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sábado, 26 de novembro de 2016

BAR E RESTAURANTE PINGUIM.


No local onde hoje está situada a Casa do Vaqueiro, teria sido no passado uma velha casa de portais verdes, onde residiam Dona Maroca e sua filha Zulma. A casa tinha um cômodo de comercio, fechado, ali antes teria sido uma farmácia do marido de Dona Maroca, então falecido. Dona Maroca e sua filha eram proprietárias da lanchonete que ficava junto à entrada do cinema. Com o falecimento da mãe, a senhorita Zulma, transferiu-se para Campo Belo, para estar junto de parentes, e alugou a casa para o Lulu que instalou ali um pequeno Bar e Restaurante, ao qual deu o nome de Pinguim, aonde eu vim a ser o único funcionário quando contava 15 anos de idade.

A casa que não era ampla teve os seus quartos transformados em reservados onde eram servidas as refeições. E na pequena cozinha, Dona Terezinha, a esposa do Lula, executava os seus dotes culinários e tinha como especialidade um grande bife de filé, que com a mudança do restaurante para outro ponto, tomou o nome de BIFÃO.

O quintal da casa era extenso e naquele tempo como era permitida a criação de porcos na cidade, esse era um gosto do Lulu que tinha um grande chiqueiro onde criava os seus piaus e carunchos.
O meu salário era de C$ 2.000,00 (cruzeiros) por mês o que representaria hoje em reais, a importância de mais ou menos uns 300 reais.

Eu não tinha uma função certa. Fui pagem dos filhos do Lulu, Marco, Sergio e Claudio. Nesse tempo nem o Geraldo e nem o Erivelto ainda tinham vindo ao mundo. Era, também, função minha tratar dos porcos e lavar o chiqueiro. Servir mesas aos clientes e atender balcão. Enfim, eu era um pau de toda obra.

Lulu como sempre foi muito querido, tinha uma grande freguesia no seu comercio. Nesse tempo ele também bebia os seus goles, às vezes xingava os fregueses, e a impressão é de que quanto mais ele brigava com o freguês mais o freguês se tornava seu amigo. Parece que o anjo ou o santo do Lulu tinha por ele um apreço especial.

Certa vez um freguês da zona rural, estatura média, chapeuzinho de palha corroído, calça de brim e blusa de flanela xadrez, rosto lampinho e um bigodinho fino. Chegou e falou com o Lulu: 

---- Oia sô Lulu, eu passei aqui só pá cumê o pastilinho da patroa do senhor...

----O pastel aqui é da Dalva do Bebé. Por que você não experimenta a minha linguiça? Vê lá! cumê o pastilinho da minha muié!...
---- E o caipira sorrindo meio sem graça respondeu: Ôua Sô Lulu, Ôua, sai fora!...Ah eu cum medo do senhor!

Lulu era aquele que buscava na linguagem popular uma autenticidade genuína que faz da palavra à realidade e não apenas uma representação da realidade. Lulu marcava uma presença com tamanha pregnância dentro do balcão do seu restaurante, o que o fazia muito observado. E nessas observações, sobressaía o bom coração que trazia dentro do seu peito. Ele tinha a língua solta, como tinha, também, as lágrimas de seus olhos livres para molhar os seus lábios.

Meu bom amigo Lulu, onde quer que esteja receba o meu abraço.

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos


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