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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

CANDEIAS, A TERRA DO PASTEL.


 

Uma preferência alimentar dos candeenses foi sempre o pastel. O pastel faz parte da nossa cultura. Em Candeias nunca faltou pastel. Já tivemos várias pastelarias e até pastel japonês e chinês; isso sem contar as pasteleiras caseiras que foram passando de tempos em tempos desde a época de Dona Mariazinha, Quinha da Maria do Juca e depois a Dalva do Bebé e a Isaura. --- O pastel candeense é característico. Recentemente eu encontrei aqui em Juiz de Fora, uma lanchonete onde se vendem pastel igual o antigo como da Dalva do Bebé, aquele pastel que não falta e nem sobra carne. O pastel muito cheio de carne não é bom.

Hoje eu não tenho conhecimento de quem lidera o preparo caseiro dessa delícia e nem quantas pastelarias ainda existem. Mas com certeza não estará faltando pastel nas festinhas, sejam de batizados, aniversários ou casamentos. O pastel está presente, também, nos bares, lanchonetes e nos botecos.

No Brasil o pastel chegou na década de 40 em Santos SP, pela vinda de japoneses fugidos da guerra e que fizeram uma adaptação da sua guioza, com os rolinhos-primavera dos chineses. Esse resumo ficou sendo o pastel que se come hoje no Brasil.

Eu, desde menino sou louco com pastel. Não podia ver uma prata no bolso que corria ao barzinho do Miguel Simões, na Rua Professor Portugal com a Praça Antônio Furtado, para comprar um pastelzinho daqueles feitos pela Luíza sua esposa. --- Miguel Simões era um Gaúcho que se aportou em Candeias trazido por um circo. Enamorou-se da Luiza, oriunda da comunidade dos Pereiras, e com ela tiveram dois filhos: O Edmundo Simões o qual ele o chamava de Dumundo, e a Anita Simões, amiga de infância da minha mãe, que a levou no futuro para minha madrinha de representação.

Anita casou-se com o filho de um turco de Campo Belo. Ficaram então, o Miguel, a esposa, e o Edmundo que depois se casou com a Wanda, filha também de um turco. O Miguel Turco, --- Edmundo e Wanda são os pais do nosso amigo Miguelzinho Simões. Portanto, podemos ver numa só família três migueis. --- O nome Miguel sempre foi evidente em Candeias. Veja nos fregueses do Miguel.

--- A casa não era grande e dividia com o barzinho, onde o Edmundo era o balconista. --- Nos fundos havia um pequeno cômodo onde era exercido o jogo de baralho. A “Cacheta”, o conca, o 21 e o 31 rolavam soltos. A polícia pouco mexia com os jogadores, a não ser quando havia uma denúncia. –

- O forte do Miguel Simões era o seu bifão que ele fazia nas madrugadas para o qual ele tinha bons fregueses como, Miguel Pacheco, Miguel Lara, Orlando do Melão, Lulu, o gerente do Banco Mineiro da Produção; o Rômulo Narde e muitos outros.

Miguel era um excelente cozinheiro. --- Esse bifão, após a sua morte, o Edmundo passou dele a receita para o Lulu, que deu nome ao seu restaurante de Bifão. O tempero desse bife era uma receita tradicional trazida do Rio Grande do Sul pelo Miguel. --- Certa vez eu pedi ao Miguelzinho Simões Neto e ele fez para mim um litro desse tempero, que foi um sucesso.

As quitandas e salgados vendidos no barzinho eram todos feitos pela Luísa esposa do Miguel. Numa vitrine forrada com um papel de seda azul estava sempre expostos os biscoitos, os pães de queijo, broa de amendoim, um prato de doce de leite em pedaços e uma grande bandeja com pastel. Tudo isso apresentava um desencontro com os ingredientes. Isso porque em alguns sobravam e em outros faltavam: O doce de leite por exemplo, sobrava açúcar e faltava leite; o pão de queijo faltava queijo; o pão da hora faltava ovo; os biscoitos pareciam ser apenas de água, polvilho e sal; E o pastel, sobrava batata e faltava carne. Mas era tudo tão baratinho que vendia tudo. Era um tempo em que não se exigia qualidade porque o preço não deixava.

Eu acho que o pastel era o mais vendido ali no barzinho do Miguel Simões. Afinal ele era o mais macio; tinha um semblante mais jovem e pelo menos um cheiro de carne para o quê era mais próprio para tira-gosto. --- O meu amigo Lei Careta, sempre dizia: “ O pastel da Luísa se a gente morder nele e não sair vento, a carne é batata”. Eu comia aquilo e achava uma delícia. Na época da gripe asiática, eu não queria comer outra coisa a não ser pastel da Luiza. Meu pai foi lá e arrematou toda a bandeja, aí eu nadei e rolei.

Luísa gostava de um vinho. E aquela senhora trabalhadeira, quieta, silenciosa que ficava sempre na janela da rua, olhando o povo passar ou recebendo os bons dias, de quando em quando tirava um dia para acompanhar o seu marido numa garrafa de vinho. Ai ela ficava prosa e costumava ficar junto com o Edmundo por de dentro do balcão. Ora, o produto estava bem ali próximo dela e ela quando tinha tomado umas doses de vinho, ela ficava prosa e muito engraçada e brava também.

--- O Edmundo como falava baixo, dizia: “Mãe, vai lá pra dentro” e ela respondia: “Vai encher o saco da sua avó Dimundo!!!” – E o Edmundo com aquela sua voz macia e baixa dava aquele sorriso sorrateiro e dizia: “ Ela é sua mãe mãe...” Edmundo era um grande amigo, bom de bola e um dos meus craques do meu querido Rio Branco Esporte Clube, onde o seu pai era o técnico.

Certo dia chegou o Altivo, filho da Dona Maria do Estevão, a parteira. Tinha o apelido de DEDO, Também bebia, mas se mantinha calmo, tranquilo. Ele pediu uma pinga e um pastel para tirar gosto e quando ele mordeu no pastel sentiu um cheiro forte e bradou: “Esse pastel está fedendo; parece que está com cheiro de peido... Isso deve ser de onti”.

Ai então a Luísa pirou-se e abriu o verbo: “Fedorento é sua boca, ou seu rabo. Daqui onde eu tô dá pra senti a sua catinga.

E o Dedo: “Que isso Luísa, carma sô! Tá fedeno mais dá pá cumê

Ah! Que saudade daquele pastel!

Armando Melo de Castro.

 

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