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quarta-feira, 5 de junho de 2019

CANDEENSES QUE MARCARAM O SEU TEMPO.

                                                              IGREJA DO ROSÁRIO - CANDEIAS MINAS
Hoje, remexendo numa gaveta das minhas recordações, encontrei diversos conhecidos e amigos. Pessoas humildes, carentes, doentes e problemáticos com as quais eu convivi em Candeias. ----- Alguns ainda no meu tempo de criança e outros já na fase adulta. Pessoas falecidas e que viveram muito tempo sendo lembradas pelos candeenses e que aos poucos vão se desaparecendo da nossa história. Cito aqui alguns nomes cujas imagens eu guardo muito bem guardadas no cofre da minha memória.

---- Jonas, um negro gordo que vivia trauteando musica de sua cabeça, pelas ruas e nessas solfejadas se alguém risse ficava agressivo, e se tornava perigoso, principalmente perante as crianças. Candeias não tinha calçamento e era muito fácil para ele agredir a pedradas, pois seria fácil apanhar uma pedra. -----

----- Outro era o Matias. Esse era inofensivo. Era um mulato miúdo que vivia montado num bambu o qual ele imitava os corcovos e o trote de um cavalo. As crianças gostavam de perguntar o seu nome para ver a dificuldade que tinha de dizer: Maaaatia Taaatá.

---- É difícil de esquecer, o negro magro, de chapéu de palha, de pouca prosa e quando bebia uns goles falava e cantava trazia consigo uma sanfona de oito baixos, na qual ele executava de forma interessante. Essa sanfona costumava cair pelo chão e não se sabe explicar como ainda continuava a funcionar. ---- Se alguém achasse graça das suas atitudes, ele embriagado mandava um nome feio e o mais comum era: “Vai desgraçado”, E ai é que a coisa ficava mesmo engraçada. Esse era o famoso "Quebra-gaio".

----João Ciganinho era um homem muito humilde e talvez naquele momento, o homem mais conhecido da cidade. Tinha uma dupla função, no tempo em que o cemitério São Francisco e a Sociedade de São Vicente de Paula, eram comandados pela paróquia. Ciganinho era sempre visto nos quatro cantos da cidade, trajado com o seu terno de brim surrado da cor do chão e o seu chapéu de lebre desgastado. Levava sempre debaixo do braço uma pequena pasta de cobrador das mensalidades dos contribuintes da Vila. ------- Naquele tempo em que a pobreza era bordada de carência a miséria era gritante, muitos desses contribuintes eram tão pobres quanto os pobres da Vila, portanto, muitos escondiam dele por falta de recursos para pagar as mensalidades.

A outra função de João Ciganinho era a de coveiro do Cemitério São Francisco. E como era o patriarca de uma penca de filhos, entre esses havia o Tiguinho que o ajudava na abertura das covas.  ----- Na área onde está à pracinha do cemitério havia uma capela usada para guardar petrechos funerários e depositar defuntos que vinham das roças em padiolas, enquanto aguardavam a confecção do caixão coberto de pano roxo, que era fabricado na oficina do Sr. Nicodemos Salviano, sob encomenda. Não havia serviço funerário em Candeias nesse tempo.  

---- Certa vez, quando João Ciganinho e seu filho Tiguinho abriam uma cova e tendo começado a chover, foram se esconder da chuva nessa capela, momento em que caiu um raio que o matou e deixou Tiguinho desmaiado. Foi uma tragédia que abalou Candeias nesse dia.

----Finalmente eu quero me concentrar num participante ativo da Festa do Rosário, no terno de Moçambique. Ele todo vestido de branco, parecia até um anjo negro. E sempre quando eu o perguntava: Como vai Chico? Ele dizia: “Nossa tô bão dimais, tô muito filiz e agora mió ainda purque vou ganha um cigarrinho”. Chamava-se Chico Lordino e eu gostava de presenteá-lo com um maço de cigarros. ---- A última vez que o vi já estava residindo na Vila Vicentina e seu estado de saúde já era precário. ---- Com as minhas ausências de Candeias, não sei se ainda vive. Se vive, deve estar muito decadente. Chico era um pobre feliz e carismático. Todo mundo gostava dele. ---- 

Certa vez, por ocasião das barraquinhas no adro da Igreja Matriz em reconstrução, festas cuja renda era destinada as obras da igreja, Chico subiu num caixote e fez o seguinte discurso: “Gente, oia nóis pricisa ajuda o Padre juaquim (Monsenhor Castro) na fabricação da igreja. Reza impé é bão, mas sentadinho é bem mió num é? Quando nóis chega lá incima, Deus arruma um banquinho pra nóis tamém”.

A vocês, Jonas, Matias, Quebra-Galho, João Ciganinho, Tiguinho, onde quer que estejam com certeza estão na Graça de Deus. ----

E a você Chico eu não tenho notícias de sua morte, se morreu estará junto deles e com certeza assentado num banquinho dado por Deus. --- Se ainda vive estará sendo abençoado.

Armando Melo de Castro.
Candeias MG Casos e Acasos.


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