Foto para ilustração do texto.
A alma de uma criancinha é pura. A criança ainda no verdor
dos anos não mente, não inventa, não calunia. Ela só fala a verdade e quando se
sente agredida de uma forma ou de outra, chora. A lágrima é o seu instrumento
de defesa. Infelizmente, à medida que vai crescendo e convivendo com os adultos
já começa a entrar no mundo da falsidade, da arrogância, da mentira, da calúnia,
da hipocrisia e da violência física e verbal... Enfim no mundo do adulto será
difícil encontrar alguém que não tenha inventado uma história maldosa, não
tenha mentido; que não tenha sido abraçado pelo sentimento da inveja. E assim,
aquela criancinha inocente ao sair da aurora dos seus anos passa a fazer parte
dos sentimentos que deturpam a humanidade.
Semana passada, estando na cidade de Poços de Caldas
acompanhando um internamento de minha mãe no hospital, foi quando eu tive a
oportunidade de ver uma criança de uns quatro anos mais ou menos, mostrar a
pureza da infantilidade na essência de sua exuberância.
Tratando-se de uma grande instituição de saúde de Poços de
Caldas, o hall do hospital permanece com muitas pessoas aguardando o momento
para visitar os seus doentes, cujo regulamento permite apenas a presença do
acompanhante e mais duas pessoas. Portanto, normalmente, algumas pessoas ficam
por ali esperando a sua hora de entrar para fazer a sua visita à base do
revezamento.
Apesar de não ser permitida a presença de criança nas visitas
aos doentes, ali estava uma criança de mais ou menos uns quatro anos em
companhia de seu pai, enquanto aguardavam a esposa e a sogra que teriam subido
para visitar, ao que parecera ser --- o avô da criança.
Nesse ínterim, enquanto o menino vai especulando o pai sobre
tudo que lhe era visto à sua frente, quando de repente alguém solta um pum.
Aquilo que uns tratam de flato, mas a maioria conhece por
peido. Aliás, uma pergunta clássica é aquela: “Quem peidou aqui?”. Eu que
estava por perto só tive a certeza de que não teria sido eu. Contudo, pude
imaginar que o ânus que emanou aquela carga de metano deveria ter um calibre 16
com uma carga cuja densidade não de 0,722 g/dm3, mas sim de 7.220 g/dm9, e 63
ao invés de 21 vezes mais do que o dióxido de carbono para a estufa. Isso dada à
leveza que penetrou nos narizes ali presentes. ---- Se fosse, no Japão, tudo
bem, lá se peida sem nenhum constrangimento dentro das pequenas lojas que
existem por lá. O vendedor peida enquanto atende o freguês e não é por isso que
é amarelo. Faz parte da cultura deles peidar livremente. Mas aqui no Brasil é
diferente. Brasileiro gosta de querer saber: “Quem foi esse?”...
O hall do hospital ficou totalmente poluído, quando aquela
criança gritou:
--- Papai, você peidou aqui?
E o pai, todo sem graça, bem trajado tal qual um executivo
público, ou um bispo da igreja evangélica, negou, é claro!... Mas o menino
continuou falando alto:
----Você peidou sim papai, eu conheço o fedor dos seus peidos.
Todo dia você peida lá na nossa casa, e a mamãe xinga você... E o cheiro está
igualzinho...
---- E o pai, com aquela cara de quem nunca deu um peido na
vida, continuou negando...
---- O que é isso Celinho, papai não faz essas coisas assim
não...
É, e o pai peidorreiro querendo comprometer o pessoal ali presente na maior cara de pau. Nisso abre uma porta de vidro de onde saem a sua mãe e a avó
vindas da visita ---- e o menino fala alto e num tom de gozador:
---Mamãe, o papai tá dando cada peido aqui e tá falando que não
é ele, quer ver mãe, puxa pra senhora ver, o cheiro é igualzinho os lá de casa.
E a mãe tenta desconversar, mas o menino insiste:
---Mamãe, puxa pra senhora ver a catinga do peido do papai...
E aquela família tratou-se de cair fora logo, comentando a
saúde do internado e fazendo de contas que não ouvia o que o garoto falava.
E o menino agora começava a chorar e dizer, mamãe escuta eu
falar, o papai peidou e está falando que não foi ele... O papai é mentiroso
mamãe!
E você que acabou de ler isso? Acredita no menino ou no pai dele?
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
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