre brincava falando alguma coisa que agora, no momento não me faço lembrar... E foi ai que conheci Antônio Macedo, nascido no dia 14 de abril do ano de 1938. Filho do Sr. Leônidas Macêdo e Dona Julita Lamounier Macêdo. Tornamo-nos amigos posteriormente, com a chegada de um Ginásio para Candeias; o que levou muita gente a matricular-se no curso ginasial. Com isso as diferenças de idade foram misturadas. Matricularam-se alunos de 12 a 30 anos. O ginásio ainda sem uma sede definitiva foi inaugurado provisoriamente, funcionando apenas no horário noturno, na sede do Grupo Escolar Padre Américo.

--Lembro-me, bem, que Antônio Macedo, Antônio Carlos e Guilherme Ribeiro, eram alunos líderes e deu algum trabalho para os administradores do ginásio. Isso porque a bagunça era total e o trio queria ver a casa organizada. Falava-se que os três mandavam no Ginásio.

--A nossa professora de matemática era uma jovem muito bonita e grande simpatia, de nome Shirley Santos, natural da vizinha cidade de Cristais. E o Antônio Macedo ao invés de prestar a sua atenção na aula, prestava mais atenção na professora. ---- O namoro começou e posteriormente se casaram e foram muito felizes. Tiveram três filhos: Antônio Macêdo Junior; Alisson e Alex; muito bem encaminhados na vida. O primeiro, Dr. Antônio Macêdo Jr. médico muito conceituado com vários cursos no exterior e um dos primeiros no Brasil na sua especialidade. Além disso, um músico excelente. --- Dr. Alisson Macêdo é engenheiro construtor do Clube de Candeias; e o Dr. Alex Macêdo, dentista. --- Filhos inteligentes e bem orientados --- Durante o nascimento desses meninos, eu trabalhava com Antônio que não sabia como deixar de demonstrar tamanha felicidade. Os filhos já nasceram em São Paulo.

--Em Candeias Antônio Macêdo era funcionário do Banco Mineiro da Produção S.A. posteriormente Banco do Estado de Minas Gerais S.A. --- O seu primeiro veículo foi uma bicicleta; depois uma motocicleta. Quando foi para oliveira comprou um Chevrolet daqueles antigos. Naquele tempo um carro de 30 anos ainda tinha comercio. Posteriormente comprou um Chevrolet 51, ----- Ele sempre cresceu na vida com honestidade e trabalho.

--Naturalmente, no sentido de fazer carreira no Banco, transferiu-se para Oliveira e voltava a Candeias todos os fins de semana para ver a namorada, quando ensaiávamos peças de teatro cuja renda era em benefício da construção da nova Matriz. Havia em Candeias um grêmio teatral liderado por diversos artistas amadores e entre eles Antônio era um dos líderes. Eu participei desse grupo como contrarregra e sonoplasta e depois fazendo papéis no palco.

--Posteriormente Antônio morando em Oliveira, arrumou para mim um emprego na Churrascaria Fátima. E eu fui morar em Oliveira num alojamento da churrascaria; onde permaneci por alguns meses. Era ainda, menor de idade.

--Antônio Macêdo ainda com o seu projeto de carreira no Banco e funcionário muito competente, teria sido transferido para São Paulo onde iria ocupar um cargo importante numa das Agências daquela capital.

--Algum tempo depois eu voltei para Candeias e era encarregado do bar do Clube Recreativo Candeense. ---- Antônio estava sempre em Candeias, pois saiu de Candeias, mas Candeias não teria saido dele. E certo dia depois de servi-lo numa das mesas do Clube e ao pagar a conta ele me disse: “Olha aqui Armando: Eu nunca dei gorjeta, toma aqui essa é a primeira gorjeta que estou dando porque aprendi isso lá em são Paulo”.

--Antônio era bastante influente no Clube. Era um grande colaborador daquela casa com as suas ideias sempre inteligentes e respeitadas. Foi ai mais um convívio que tive com ele. --- Ele era o tipo que não deixava para falar depois. Era convicto nos seus atos, sincero, gozador, amigo e quem não o conhecia bem, ignorava a sua humildade.

--Quando completei 18 anos me decidi ir para São Paulo. Era a minha esperança. Era a esperança de todo jovem pobre sem grande preparo cultural, pois eu não teria completado o ginásio em Candeias... Sem uma profissão. São Paulo era a esperança de dias melhores para todo jovem nas minhas condições.

--Devido a grande crise que São Paulo atravessava na época em que se aproximava da revolução de 1964. Permaneci por seis meses em São Paulo vivendo privações não consegui nada. Assim voltei para Candeias, decepcionado; angustiado e agora receoso, portando uma intranquilidade íntima, sem uma profissão... Sem experiência e o pior: sem expectativas...

--Comecei então, a trabalhar como ajudante do pintor de paredes com Gabriel Carlos, também muito amigo de Antônio Macêdo.

-- Encontrei-me certo dia com ele quando me disse: Armando vai dar uma vaga de continuo na Agência do Banco onde eu trabalho. Tem outros pretendentes, mas se você quiser o meu candidato é você e isso depende de mim. Se você quiser o lugar é seu. Com essa proposta a voz de Antônio Macêdo nunca mais saiu de meus ouvidos. E é fácil imaginar como foi a minha alegria, a minha emoção e a minha gratidão.

--A função de contínuo nesse tempo era fazer a faxina, coar café e entregar cartas na rua. Mas teria a chance de melhorar de cargo se aprendesse os serviços bancários. Eu teria essa chance. Senti, então que nesse caso já dependeria de mim. Eu teria que estudar mais e fazer uma prova para melhorar de cargo. E sobre mim eu não tinha nenhuma dúvida.

--Ora, eu que na minha adolescência teria trabalhado em diversas áreas como ajudante sem ver nenhuma chance, queria algo onde o futuro me aguardasse, e já com 19 anos não teria sequer completado o curso ginasial, pois o ginásio ainda desorganizado foi fechado para se organizar sem a certeza de que seria reaberto quando eu cursava ainda o terceiro ano. Não teria sequer passado de ajudante de pintor, garçom do Clube e depois de ter voltado de São Paulo como se tivesse escorregado na lama sobre o mármore! Convivendo com o medo do futuro, medo de mudanças e incertezas... Isso para mim já não eram desconfortos eram metafísicas! E agora aquela pergunta! Aquela oferta tão assim verdadeira! --- A resposta foi de pronto e algum tempo depois no dia 7 de agosto de 1966 eu fui novamente para São Paulo, em sua companhia e de sua esposa, agora já gravida do seu primeiro filho. Lembro-me de quando eu lhe perguntei como seria o nome do filhote ele deu aquela risada e disse: “Juninho”

--Antônio Macedo me colocou no Banco. Ajudou-me nas primeiras promoções – Foi meu fiador – foi meu avalista... Emprestou-me dinheiro... Corrigiu-me nos meus erros... Aconselhou-me orientou-me e me fez digno de respeito. Nas minhas falhas chamava-me atenção, como um pai. Portanto, para mim ele foi mais que um amigo, foi um segundo pai que me orientou e me acompanhava de longe porque a distância nunca atrapalhou a nossa amizade.

--A minha transferência de São Paulo para Minas foi muito importante para mim e sem a sua ajuda teria sido impossível. No seu casamento; nas suas bodas de prata; nos casamentos de seus filhos; no seu aniversário dos cinquenta anos, na comemoração dos seus setenta e oitenta anos; sempre o meu nome esteve na relação de seus convidados.

--Por ocasião da minha viuvez em 1988 e a morte de minha filha em 2007, eu pude receber a sua mensagem e uma pergunta de amigo verdadeiro: “Você está precisando de alguma coisa?” Eu não me lembro de ter feito, um dia, algum favor para o meu amigo Antônio Macedo. Ele nunca precisou... E quem era eu? Um rapaz pobre, sem recursos, sem profissão e de pouca instrução.

--Durante os trinta e dois anos que fui funcionário do Bemge posso dizer que fui muito bem sucedido, pois cheguei a gerente da 8ª das 480 agencias do Banco. Contudo, é com certeza que isso se deu porque sempre, mesmo distante, eu não me esqueci dos ensinamentos e dos princípios do meu professor.
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Prezado amigo Antônio Macedo, obrigado por essa amizade tão rara nos nossos dias e que só me fez bem. Obrigado por tudo que fez por mim. Só quem conviveu com você sabe o quanto gostava e o quanto ajudou as pessoas. O seu coração era tão grande que mal cabia no seu peito. Amigos como você não morrem nunca porque apenas se encantam e passam a morar nos corações por quem foram amados. Portanto, estaremos doravante, meu amigo, nos comunicando através das vias celestiais. Grande abraço.

--Aos familiares, Esposa Shirley, filhos e netos, o meu abraço e recebam os meus parabéns por terem sido agraciados por Deus dando-lhes um patriarca que reunia tantas virtudes como Antônio Macêdo.

--Armando Melo de Castro.

Candeias MG Casos e Acasos.



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