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sábado, 24 de dezembro de 2011

UM DESENCONTRO COM O NATAL

                                                               Foto Wikipédia
Certa vez, eu fui convidado para uma ceia de natal cuja fartura, nunca vista por mim, deixou-me, deveras, encabulado na minha condição de proletário. Eu jamais teria participado de coisa igual. Compunha-se a mesa de iguarias das mais diversificadas possíveis, contendo produtos nacionais e, também, importados. Uma grande variedade de carnes, castanhas, vinhos, etc.

A família composta apenas por mãe e filho, portugueses, fizera tanta comida que daria para alimentar mais de vinte pessoas. No entanto, apenas eu e mais um fomos os convidados presentes. Isso, naturalmente, fez com que a dona da casa, no afã de mostrar os seus dotes culinários, quisesse que fosse consumido todo aquele banquete. Com isso, insistia, de forma pouco recomendável, servindo-me, constante e diretamente ao prato, fazendo com que eu me perdesse entre a fome, a vontade de comer e o sustento. No final, eu já não podia olhar mais pela mesa principesca, pois, os excessos faziam-me embrulhar o estômago, tendo em vista o meu cuidado em ser educado e não deixar restos no prato.

Foi, sem dúvida, o mais farto de todos os natais da minha vida. Contudo, foi, igualmente, e com toda certeza, o pior de todos. Daí para frente, eu passei a ver o natal de forma angustiante. O sentimento natalino que, até então, habitava o meu coração passou a não existir mais. A festa do nascimento de Jesus que outrora me trazia as alegrias do Papai Noel, deixou de habitar o meu coração. A meu ver, a união da família, nesse dia, já não tinha o mesmo sentido. Passei a perceber um ambiente, verdadeiramente, monótono, contudo, feliz e real. A legitimidade da reunião familiar retratando a candura de Maria e a humildade de José diante do nascimento do filho. Prefiro, portanto, sentir dentro de mim a imagem dos presépios me transportando ao verdadeiro mundo pelo qual o filho de Deus chegou.

Ao sair daquela festa, deparei-me com um quadro, até hoje, acomodado nos fundos dos meus olhos. Vi uma pobre mãe apanhando restos de comida num latão de lixo e dando aos seus filhos assentados na beira do passeio, enquanto aquelas crianças comiam aquela soca como se fosse o melhor manjar do mundo. Enquanto isso, meninos vizinhos riam daquela cena de cuja estupidez da vida agredia, violentamente, aqueles filhos de Deus.

Jamais, por mais que eu viva, me esquecerei de cena tão deprimente. Portanto, para mim, o natal perdeu todo o seu brilho. Nunca mais senti as emoções de uma festa natalina. Para mim, isso é um teatro cuja peça mal escrita não tem quase nada, ou nada, a ver com o menino Deus.
As pessoas se reúnem para se deliciarem com um pedaço de carne. Carne de um animal que na noite de natal aqueceu o Messias aquele que viria como Salvador, ou então, a carne do animal de porco que o Velho Testamento reputa como imunda. Reúnem-se, simplesmente, para cear quando o coração já não se encontra alimentado de amor. O amor que Cristo pregou.

Esses paradoxos fazem com que eu não acredite mais no natal e o perceba como uma festa hipócrita pela qual a diferença humana se torna gritante.



O natal é uma data convencional, sustentada pelo comércio que não comunga com nenhum princípio religioso.



Armando Melo de Castro
Candeiasmg. Casos e acasos
Candeias – Minas

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