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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A CRIANÇA NÃO MORRE DENTRO DE NÓS.


 Eu hoje amanheci triste por ter sido injustiçado num fato ocorrido ontem à tarde comigo. Se escrevo sobre isso é uma forma de desabafo para com os meus amigos. ---Nas encruzilhadas da estrada da vida, também, às vezes, somos levados a caminhos diferentes e indesejáveis. ----- Eu fui um menino muito querido pelas pessoas idosas. Sempre os tratei com respeito e o faço até hoje. Meus pais me ensinaram a tomar a bênção não só deles, mas, também de tios, padrinhos, dos padres, das catequistas etc. Lembro-me sempre da catequista Maria Brasileira, uma solteirona, neta do Padre Américo, quando dela eu tomava a benção e ela respondia com todo o carinho: “Deus o abençoe meu queridinho”. Se a pessoa fosse mais velha do que eu seria senhor. ----- Eu sempre gostei muito de crianças. Tenho diversos afilhados em cidades onde passei, filhos de vigilantes do Banco onde trabalhei e de colegas de trabalho.

Sempre brinco dizendo que as crianças não deveriam crescer. Pois eu imagino que uma criança por mais pobre que seja, por mais humilde que seja a sua família, ela é feliz porque ainda não conhece o mundo, onde impera a maldade, a mentira, o desrespeito, a corrupção moral, enfim todo o desgaste humano que a vida nos oferece. --- Eu sempre brinco com um pai ou mãe jovens quando estão com uma criança no colo: “Aproveite bastante esse tempo, porque um dia ele será a sua grande saudade.” Os filhos crescem muito rápido e depois de crescidos passam a pertencer mais ao mundo do que aos pais. Afinal nós os criamos para o mundo.

--- “Se vejo uma criança chorando sempre me aproximo na tentativa de poder ajudar.”--- Quantos adultos hoje em Candeias, até mesmo já avós, com os quais eu conheci nos colos de seus pais. Carrego comigo uma saudade muito grande dos meus filhos na infância. Não consigo vê-los como adultos, assim como não consigo, também ver filhos de amigos e sobrinhos sem ser chamado a atenção pela saudade.

-- Gosto muito de lembrar das músicas no alto falante do Cinema em Candeias, exercido pelo meu grande amigo Sebastião Salviano, numa discoteca onde havia uma velha música do histórico cantor Francisco Alves, a valsa da Canção da Criança. – Cuja letra encontra-se muito bem guardada dentro de mim. ----------- Criança feliz, feliz a cantar, alegre a embalar um sonho infantil, ó Meu bom Jesus, que a todos conduz, olhai as crianças do nosso Brasil. ---- Criança com alegria, qual um bando de andorinhas, ouviram Jesus que dizia: vinde a mim as criancinhas! ---- Hoje no céu num aceno, os anjos dizem amém porque Jesus Nazareno foi criancinha também.

Ontem quando eu me dirigi até a Avenida Brasil, aqui em Juiz de Fora, tive uma grande decepção. Ao passar perto de um ponto de ônibus, quando havia muitas pessoas aguardando os coletivos, ouvi uma criança chorando desesperadamente. A criança deveria ter de quatro a cinco anos de idade, e a mãe, também bastante jovem, gritava com aquela criança, dizendo brutalmente: “cale essa boca, senão vai apanhar aqui na rua”. E a criança tremia e tinha o rosto quase roxo. --- As pessoas ali rodeadas olhavam assustadas o comportamento daquela mãe, mas não faziam nada. Eu parei, e perguntei o que estava acontecendo com a criança, se precisava de ajuda. --- É de todo sabido que uma criança quando está com fome pode ficar transtornada, principalmente em se tratando de uma criança com problemas de fobia alimentar quando ele dispensa alguns alimentos e preferem outros.

Eu simplesmente perguntei se a criança não estaria com fome... Nisso aproximou-se uma senhora de meia idade, parecia ser avó da criança, e disse alto e em bom som olhando para mim: “Faça ele calar essa boca Tânia, porque é só menino começar chorar já aparece um pedófilo”. ---

- Algumas das pessoas por perto, riram e acharam engraçado aquela bordoada moral que aquela senhora me deu injustamente sem que eu pudesse me defender dadas as circunstâncias. ---- Foi, para mim, como tomar um tapa no rosto. Naquele momento eu me senti emocionalmente desorganizado, parecendo-me ter tomado um tiro. Eu não tinha o que falar. Afastei-me silenciosamente sobre o olhar maldoso daquela gente.

Durante os meus quase 76 anos, nunca me senti tão impotente em toda a minha vida. E após esse fato, no silêncio da minha consciência eu pude entender o que diz o rifão: “Existem palavras que cortam mais que as facas; elas não cortam a pele, mas rasgam a alma.” --- Eu não sei, se a partir de hoje eu terei mais a coragem de brincar com alguma criança, principalmente quando estiver acompanhada dos pais meus desconhecidos.

Sinto em mim que começamos a morrer antes da morte chegar. Senti morrer um pouquinho naquele momento.. ---- Infelizmente, o convívio humano está a cada dia ficando pior. O comportamento das novas gerações vem se transformando a cada dia. E a gente idosa vai se perdendo na modernidade do mundo. ---- O respeito, o amor, a consideração, a gentileza, a solidariedade, já não são mais exercidos, no sentido de uma vida feliz. É lamentável.

Armando Melo de Castro.

 


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