Quando eu saio do meu
presente para dar uma volta ao meu passado, eu não poderia estar noutro lugar a
não ser em Candeias. --- Minha terra querida que já não seja tão minha, mas a
vida ali vivida me dá o direito de revivê-la através da saudade. --- Afinal, só
sente saudade quem foi feliz. ---
Era uma vidinha humilde,
porém, feliz. ----- Agora, com a morte de minha mãe, estou completamente
desligado do meu torrão natal. ---- Mas passeio por lá todos os dias, através
desse sentimento nostálgico.
Não se trata da mesma
Candeias onde eu nasci e vivi, mas é a Candeias que guarda os meus ascendentes;
os meus amigos, minha infância e juventude, principalmente a infância. Lá está,
ainda, a Pia Batismal onde me foi feito o assento do meu batismo. Lá ainda está
à rua onde eu nasci e por ela subia e descia todos os dias. Está a Avenida 17 de
Dezembro, hoje tão diferente do tempo em que era chamada de 'LARGO". Tantas praças! Tantas casas apareceram e tantas desaparecidas.
Com a minha residência
próxima da Catedral de Juiz de Fora, convivo com o bimbalhar dos seus sinos o
que me transporta ao meu passado religioso da velha matriz de Candeias. ----
Ainda
soa em meus ouvidos as badaladas do meio dia e a “hora do Ângelus” em Candeias. ---- Os sinos da velha matriz não silenciaram para os meus ouvidos. A demolição da
antiga Matriz mexeu profundamente comigo. Eu consigo fechar os olhos e me ver
dentro daquela inesquecível casa de Deus.
Com seus toques e repiques
os sinos da Matriz de Candeias, falavam aos fieis numa linguagem sacra. Na
bênção do Santíssimo e consagração nas missas, não seria necessária a presença
do católico na igreja para receber o toque de Deus. Toda a cidade era avisada
daquele momento e a pessoa se postava de onde se encontrasse para receber a benção de Deus.
Ao meio dia eram executadas
as doze badaladas, cujo soar atingia parte da zona rural. Não havia sequer um
lugar de Candeias onde não se ouvia com perfeição o som do grande sino.
Eram três avisos para cada
missa. Havia missas todos os dias da semana e aos domingos eram três horários,
6, 8 e 10 horas. Missas celebradas pelo, então, Padre Joaquim, posteriormente, conferido
pelo Papa, como Monsenhor Castro. ----
Nas missas semanais não havia a pregação.
Na torre da matriz havia
três sinos de tamanhos diferentes: Um grande, um médio e um pequeno. As
solenidades na igreja eram identificadas pelos seus toques e dobrados.
Os toques fúnebres informavam
se a pessoa falecida seria homem, mulher ou criança. E essa informação pelos
sinos era repetida de hora em hora.
Na sexta feira da paixão, os
sinos não tocavam. Era usado apenas um instrumento chamado “matraca”. Isso era
fornecido aos meninos que tropeçavam uns aos outros vendendo velas e batendo a
matraca. O silêncio dos sinos entristeciam ainda mais a sexta feira santa, quando a cidade adormecia em respeito a morte de Jesus.
Candeias era muito
diferente. Era muito atrasada em comparação aos dias de hoje. A saúde, a
educação eram precárias; o prefeito não tinha um carro; a polícia andava a pé;
não havia calçamento nas ruas; não havia empregos e nem aposentados. A
iluminação pública era fraca. Telefone nem pensar; transporte ferroviário e
precário. Uma viagem de ida e volta à cidade de Formiga, demorava um dia, eram duas horas
e meia para a ida e o mesmo tempo para a volta. Isso se o trem não atrasasse o
que seria raro. As mães morriam de parto; os homens morriam com problemas de
próstata. Quando algum candeense era levado para Campo Belo, era porque estava
às portas da morte. A pobreza não era um privilégio de Candeias.
Candeias era tudo isso, mas já
era uma fonte de inspiração para a Professora Neguita Alvarenga e o Maestro
Belmiro Costa para a criação do hino que me fez ver um belo rincão sem par; uma
pura fonte de exemplo cristalino onde o pobre se encontrava e que me fez desta fonte
o meu ninho adorado a quem eu consagro o meu coração. Mostrou-me a bela e
imensa clorofila cobrindo o seu solo com tanta lealdade e o seu céu azul
traduzindo fé, esperança e caridade. Além disso, me dar a certeza de que Candeias é uma
honra de Minas e do povo candeense no sublime setor da religião.
Salve, salve Candeias e
receba o hino do seu povo, um tributo da nossa gratidão.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
CRONICA RELACIONADA: https://candeiasmg.blogspot.com/2010/05/igreja-matriz-de-candeias.html
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