Eu hoje amanheci triste por ter sido injustiçado num fato ocorrido ontem à tarde comigo. Se escrevo sobre isso é uma forma de desabafo para com os meus amigos. ---Nas encruzilhadas da estrada da vida, também, às vezes, somos levados a caminhos diferentes e indesejáveis. ----- Eu fui um menino muito querido pelas pessoas idosas. Sempre os tratei com respeito e o faço até hoje. Meus pais me ensinaram a tomar a bênção não só deles, mas, também de tios, padrinhos, dos padres, das catequistas etc. Lembro-me sempre da catequista Maria Brasileira, uma solteirona, neta do Padre Américo, quando dela eu tomava a benção e ela respondia com todo o carinho: “Deus o abençoe meu queridinho”. Se a pessoa fosse mais velha do que eu seria senhor. ----- Eu sempre gostei muito de crianças. Tenho diversos afilhados em cidades onde passei, filhos de vigilantes do Banco onde trabalhei e de colegas de trabalho.
Sempre brinco dizendo que as
crianças não deveriam crescer. Pois eu imagino que uma criança por mais pobre
que seja, por mais humilde que seja a sua família, ela é feliz porque ainda não
conhece o mundo, onde impera a maldade, a mentira, o desrespeito, a corrupção
moral, enfim todo o desgaste humano que a vida nos oferece. --- Eu sempre
brinco com um pai ou mãe jovens quando estão com uma criança no colo:
“Aproveite bastante esse tempo, porque um dia ele será a sua grande saudade.”
Os filhos crescem muito rápido e depois de crescidos passam a pertencer mais ao
mundo do que aos pais. Afinal nós os criamos para o mundo.
--- “Se vejo uma criança
chorando sempre me aproximo na tentativa de poder ajudar.”--- Quantos adultos
hoje em Candeias, até mesmo já avós, com os quais eu conheci nos colos de seus
pais. Carrego comigo uma saudade muito grande dos meus filhos na infância. Não
consigo vê-los como adultos, assim como não consigo, também ver filhos de
amigos e sobrinhos sem ser chamado a atenção pela saudade.
-- Gosto muito de lembrar das
músicas no alto falante do Cinema em Candeias, exercido pelo meu grande amigo
Sebastião Salviano, numa discoteca onde havia uma velha música do histórico
cantor Francisco Alves, a valsa da Canção da Criança. – Cuja letra encontra-se
muito bem guardada dentro de mim. ----------- Criança feliz, feliz a cantar,
alegre a embalar um sonho infantil, ó Meu bom Jesus, que a todos conduz, olhai
as crianças do nosso Brasil. ---- Criança com alegria, qual um bando de
andorinhas, ouviram Jesus que dizia: vinde a mim as criancinhas! ---- Hoje no
céu num aceno, os anjos dizem amém porque Jesus Nazareno foi criancinha também.
Ontem quando eu me dirigi até
a Avenida Brasil, aqui em Juiz de Fora, tive uma grande decepção. Ao passar
perto de um ponto de ônibus, quando havia muitas pessoas aguardando os
coletivos, ouvi uma criança chorando desesperadamente. A criança deveria ter de
quatro a cinco anos de idade, e a mãe, também bastante jovem, gritava com
aquela criança, dizendo brutalmente: “cale essa boca, senão vai apanhar aqui na
rua”. E a criança tremia e tinha o rosto quase roxo. --- As pessoas ali
rodeadas olhavam assustadas o comportamento daquela mãe, mas não faziam nada.
Eu parei, e perguntei o que estava acontecendo com a criança, se precisava de
ajuda. --- É de todo sabido que uma criança quando está com fome pode ficar
transtornada, principalmente em se tratando de uma criança com problemas de
fobia alimentar quando ele dispensa alguns alimentos e preferem outros.
Eu simplesmente perguntei se a
criança não estaria com fome... Nisso aproximou-se uma senhora de meia idade,
parecia ser avó da criança, e disse alto e em bom som olhando para mim: “Faça
ele calar essa boca Tânia, porque é só menino começar chorar já aparece um
pedófilo”. ---
- Algumas das pessoas por
perto, riram e acharam engraçado aquela bordoada moral que aquela senhora me
deu injustamente sem que eu pudesse me defender dadas as circunstâncias. ----
Foi, para mim, como tomar um tapa no rosto. Naquele momento eu me senti
emocionalmente desorganizado, parecendo-me ter tomado um tiro. Eu não tinha o
que falar. Afastei-me silenciosamente sobre o olhar maldoso daquela gente.
Durante os meus quase 76 anos,
nunca me senti tão impotente em toda a minha vida. E após esse fato, no
silêncio da minha consciência eu pude entender o que diz o rifão: “Existem
palavras que cortam mais que as facas; elas não cortam a pele, mas rasgam a
alma.” --- Eu não sei, se a partir de hoje eu terei mais a coragem de brincar
com alguma criança, principalmente quando estiver acompanhada dos pais meus
desconhecidos.
Sinto em mim que começamos a
morrer antes da morte chegar. Senti morrer um pouquinho naquele momento.. ----
Infelizmente, o convívio humano está a cada dia ficando pior. O comportamento
das novas gerações vem se transformando a cada dia. E a gente idosa vai se
perdendo na modernidade do mundo. ---- O respeito, o amor, a consideração, a
gentileza, a solidariedade, já não são mais exercidos, no sentido de uma vida
feliz. É lamentável.
Armando Melo de Castro.
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