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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O CALDEIRÃO DO DIABO!


                                               Foto apenas para ilustrar o texto.
Sô Joaquim era um velho bem asseado e vaidoso. Estatura baixa, cabelo liso e bem aparado. Cabeça redonda tipo coité. Sorriso disponível debaixo de um nariz adunco, tão perceptível capaz de competir com um urubu rei. Rosto liso. Quase não tinha barba, por isso, se esnobava de ser glabro. Dizia que cabelo só servia na cabeça e se fosse uma coisa boa para nascer no rosto, não nasceria nos buracos fedorentos do corpo.  

Porte sempre impecável. A impressão que se dava era de que tomava vários banhos por dia e trocava de roupa mais de uma vez. Assim como eu, era, também, do tempo do perfume Lancáster e da brilhantina Glostora. Pelo seu porte, ninguém, jamais o imaginaria como um cortador de paralelepípedo. E quando alguém notava o seu perfil zeloso, soltava aquele sorriso sorrateiro mostrando a dentadura com um dente frontal fundido em ouro, higienizada com sabão líquido e pasta de dentes; deixando-a tão polida como se tivesse saído do dentista naquela hora.

Era natural da cidade de Arcos e veio parar em Candeias, trazido para trabalhar nas pedreiras no fim da década de 50 quando se deu início ao calçamento da cidade na gestão do Prefeito Dr. José Pinto de Resende.

Nesse tempo, depois de ter desativada a sua fábrica de farinha de milho, Sebastião da Picidonha, promovia uns bailes no local da fábrica nos fins de semana, e nas épocas de carnaval. Esses pagodes eram abrilhantados pelo Sebastião com a sua caixa surda e a sua filha, Toninha, com o acordeão. O local tomou o nome de Caldeirão do diabo, isso porque nos carnavais, a cachaça fermentava os neurônios da moçada e era uma brigalhada danada.

Afinal, Sô joaquim era viúvo já há algum tempo e morava com a sua filha única, uma jovem de uns trinta anos mais ou menos, cheia de manias e preconceitos. Não saia de casa e não se entrosava com ninguém. Ele também, pouco saia, mas o tempo foi passando e sendo ainda um homem inteiro, sem dar uma molhada no pavio, foi ficando assim meio carente e resolveu dar uma pulada na cerca. Mostrar a sua vaidade, o seu vigor físico que andava fermentando a sua cabeça.

Contava uns cinquenta e tantos anos, e há muito não dava uma afogada no ganso. Mas na sua cabeça ainda fermentava o soro do sexo. Não podia ver uma mulher de nádegas avantajadas que os seus olhos de lagarto quase saiam fora. Seus espermas, com certeza, ainda davam conta de competir numa corrida. Ele era fanhoso, ou seja, falava pelo nariz. Não fosse esse pequeno problema Sô Joaquim seria um tipo concorrido no mercado feminino.

Um banho bem tomado... Cabelos penteados e bem aparados... Camisa branca de algodão alvejado... Sapatos bem engraxados... Cinto e sapatos combinados... Resolve, um dia, Sô Joaquim, fazer uma visita ao Caldeirão do Diabo, numa promoção de um baile que seria uma roda de boleros.

Chegando ao salão do Caldeirão do Diabo Sô Joaquim deu inicio à paquera de uma parceira. Quem já visitou o baile da terceira idade lá no salão do Rotary Club de Candeias pode imaginar.   O “nego” chega, olha para um lado, olha para o outro como se fosse um juiz de menor num baile de zona meretrícia.

E assim fez Sô Joaquim. Chegou e já fazendo uso dos seus olhos de jacaré viu logo uma “coroa” feita na medida para ele. Bunda grande, cabelos compridos e seios avantajados. Era o seu tipo preferido. Ela lhe deu chance e ele avançou o sinal, chamando-a para dançar o bolero que se iniciava. Tão logo as idas e vindas do bolero começaram, Sô Joaquim perguntou o nome da dama, que ao lhe dizer que se chamava Maria, deu para sentir que a dama portava um mau hálito terrível. E com seu narigão parecendo um falcão, dava para ser rigorosamente atento aos maus cheiros, e disse, então, com a sua voz de fanha:

---Pânreche que alguém peidôô aquim. Chê tá nothiano a cathinga?

E a sua parceira de dança não respondeu nada, e dai a pouco ele de novo:

---Ochê num tá chintino uma catchinga de pêdium muitim fedorentium nãoo?! Tá fedeenno munchoo...

---Não, não estou sentindo cheiro nenhum não...  Responde a mulher...

E a dança continuou, mas Sô Joaquim muito intrigado com o mau cheiro tornou a falar:

---Euu tô achanndo que foi oche qui peidon, tá fedenno aqui pertio... A catchinga tá acumpanhano noch...

E a mulher já puta da vida com aquele papo, fala alto:

Eu já te falei que não fui eu que peidei home, mas que diabo?

E Sô Joaquim assustado diz logo:

Nocha mãe agora ochê cagô! Cruch credho!

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos


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