Eu deveria ter uns 7 ou 8 anos, quando certo dia vi meu pai
chegar a casa carregando uma lata de uns dez quilos mais ou menos. Ele havia
feito um negócio com alguém que trabalhava na ferrovia e teria recebido o
conteúdo daquela lata como parte do pagamento.
A ferrovia nesse tempo tinha um armazém volante num vagão
que abastecia os ferroviários nas suas turmas. E o que continha dentro daquela
lata tão bonita, e trazida pelo meu pai com um sorriso nos lábios diante da
curiosidade minha e de minhas irmãs Delmira e Maria Amélia?
Era um “mundo” de Bolacha Maria. ---- Até então nunca
tínhamos visto aquela bolacha. A gente estava acostumado a comer era os bolos
de fubá, que a minha mãe fazia, o pão São José (sovado) o pão tatu, a rosquinha
e o pãozinho de sal das padarias do Mozart e do João Pimenta. Aliás, naquele
tempo as padarias só produziam esses quatro tipos de pães. Quitanda só com as
quitandeiras, Dona Maria do Juca, Iraídes do Zé do Leonides, e outras mais que
também faziam salgados. Esses produtos industrializados eram raros e caros.
A abertura daquela lata foi uma verdadeira festa. Minha mãe
coou um café, tomou de um prato para cada um com uma boa porção daquelas
bolachas até então desconhecidas. Foram muitos dias comendo bolacha Maria.
Aquele nome familiar da bolacha, parece que a fazia ainda mais gostosa. Maria
Amélia minha irmã ficava toda orgulhosa da bolacha ter o nome dela.
Mas afinal ,hoje em dia será que existem pessoas que não
conhecem a bolacha Maria? Isso parece até ser coisa de português, mas não é.
Segundo a literatura a bolacha Maria faz parte do imaginário
de várias gerações de portugueses, mas a invenção desta bolacha é inglesa. Ela
foi inventada por um padeiro inglês no ano de 1874 em honra da grã-duquesa
MARIA ALELXANDROVNA, da Rússia, que nesse ano se casou com Alfredo, duque de
Edimburgo. Contudo, muitos países se apropriaram desta bolacha. Portugal foi um
deles onde são mais populares do que na Inglaterra. No Brasil são várias a
industrias que a produzem.
Armando Melo de Castro.
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