Imagem para ilustração do texto.
No meu
tempo de adolescente, as coisas eram muito diferentes dos dias atuais. Os
namoros eram para casamento. Não tinha esse negócio de “ficar”. Esse termo era
próprio dos adultos na prostituição quando transavam ou dormiam juntos,
comentavam: “Eu fiquei com fulana”.
Hoje, quando ouço uma adolescente dizer: “Eu
e fulano ficamos”. Ou nós somos “ficantes”,
eu até me arrepio de ver como as coisas mudaram.
Já não se tem tranca
na língua. A pessoa fala e escreve o que bem pensa. Analisando o mundo de hoje,
concluo que uma das grandes responsáveis por essa mudança é a televisão.
Recentemente, no programa do Jô Soares, eu vi e ouvi em muito bom som, os
participantes falarem o apelido da vagina e do pênis como se estivessem falando
numa tabuleta ou num baralho. Falavam sobre o ânus como se esse fosse um
jacu.
O mundo vem se transformando
a passos rápidos a nossa cultura. Antes, cada Estado da federação tinha a sua
característica. Agora, vai ficando tudo por igual. Enfim, são novos tempos. O
tempo não muda só de chuva para sol e nem de sol para chuva. O tempo muda de
cara e é o que estamos vendo.
Hoje em dia, os
namorados transam dentro de suas casas. Conheço mãe que diz achar isso natural
e que é muito melhor do que imaginar a sua filha em um motel. Para mim pode
parecer um absurdo já que sou avô, entretanto, para os pais de hoje, está tudo
normal. A virgindade, aos olhos da maioria da gente moderna, é uma caretice.
Coisa que no passado era levada muito a sério. A música de hoje só fala em
sexo. O romance caiu de moda e o sexo tomou o seu lugar além de vir com
especificidades: sexo anal, sexo oral, sexo explícito, espanhola, 69,
troca-troca, cata cavaco, frango assado, canguru perneta; e tanta coisa mais
que eu fico até vermelho diante de certos jovens.
Enfim, fazer o quê?
Essa geração que aí está é a responsável pelo mundo de seus filhos e, nessa
questão, é muito difícil julgar porque a obra da criação impõe progresso, e,
desde que o mundo é mundo, existe o conflito de gerações. É difícil ficar
citando o que é certo e ou o que é errado. Portanto, a meu ver, o melhor é
entender que a libertinagem é um vocábulo fora do dicionário moderno. Quem muda
o mundo são os jovens. Nós, os velhos, temos um futuro curto. O nosso presente
é vago e o passado está quase morto.
Não quero com isso
dizer que no passado o povo era bento e sem erros e pecados. Não quero dizer
que eu fui um santo. Mas havia o silêncio. A boca nem sempre falava o que
pensava. Era gostoso pensar em segredo, imaginar uma safadeza. Um escurinho do
cinema, estar na moita ou num corredor escuro. Uma mão meio abobada... Ah, como
era bom o escuro! Às vezes, a gente via o sol no escuro. A vida era cheia de
incógnitas. Cheia de segredinhos e fofocas. O namoro escondido... Como era bom
namorar escondido. A pessoa, às vezes, estava, por tempos, sendo a causa de um
comentário e não sabia de nada. O pecado existia, mas existia também o respeito
e o receio. ----- Pensava que estava enganando e no fundo estava sendo alvo de
crítica maliciosa. Afinal, o escondido fazia parte das nossas emoções e a descoberta
era o castigo.
Atualmente,
tudo se fala ---- tudo se comenta e tudo é aberto. ---- E eu fico aqui cheio de
dúvida se isso é melhor ou pior.
Obviamente,
que eu já fui um adolescente cheio de sonhos. Sonhos que se transformavam em
desejos ocultos. ----- E isso, sem dúvida foi para mim uma ferramenta que
compensava o entendimento entre o meu inconsciente com o consciente. ----- Como
já disse, anteriormente, era um menino bobo, tímido ao extremo. Não era bom de
conversa e nem sabia me apresentar a uma menina. Não cumprimentava alguém
olhando em seus olhos. Trazia comigo a insegurança e morria de medo do
ridículo. Tive que lutar muito contra isso.
Mas, cá
dentro do meu mundo, eu era cheio de ideias. Pensava o que queria porque Deus
teria me dado esse atributo. Não podia falar o que pensava. Entretanto, podia
pensar o que falava. Assim, eu dava dicas de que era realmente um bobão.
Todavia, no fundo, no fundo, eu era corajoso, safado, desavergonhado e descarado.
Na verdade, eu era alguém para mim e outro para os outros. Porém, muito longe
de me comparar aos jovens de hoje.
----- O cabaré era a
escola onde se aprendia a beijar, a transar e até a gostar de uma mulher. Era o
sonho de qualquer adolescente conhecer a zona boêmia. As mestras prostitutas se
propunham a prestar um bom serviço e existiam aquelas que eram verdadeiras
artistas e eu já me imaginava frequentando aquela escola fazendo a minha
matrícula através de uma visita ao cabaré do Zé Bolinha ---- até que, em um dia
de carnaval, recebi um convite de um amigo meu, o Zé Mori Alvarenga, ----- para
dar uma chegada lá na mulherada. ----- Eu não pensei duas vezes em aceitar o
convite. Ele era mais velho, já experiente e eu com uma companhia dessas
estaria como se, ao meu lado, tivesse o professor que eu queria.
Zé Mori
Alvarenga e eu, nesse tempo, éramos serventes de pedreiro na construção da
praça central de Candeias. Teria me contado que na zona se gastava muito
dinheiro e que iríamos dividir duas cervejas. Não poderia escutar a conversa
das mulheres porque senão elas arrancavam o couro da gente. Zé era prevenido e
deu-me a primeira aula no campo da safadeza. Iríamos ali para apreciar o
movimento. Só que eu gostei da descontração do ambiente e queria mais. Assim, planejei
uma nova visita ali para alguns dias depois. Agora, já sozinho.
Eu
possuía um toca discos de 78 rotações (não havia LPs nesse tempo) com um
pequeno amplificador de som que eu comprei, de segunda mão, de uma senhora
chamada, Ana Pimenta. Paguei o aparelho com muito sacrifício juntando cruzeiro
por cruzeiro. Custara a importância de $7.000 mil cruzeiros (unidade monetária antiga)
comprado com dinheiro que teria juntado desde o tempo em que
teria trabalhado na oficina mecânica do Zé do anjo, ganhando um salário de
$1.000 cruzeiros por mês. Na época, esses aparelhos, apesar de rudimentares,
eram muito caros ao contrário de hoje que são fartos e fáceis de serem
adquiridos. Sete mil cruzeiros era muito dinheiro e dava para fazer mais de uma
boa farra e bancar o rico por uma noite.
Diante
disso, eu tive uma ideia: Vou voltar ao cabaré, mas, agora, vou com dinheiro.
Vendi o meu toca discos por cinco mil cruzeiros para o filho de um vizinho
fazendeiro, tal de Pedrinho. Um menino bem mais novo do que eu e meio bobo.
Fiquei
com cinco mil cruzeiros no bolso e com o cabelo besuntado de Brilhantina
Glostora, ----- perfume Madeira do Oriente nas orelhas, ----- leite de colônia
até nas pernas e um maço de cigarros Columbia (o mais caro da época) segui para
o cabaré. Empanado em uma calça marrom e um paletó preto, roupas de ver Deus
sendo usadas para ver o diabo. Depois de preparar a janela para a volta mais
tarde, sai...
Nunca me
senti tão rico na vida. Eu parecia o dono do cabaré e causei a melhor impressão
nas mulheres. O dono do prostíbulo, que só era gentil quando via dinheiro,
tratou-me não como um proletário, mas sim, como um latifundiário.
A
mulherada nadou e rolou no rabo-de-galo (pinga com vermute), e na cerveja
(quente) --- Nesse tempo quase não havia bebida gelada ---- e no tira-gosto de
mortadela (o chamado pão com salame). Tocaram-se músicas próprias do ambiente
e, pela primeira vez, eu dancei. ---- Dancei com a mulherada toda. ---- Elas me
ensinavam tudo. Lembro-me que passei a ser alvo de disputa entre elas. Contudo,
eu escolhi uma mais bonitinha, que me ensinou a dar um beijo caprichado, pois,
eu não sabia nada. -----
Senti-me
como um galo no terreiro, no meio da galinhada. Eu que não tinha, ainda, o
hábito de usar bebidas alcoólicas e fui acordar lá pelas tantas da madrugada, com
alguém me mandando embora, pois eu estava roncando muito. ---- A cabeça parecia
estar estourada, a boca com gosto de cabo de guarda-chuva e o bolso sem um
vintém de sobra. Saí rua afora como o mais idiota de todos os homens.
No outro
dia de manhã, o pai do comprador do aparelho aparece com ele à porta de nossa
casa. Veio bravo falar com o meu pai para desmanchar o negócio, pois, seu filho
lhe teria furtado o dinheiro debaixo do colchão para comprar aquela porcaria.
Naquele
momento, eu curtia a primeira ressaca da minha vida. Mas, estava com a alma
lavada porque já teria fornecido ao mundo grande parte da minha inocência. ---- O resto não será difícil imaginar. Deus deu um jeito... ---
Eu fui
bobo, mas não fui santo. Hoje eu sou santo, mas não sou bobo. ---- O tempo se
incumbiu disso. ---- À vezes penso: Acho que foi melhor ser bobo. --- É o conflito de gerações.
Armando
Melo de Castro
Candeias MG
casos e acasos
CANDEIAS
– MINAS GERAIS
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