O ano de 1953 está guardado
no meu cérebro e quanto mais o tempo passa, mais fermenta a dorna das minhas
boas lembranças. ---- Foi o meu primeiro ano de escola, --- Eu teria feito sete
anos e fora matriculado no Grupo Escolar Padre Américo, hoje Escola estadual
Padre Américo.
O dia 03 de fevereiro daquele ano foi de completa euforia. Seria o meu primeiro dia de escola. --- Eu com uma
calça curta, de brim azul e uma camisa branca estava me sentindo o menino mais bonito do mundo. Era o dia da chamada quando eu
ficaria sabendo quem seria a minha professora e os meus colegas.
Nesse dia, a minha mãe como
muitas outras mães, que havia levado os seus filhos no primeiro dia, foi
também, me esperar à porta da escola e me deu um grande abraço e quase chorava
de felicidade. Pena que eu nesse tempo ainda não entendia desse tipo de alegria
materna.
Nos primeiros dias o uniforme
escolar seria dispensado até que fossem confeccionados. As costureiras da
cidade, nesse tempo, eram muitas e ficavam todas com acumulo de serviço.
O uniforme para os meninos
era uma blusa de fustão e calça curta azul. Para as meninas era a blusa e a
saia. --- No peito da blusa não havia escrito o nome da escola e sim um
distintivo em forma de “V”, como da polícia Militar. Primeiro ano, um Vê,
segundo dois vês, terceiro ano três vês e quarto e ultimo ano seriam quatro
vês, um sobre o outro. Posteriormente, o uniforme foi modificado e o
distintivo substituído pelo nome da escola no bolso da blusa. ---
A minha primeira diretora
foi Dona Estela Marques da Silva, esposa do Dr. Zoroastro. E a minha primeira
professora foi Dona Maria do Carmo Alvarenga, esposa do Sr. Alberto Virgílio,
irmão do João Virgílio. O Grupo Escolar Padre Américo, contava apenas três anos, e a sua primeira turma viria completar o curso no próximo ano de 1954.
Os meus primeiros colegas
foram: Ana Maria Bonaccorsi; Antônio Francisco da silva; Elza Pimenta da Silva;
Getúlio Lopes da Trindade; Ione Salatiel; Ivanilda Vilela; João de Sousa Guimarães;
José Alencar Salviano dos Santos; José Marques da Silva; Longuinho Martins
Ferreira; Márcio Miguel Teixeira; Maria Aparecida Ferreira Barbosa; Maria do
Carmo Fernandes; Maria Morais Neta; Marina Edna Salviano; Marli dos Reis Alves;
Odete Lopes da Trindade; Sebastiana Neusa Maartins; Sebastiana dos Santos;
Sebastião Cândido da Costa; Silvio José Rodrigues; Terezinha Lopes da Trindade
e Vicente Luiz da Mata, o meu companheiro de carteira.
O porteiro da escola era o
Sr. Erasto de Barros, que por ter em seu quintal diversos pés de marmelo, tinha
o maior prazer de fornecer para as professoras as varas de marmelo, as quais
choravam nas costas dos alunos nos atos de indisciplina.
As cantineiras eram três filhas
do Sr. João do Ibraim, então fiscal da prefeitura que feitorava os capinadores
de rua. --- Candeias, nesse tempo, não tinha ruas calçadas, portanto havia
constantemente um grupo de capinadores de rua.
---- As três irmãs cantineiras eram Toninha, Aparecida e Tereza. --- Cinquenta
anos depois, durante um velório na Vila Vicentina, eu me encontrei com a Tereza
e fiquei muito emocionado com aquele encontro.
A maioria dos alunos era
pobre. Mas aqueles que estavam abaixo da linha da pobreza, como órfãos de pais;
famílias numerosas e sem renda, esses recebiam o uniforme, material escolar e
merenda, fornecidos pela Caixa Escolar. Tanto o uniforme quanto o material
didático eram de péssima qualidade o que distinguia esses alunos beneficiados.
Isso era triste porque se tratava de uma distinção vilipendiosa, e eram diminuídos
por alunos de condição superior.
Antes de entrar para as
salas os alunos se enfileiravam no pátio ao pé das escadas que davam acesso às
salas; onde comumente havia alguma recomendação da diretora, e a entrada só se
fazia após o canto de um dos hinos do Brasil, Nacional, da Bandeira, da
Independência e da Proclamação da República.
O pátio da escola era imenso
e dividido em duas partes. Dos meninos e das meninas. --- Durante o recreio uma
professora era designada e responsável pela disciplina. ---- O menino que entrasse
na área das meninas seria como um país invadir o outro. ---- A vara comia solta
nas costas do infrator.
O corpo docente do Grupo
Escolar Padre Américo, da parte da tarde, no ano de 1953, era: Diretora, Dona
Estela Marques da Silva; professoras: Maria do Carmo Alvarenga; Ieda
Bonaccorsi; Ione Bonaccorsi; Nené Eleutério; Carmelita Albanez; Maria do Carmo
Teixeira; Eliza Paiva e Ninita Alvarenga.
Nesse tempo eu ainda não
convivia com a saudade. Eu nem sabia o que era isso. ---
A saudade é uma dor
que não sufoca, mas “dói pra daná”.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.