No local
onde hoje está situada a Casa do Vaqueiro, teria sido no passado uma velha casa
de portais verdes, onde residiam Dona Maroca e sua filha Zulma. A casa
tinha um cômodo de comercio, fechado, ali antes teria sido uma farmácia do
marido de Dona Maroca, então falecido. Dona Maroca e sua filha eram
proprietárias da lanchonete que ficava junto à entrada do cinema. Com o
falecimento da mãe, a senhorita Zulma, transferiu-se para Campo Belo, para
estar junto de parentes, e alugou a casa para o Lulu que instalou ali um
pequeno Bar e Restaurante, ao qual deu o nome de Pinguim, aonde eu vim a ser o
único funcionário quando contava 15 anos de idade.
A casa que
não era ampla teve os seus quartos transformados em reservados onde eram
servidas as refeições. E na pequena cozinha, Dona Terezinha, a esposa do Lula,
executava os seus dotes culinários e tinha como especialidade um grande bife de
filé, que com a mudança do restaurante para outro ponto, tomou o nome de
BIFÃO.
O quintal da
casa era extenso e naquele tempo como era permitida a criação de porcos na
cidade, esse era um gosto do Lulu que tinha um grande chiqueiro onde criava os
seus piaus e carunchos.
O meu
salário era de C$ 2.000,00 (cruzeiros) por mês o que representaria hoje em
reais, a importância de mais ou menos uns 300 reais.
Eu não tinha
uma função certa. Fui pagem dos filhos do Lulu, Marco, Sergio e Claudio. Nesse
tempo nem o Geraldo e nem o Erivelto ainda tinham vindo ao mundo. Era,
também, função minha tratar dos porcos e lavar o chiqueiro. Servir mesas aos
clientes e atender balcão. Enfim, eu era um pau de toda obra.
Lulu como
sempre foi muito querido, tinha uma grande freguesia no seu comercio. Nesse
tempo ele também bebia os seus goles, às vezes xingava os fregueses, e a
impressão é de que quanto mais ele brigava com o freguês mais o freguês se
tornava seu amigo. Parece que o anjo ou o santo do Lulu tinha por ele um apreço
especial.
Certa vez um
freguês da zona rural, estatura média, chapeuzinho de palha corroído, calça de
brim e blusa de flanela xadrez, rosto lampinho e um bigodinho fino. Chegou e
falou com o Lulu:
---- Oia sô
Lulu, eu passei aqui só pá cumê o pastilinho da patroa do senhor...
----O pastel
aqui é da Dalva do Bebé. Por que você não experimenta a minha linguiça? Vê
lá! cumê o pastilinho da minha muié!...
---- E o caipira sorrindo meio sem graça respondeu: Ôua Sô Lulu, Ôua, sai
fora!...Ah eu cum medo do senhor!
Lulu era
aquele que buscava na linguagem popular uma autenticidade genuína que faz da
palavra à realidade e não apenas uma representação da realidade. Lulu marcava
uma presença com tamanha pregnância dentro do balcão do seu restaurante, o que
o fazia muito observado. E nessas observações, sobressaía o bom coração que
trazia dentro do seu peito. Ele tinha a língua solta, como tinha, também, as
lágrimas de seus olhos livres para molhar os seus lábios.
Meu bom
amigo Lulu, onde quer que esteja receba o meu abraço.
Armando Melo
de Castro
Candeias MG
Casos e Acasos
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