Foto apenas para ilustrar o texto.
Sô Joaquim era um velho bem
asseado e vaidoso. Estatura baixa, cabelo liso e bem aparado. Cabeça redonda
tipo coité. Sorriso disponível debaixo de um nariz adunco, tão perceptível
capaz de competir com um urubu rei. Rosto liso. Quase não tinha barba, por isso,
se esnobava de ser glabro. Dizia que cabelo só servia na cabeça e se fosse uma
coisa boa para nascer no rosto, não nasceria nos buracos fedorentos do corpo.
Porte sempre impecável. A
impressão que se dava era de que tomava vários banhos por dia e trocava de
roupa mais de uma vez. Assim como eu, era, também, do tempo do perfume Lancáster
e da brilhantina Glostora. Pelo seu porte, ninguém, jamais o imaginaria como um
cortador de paralelepípedo. E quando alguém notava o seu perfil zeloso, soltava
aquele sorriso sorrateiro mostrando a dentadura com um dente frontal fundido em
ouro, higienizada com sabão líquido e pasta de dentes; deixando-a tão polida
como se tivesse saído do dentista naquela hora.
Era natural da cidade de
Arcos e veio parar em Candeias, trazido para trabalhar nas pedreiras no fim da
década de 50 quando se deu início ao calçamento da cidade na gestão do Prefeito
Dr. José Pinto de Resende.
Nesse tempo, depois de ter
desativada a sua fábrica de farinha de milho, Sebastião da Picidonha, promovia
uns bailes no local da fábrica nos fins de semana, e nas épocas de carnaval.
Esses pagodes eram abrilhantados pelo Sebastião com a sua caixa surda e a sua
filha, Toninha, com o acordeão. O local tomou o nome de Caldeirão do diabo, isso
porque nos carnavais, a cachaça fermentava os neurônios da moçada e era uma
brigalhada danada.
Afinal, Sô joaquim era viúvo já há algum tempo e morava com a sua filha única, uma jovem de uns trinta anos mais ou menos, cheia de manias e preconceitos. Não saia de casa e não se entrosava com ninguém. Ele também, pouco saia, mas o tempo foi passando e sendo ainda um homem inteiro, sem dar uma molhada no pavio, foi ficando assim meio carente e resolveu dar uma pulada na cerca. Mostrar a sua vaidade, o seu vigor físico que andava fermentando a sua cabeça.
Contava uns cinquenta e tantos anos, e há muito não dava uma afogada no ganso. Mas na sua cabeça ainda fermentava
o soro do sexo. Não podia ver uma mulher de nádegas avantajadas que os seus
olhos de lagarto quase saiam fora. Seus espermas, com certeza, ainda davam conta de competir
numa corrida. Ele era fanhoso, ou seja, falava pelo nariz. Não fosse esse
pequeno problema Sô Joaquim seria um tipo concorrido no mercado feminino.
Um banho bem tomado...
Cabelos penteados e bem aparados... Camisa branca de algodão alvejado... Sapatos
bem engraxados... Cinto e sapatos combinados... Resolve, um dia, Sô Joaquim,
fazer uma visita ao Caldeirão do Diabo, numa promoção de um baile que seria uma
roda de boleros.
Chegando ao salão do
Caldeirão do Diabo Sô Joaquim deu inicio à paquera de uma parceira. Quem já
visitou o baile da terceira idade lá no salão do Rotary Club de Candeias pode
imaginar. O “nego” chega, olha para um lado, olha para o
outro como se fosse um juiz de menor num baile de zona meretrícia.
E assim fez Sô Joaquim.
Chegou e já fazendo uso dos seus olhos de jacaré viu logo uma
“coroa” feita na medida para ele. Bunda grande, cabelos compridos e seios
avantajados. Era o seu tipo preferido. Ela lhe deu chance e ele avançou o sinal,
chamando-a para dançar o bolero que se iniciava. Tão logo as idas e vindas do
bolero começaram, Sô Joaquim perguntou o nome da dama, que ao lhe dizer que se
chamava Maria, deu para sentir que a dama portava um mau hálito terrível. E com
seu narigão parecendo um falcão, dava para ser rigorosamente atento aos maus
cheiros, e disse, então, com a sua voz de fanha:
---Pânreche que alguém peidôô
aquim. Chê tá nothiano a cathinga?
E a sua parceira de dança
não respondeu nada, e dai a pouco ele de novo:
---Ochê num tá chintino uma
catchinga de pêdium muitim fedorentium nãoo?! Tá fedeenno munchoo...
---Não, não estou sentindo
cheiro nenhum não... Responde
a mulher...
E a dança continuou, mas Sô
Joaquim muito intrigado com o mau cheiro tornou a falar:
---Euu tô achanndo que foi
oche qui peidon, tá fedenno aqui pertio... A catchinga tá acumpanhano noch...
E a mulher já puta da vida
com aquele papo, fala alto:
Eu já te falei que não fui
eu que peidei home, mas que diabo?
E Sô Joaquim assustado diz
logo:
Nocha mãe agora ochê cagô!
Cruch credho!
Armando Melo de
Castro
Candeias MG Casos e
Acasos
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