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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

EU E A MINHA ADOLESCÊNCIA.


 A adolescência se compreende no período entre a infância  e a fase adulta. --- A meu ver, no entanto, trata-se de um meninão a beira de um rio durante uma enchente, querendo atravessa-lo a nado, mas não sabe nadar. É um trecho da vida cheio de surpresas e conhecimentos lesados pela insegurança. É um período do desenvolvimento psicológico. É um conflito diante das mudanças sociais e biológicas. Trata-se de uma transição quando o adolescente aguarda atingir a sua identidade social. Além da insegurança, inclui-se também, o medo a inexperiência, as incertezas e a falta de orientação dos pais que normalmente acontece não por descuido, mas pela questão cultural que os envolve. Um adolescente precisa muito da compreensão dos pais, e isso nem sempre acontece não por descuido, mas por uma questão cultural. É necessário, portanto, que os pais sejam mais atentos nessa fase da idade dos seus filhos.

Hoje aos 76 anos de idade posso ver o quanto o mundo está mudado.  Fico relembrando como esse coitado desse meu coração sofreu no meu tempo, pertencendo a um menino tímido, completamente inexperiente num tempo que tudo era pecado e eu criado num ambiente restrito. Afinal, o amor é como a sede ou uma secura na garganta, qualquer água pode servir. ---- Certa vez ouvi a minha mãe falar para uma amiga dela sem que não soubesse que eu ouvia: “O Armando é tão inocente!” E ao ouvir isso eu imaginei logo: o que eu sou é um bobão!  --- Aos sábados via a porta da igreja cheia de gente. Era um casamento... E eu pensava, será que eu vou me casar um dia? Amar eu amava; apaixonar eu me apaixonava, até pelas namorados dos outros rapazes. E quantas vezes a inveja invadia o coração desse menino bobo perdido no oceano da sua adolescência.

No alvorecer dos meus 15 para os 16 anos, natural seria começar a desabrochar em mim os desejos do coração. Eu sentia já uma imperiosa necessidade de amar ou de interessar por alguém. Eu começava  a observar os namorados e quando via um casal numa cena de amor no cinema, como um beijo por exemplo. --- Eu digo no cinema porque namorados se beijando pelas ruas não se via) e eu perguntava para mim mesmo: Qual será o sabor de um beijo? Qual será o sentimento de alguém quando está dando ou recebendo um beijo? Queria entender, também, quem estaria dando o beijo se era o homem ou a mulher? E quanta coisa mais alimentava a minha curiosidade, o sexo por exemplo... As mudanças do meu corpo... E quem para me responder essas perguntas ou para satisfazer as minhas curiosidades? Felizmente, eu tive a sorte de ter um pai que depois de algum tempo me chamava num canto e me dava respostas sem perguntas. Porque o mais difícil para mim era fazer as perguntas.

Olhava-me no espelho e o odiava. Não me achava robusto. Era magro com um cabelinho partido e um sorriso triste. Não tinhas roupas bonitas e nem dinheiro para bancar. No cinema eu imaginava Elvis Presley o homem mais feliz do mundo e invejava até o Grande Otelo. Parece que um espírito de inferioridade vinha apossando-se de mim. E não fosse as conversas de meu pai para comigo, talvez esses males atingidos pela adolescência estaria me acompanhando até hoje. Eu fui sem dúvida um menino muito feliz, mas na adolescência eu tive uma recaída, felizmente superada.

A minha primeira decepção durante a minha adolescência, aconteceu foi quando eu ganhei uns olhares muito graciosos de uma garota que morava ali pelos lados da Lage. Isso porque eu me apaixonava com muita facilidade. --- A minha presença na missa aos domingos era sagrada. E como a Igreja Matriz estava em reforma, as missas aconteciam na Igreja do Senhor Bom Jesus. --- Eu tinha um lugar preferido que era próximo do confessionário onde ficava mais próximo das mulheres. E certo dia eu observei que essa garota não tirava os olhos de mim. E daí passei a corresponde-la. Os nossos olhares se cruzavam o tempo todo da missa, e quanto a missa eu só me lembrava da hora da consagração. --- Três missas foram o suficiente para me apaixonar por aquela garota. Assim, aquela menina se tornou para mim a minha santa, o meu altar, o padre, e todos os santos. Ocupávamos os mesmos lugares. Eu ficava o tempo todo pedindo a Deus para me dar coragem de aborda-la lá na rua. E quando me lembrei de Santo Antônio, meu irmão desde 1947 na irmandade que minha avó  me colocou, o meu santo me atendeu, eu na quarta missa eu a segui com os olhos após a missa e quando ela entrou na rua que desce, da farmácia do Julinho, ela deu uma olhada para traz e me viu, e assim maneirou os seus passos e eu cheguei.

Eu empanado na ignorância parecia ter certeza  de que aquela garota estava apaixonada por mim. Aproximei-me dela e num acesso de euforia disse:

Eu----  Oi!

Ela---  Oi, crê tá bão?

Eu---  Tô e ocê?

Ela---  Eu tamém tô!

Eu--    vi ocê oiano prá mim...

Ela---  Eu tamém vi...

Eu---  Ocê é muito bonita!

Ela--- Ocê é mais qui eu... 

EU--- Quase desmaiei com essas palavras. E disse: ocê é mais qui eu...

Ela--- Brigado. Ocê é amigo do Caiana num é?

Eu --- Sou muito amigo dele desde o tempo de iscola.

Ela--  Quria te pidi um favor, um favor bem grande!

Eu---  Pode pidi o qui ocê quise, se eu pudé?

Ela--- Eu sou doida com ele. Pra mim é o home mais bunito das candeia.

Eu--- Mais o quê qui ocê qué qui eu faço?

Ela---Falá cum ele que a Mariquinha da Zéfa é doida quele. E qui eu quero incontrá quele...

Nessa hora eu parei e disse. Vou voltar daqui. Eu vou falar com o Caiana para você. Mas eu fermentava por dentro como uma dorna de alambique. Parecia que alguém havia vomitado em mim. Era o amor de um adolescente se transformando em ódio ---  E na igreja mudei o lugar de assistir à missa e pedia perdão a Deus, por ter amado uma diaba dentro da igreja.

Anos depois, eu numa conversa com o Caiana contei-lhe essa história E ele riu muito e disse-me: “Nossa Armando! Eu nunca vi uma pessoa tão complicada, ela pedia todo mundo para me dar recado. Eu já não aguentava mais. Eu só me vi livre dela depois que sai de Candeias. Aquela moça batia até na mãe dela.”

Na adolescência eu adorava escrever cartas de amor. E como não podia remetê-las eu as queimava. É bom lembrar que um dia habitei no mundo da adolescência, mundo em que os pais dão trabalho para os filhos.

Armando Melo de Castro.

 

NB) Caiana era filho do Sr. Gerson. Foi um grande amigo meu desde os tempos de escola no Padre Américo. Seu verdadeiro nome era José Vicente. Era muito conhecido em Candeias. Trabalhava de motorista do DER quando foi morto num acidente de estrada.

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