Rua Professor Portugal esquina com Praça Antonio furtado.
Um dos pontos comerciais mais antigos de Candeias
fica na esquina da Rua Professor Portugal com a Praça Antônio Furtado onde,
atualmente, se encontra a residência do Sr. Wanderley Andrade, sendo que o
ponto comercial, outrora bastante amplo, de diversas portas pintadas de azul
celeste, hoje se encontra reduzido a um pequeno depósito de pães. --- Lá, no
correr dos tempos, foram estabelecidos diversos segmentos comerciais: bares,
empórios, padarias, botequins, etc.
Guardado bem nos porões da minha memória, o primeiro
comércio que conheci ali, quando eu comecei a me entender como gente. --- Era o
Bar do Sr. Otávio Martins. --- Um bar fuçado, totalmente desorganizado. O piso
era de um assoalhado já bem velho, cheio de buracos por onde, naturalmente,
deveriam trafegar ratazanas de todas as ordens. ---
Havia uma velha sorveteira que quando ligada, fazia
uma acústica com o assoalho provocando tanto barulho que a conversa entre os
fregueses se tornava quase impraticável. E, na competição com o ruído da
máquina, os frequentadores falavam tão alto que da rua se ouvia tudo.
----Parecia uma locomotiva dentro do bar cujo cômodo era grande e havia muito
espaço vago.
Os sorvetes e picolés, ali fabricados, não tinham
nenhum requinte de higiene e aqueles copos em forma de casquinha, próprios para
sorvete e que o consumidor gosta de comer, eram, comumente, vistos com algum
rastro. Além disso, a caixa da salmoura da máquina sorveteira tinha ferrugens
que vazavam e se juntavam ao congelado, fato que levava sempre o freguês a se
queixar de que o picolé estava salgado.
As prateleiras com garrafas cheias e vazias
pareciam seguras pelas teias de aranha. As vitrinas eram forradas com papel
manilha da cor rosa, de péssima qualidade, e que, às vezes, deixava o produto
manchado. ----- As cadeiras, tipo “balança mais não cai”, de quando em vez,
levava um freguês ao chão. E, quando essas estavam todas ocupadas, os fregueses
tomavam assento sobre o balcão bastante amplo à medida da área.
Havia água encanada no bar, mas estava sempre em
falta. Nas construções antigas, não se faziam caixas de depósito para água.
Usava-se, normalmente, um tambor de duzentos litros sem tampa e comprado, de
segunda mão, nos postos de gasolina. Este era preso em quatro forquilhas do
lado de fora. Aquilo nunca era lavado e servia de bebedouro para gambás e aves
que morriam ali, acidentalmente, e que só eram descobertas quando a água se
tornava fétida.
Naquele tempo, a água encanada, principalmente nas
ruas de baixo, não tinha um fornecimento regular --- Aí, então, quando a água
faltava, a lambança dobrava. ---- Tomava-se de uma gamela cheia d’água e, à
medida que os copos eram usados, iam sendo jogados ali, e, quando necessários,
apenas retirados e usados novamente. Não se usava lavar os copos com sabão.
Apenas deixava-os mergulhados na mesma água usada horas e horas.
Num dos cantos de dentro do balcão, havia um varal
de bambu onde ficavam dependuradas linguiças e uma bexiga de mortadela, da pior
qualidade, expostas às moscas que, naturalmente, davam, ali, o seu toque de
imundície. Os intestinos dos fregueses, já
estariam tão providos de anticorpos que seria mais fácil à morte dos parasitos
intestinais do que dos consumidores.
Eu morava próximo dali, na Rua Coronel João Afonso,
e acompanhava sempre o meu pai quando estava lá a chamado do proprietário que
era seu grande amigo e compadre, a fim de tocar violão para atrair os fregueses
que gostavam de formar duplas sertanejas. Portanto, eu sempre saboreava,
daqueles restos mortais suínos e bovinos oferecidos por meu pai e os amigos.
--- Hoje só de me lembrar disso sinto arrepios.
O meu estômago já estava tão afinado com as
porcarias dali que o sentido do paladar nem se ofendia. E meu pai, também, por
sua vez, não estava nem aí. Tomava a sua pinguinha e a sua cervejinha naqueles
copos infectados, mal lavados e trincados como se estivesse bebendo numa taça
usada na Santa Ceia. ----
Mas tem um detalhe desse tempo que eu não me
esqueço: Se por ventura me aparecesse uma dorzinha de barriga, uma indigestãozinha
qualquer, minha mãe bradava:
“Isso é as lambanças que o seu pai lhe enfia lá no
bar do compadre Otavio”. ---- Fosse ou não fossem os seus cozidos estavam
isentos. ---
---É esquisito sentir saudade de uma coisa dessas não é? Mas eu sinto!
---É esquisito sentir saudade de uma coisa dessas não é? Mas eu sinto!
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
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