uma coisa boa que eu gosto muito de sentir é quando eu estou sem fazer nada aqui no meu aposento de aposentado, com muita coisa para pensar sobre o passado, pouca do presente e quase nada do futuro. Dai flutua no lago do meu cérebro um pensamento bom de lembrar, eu rio sozinho parecendo um bobo alegre. ----
Minha mulher gosta de fava verde com angu. Na família dela isso é uma
tradição, e eu experimentei e achei gostoso. ---- Eu fui criado diante de um
favismo psicológico, que me fez repudiar o grão, sem nenhum motivo. -------
Acontece que a fava seca, feita como se faz feijão, realmente é uma coisa muito
ruim. E é assim que eu a conheci.
O tempo me fez sentir que a fava nunca foi bem aceita em Candeias. São
vários os rifões que ouvi denegrindo a qualidade dessa iguaria, tanto para a
saúde como para o gosto. ----- Minha avó dizia sempre: “Fava além de ser muito
ruim, faz mal para a saúde”. Mas, não é bem assim.
Hoje, quando a minha mulher disse que estava com vontade de comer fava
com angu e frango à moda de sua avó, flutuou no lago do meu cérebro, um fato que estava
bem lá no fundo. -----
Sempre quando ouço falar na fava eu me lembro do meu amigo Antônio
Sidney de Sousa, o Titôco, infelizmente já falecido. ---- Meu
condiscípulo no Grupo Escolar Padre Américo, hoje Escola Estadual; meu
companheiro de carteira; meu grande amigo de infância e juventude e
contemporâneo em São Paulo. ---- Titôco tinha uma facilidade imensa de
encontrar um apelido para cada um de seus amigos. ---- Quando surgiu o jeans,
foi uma febre na juventude. ---- Eu teria comprado uma peça de calças na loja
do Bonaccorsi, cuja marca era “Turista”, o que trazia a etiqueta grande no bolso traseiro. ---
Titôco quando viu aquilo,
nunca mais me chamou de Armando. Até às vésperas de sua morte. A última vez que
estive com ele no então Bar do Bola, ele que vinha saindo lá do interior do bar
disse alto e em bom som: Oh! Turista! O apelido não pegou, mas ele não
desistiu. ---- Foi a última vez que o vi vivo. Sempre quando ouço alguém falar
a palavra “fava” eu me lembro do Titôco numa conversa que tivemos quando
assentados nesse banco do jardim da foto, em Candeias.
Depois de ouvirmos o
comentário do Willian Barbeiro, sobre a mulher após o casamento, Titôco
quase que irritado assim que o Willian afastou-se me disse:
“Sabe o que é Turista: o
cara dá fava para a mulher comer e quer que ela esteja bonita. Isso é querer
demais”.
Meu caro Titôco, onde quer
que esteja receba o meu abraço.
(Armando.)
NB) Parabéns Márcia Sena,
pelo marido que você teve!
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