A minha vida de estudante
foi bastante marcada pela terceira série do curso primário no Grupo Escolar
Padre Américo. ---- A escola era, ainda, nova e muita coisa não havia entrado
nos seus eixos. --- Muitos alunos, como eu, talvez tivéssemos a necessidade de
uma análise por uma psicóloga escolar ou sido indicado para um professor do
padrão do americano, Ron Clark.
Apesar dos altos e baixos,
que a vida me oferecia, felizmente eu consegui me recuperar e vir a ser o aluno disciplinado e dedicado, como fora no primeiro e segundo ano e amigo de minhas professoras, ---- exceto uma: a substituta de
Dona Ninita Alvarenga, ---- mesmo porque, esta me parece, nunca ter sido amiga
de ninguém. ----
Agora, eu era outro.
Tornara-me arredio, isolado dos colegas indisciplinados e me pautava sempre junto
daqueles mais queridos pelas professoras. ----- Certa vez a diretora da escola
encontrou-se com o meu pai no Bar Piloto e disse-lhe que eu teria mudado muito
e para melhor, e quis saber o que meu pai teria arrumado comigo. Então ele
disse: “Eu acho que foi a mãe dele”.
O corpo docente da Escola Padre Américo,
ainda, mantinha professoras leigas e ou vindas de outras cidades. Formar-se
professora naquele tempo era um privilégio de poucas. ---- Teriam que se deslocar para outras
cidades o que teria um custo alto. As professoras, normalmente, eram filhas de
pessoas bem aquinhoadas, e quase sempre casadas com maridos endinheirados.
Portanto, os seus salários eram destinados á manutenção da aparência. Mesmo
porque, considerar-se-ia antiético uma professora dar aula de chinelo de
dedo ou de calça comprida.
A professora de então, era mais bem
reconhecida, o que infelizmente hoje não acontece. A situação delas era na
grande parte estável, haja vista, que durante o governo de Bias Fortes elas
ficaram quase seis meses sem receber os seus salários e não fizeram greve e nem
barulho. -----
(Bias Fortes foi um
governador de Minas que dormiu no dia que assumiu e acordou-se no dia em que
deixou o governo. Assim era a sua fama.).
Não havia na escola os
favorecimentos que existem hoje com boas verbas para a Caixa Escolar, mantenedora
dos alunos carentes. Tal qual aos alunos, a Caixa Escolar também era pobre. ---
pois não tinha os recursos necessários para manter com dignidade os alunos
carentes com merenda e material escolar. Os suprimentos vinham principalmente das festas que a Escola promovia.
O ano de 1958 chegou. -----
A volta à escola encheu-me a consciência de alegria e esperança. Eu jurara que
seria um aluno responsável e cumpridor dos deveres e já teria cumprido a
promessa no ano anterior. Eu estava comprometido com minha mãe e com Jesus
Cristo. --- Minha mãe me fizera jurar perante Cristo de que mudaria o meu
comportamento.
Minha professora seria Dona
Maria do Carmo Bonaccorsi; famosa como brava e disciplinadora rígida. Isso já
não me assustava. Havia quem me não acreditava, mas eu sim, eu tinha a certeza
de que o ano de 1958 seria o meu ultimo ano no Padre Américo. --- Depois viriam
outras etapas, como curso de admissão ao ginásio, ginasial e contabilidade. Mas
já foram outros tempos e também fora de Candeias.
Dona Maria do Carmo
Bonaccorsi ficou sendo minha grande amiga desde os primeiros dias de aula o que
me fez comprometido com ela também. ---- Lembro-me da data do seu aniversário,
dia 16 de julho, quando ela fazia 31 anos... Plena balzaquiana, quando a
homenageamos na sala com um bolo oferecido por uma de nossas colegas.
Lembro-me, também, de quando
foi o centenário da cidade de Formiga, ela teria ido à festa daquela cidade, e
voltou contando detalhes para nós. Foi quando eu fiquei sabendo que Formiga era
chamada de Cidade das Areias Brancas e eu alimentei essa curiosidade por muito
tempo até ir conferir isso.
Eu nunca vi Dona Maria do Carmo usar a vara de
marmeleiro, fornecida pelo seu Tio Erasto de Barros. --- Ela tinha um olhar
duro e nem sempre mostrava os dentes. Ficava vermelha quando nervosa e a sua
aula era ouvida pelos vizinhos da escola porque falava alto. ----
A nossa turma tinha um
colega indisciplinado, o meu grande amigo até hoje, morador da cidade de
Oliveira, cabeleireiro e homossexual assumido desde menino. ---- Renê Ferreira
de Oliveira. ---- Dada a sua condição ele era mais chegado às meninas e era
difícil conter a sua conversa durante a aula. ---- Sabia a vida de todo mundo
na cidade. Numa discussão com ele ninguém vencia principalmente se tratasse de
pessoa com o rabo preso. ---- No ano anterior, a professora Ana Zélia de Melo
se meteu a discutir com ele, e saiu com a moral esfolada, talvez sem merecer.
Renê seria bom amigo, mas
para inimigo nem pensar. Era inteligente, mas não levava o estudo a sério. ----
Filho de Dona Eponina, irmã do Sr. Willian Viglioni. ---- Era repetente
obstinado. ---- Dona Maria do Carmo o consertou. --Quando ele começava, ela
se levantava, abria a porta e olhava para ele e dizia: “Renê, por favor, saia
da sala. Você está perturbando a minha aula, assim quando você estiver decidido
a se comportar, bata na porta”. Ele nunca batia na porta,
até que um dia bateu; ela o colocou para dentro lhe fez um sermão deixando-o em
silêncio. E assim foi lhe dando um jeito.
Dona Maria do Carmo não
tinha alunos preferenciais; para ela eram todos iguais. ---- Lembro-me de um fato bem perto de mim: No dia da nossa
formatura, ainda lá no cinema, Dona Eponima, mãe do Renê abraçou-a e lhe
agradeceu chorando: “Só você Ducarmo para desencalhar o Renê”!
Finalmente chegou o fim do
ano de 1958. ---- As provas nesse tempo iam para ser corrigidas na cidade de
Formiga. ---- Essa espera do resultado era um martírio, um sofrimento para os alunos. Mas eu
tinha certeza de que teria sido aprovado, como fui. Nenhum aluno dessa turma de
Dona Maria do Carmo Bonaccorsi foi reprovado.
A nossa festa de formatura
no dia 8 de janeiro, não perderia para nenhuma festa de formatura de uma
faculdade. O Corpo docente da escola todo presente à mesa. Autoridades civis e
militares e a grande autoridade eclesiástica, na pessoa do então Monsenhor
Castro, com o seu discurso maravilhoso, com a sua eloquência e o seu vasto
recurso de oratória. ---- Um deputado que teria sido convidado também falou.
Enfim um festão.
Concluíram o curso primário
comigo os seguintes colegas:
Antônia Aparecida Vilela,
Antônio Ítalo Freire, Clarice Alvarenga, Hélio Melo da Silva, Jadir Melo da
Silva, Jesus Alves Resende, João Faria, José Gonçalves, Márcio Miguel Teixeira,
Marlene aparecida Martins, Marli dos Reis Alves, Nelli Manda Ramos Melo, Neri
Ferreira Barbosa, Odete Lopes da Trindade, Raimundo Ferreira de Oliveira, Renê Ferreira
de Oliveira, Sebastiana dos Santos, Sebastião Alves de Resende, Silvio José
Rodrigues, Silvio Lopes da Silva, Teresinha Luiza Alves, Teresinha Mori, Zélia
Alves Alvarenga e Zilene Vilela Alvarenga.
O certificado de conclusão
do curso foi assinado, então, pela Diretora Maria do Carmo Alvarenga; a
professora Maria do Carmo Bonaccorsi e o Inspetor, Sr. Nestor Lamounier. ---
Nesse tempo o Inspetor era indicado pela política e Visitava a escola
esporadicamente numa missão política. ---- Outro que também foi Inspetor
Escolar nos primórdios do Padre Américo, foi o amigo Miguel Albanez, o nosso
querido Biribico.
Para minha tristeza, Dona
Maria do Carmo Bonaccorsi, faleceu recentemente. Era a última de minhas
professoras. Quando eu estava em Candeias e a via à porta de sua casa, eu ia
até lá cumprimentá-la. E sempre recordávamos
juntos aqueles tempos. Eu sentia que a Escola Padre Américo era parte de sua
vida. ----- Ela tinha a mesma idade de minha mãe e eram muito amigas desde a infância. Partiram
quase juntas para junto de Deus. -----
Onde quer que esteja Dona
Maria do Carmo, receba o meu abraço carinhoso do seu eterno aluno.
Armando Melo de Castro.
Candeias MG Casos e Acasos.
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