----------O Jiló é um fruto sem pai. Até hoje ninguém sabe ao certo de onde ele é natural. Há quem o considere da África; outros dizem que é das Antilhas; muitos afirmam sê-lo da América do Sul, especialmente, do Brasil... É isso mesmo! Já disseram que o jiló é brasileiro. Portanto, o jiló é realmente um filho sem pai certo.
O coitado do jiló apesar de ser da família das solanáceas, ou seja, da mesma família do tomate, não se vê os dois juntos. O tomate hoje em dia é um fruto de boa fama, apesar de que no passado já ter sido considerado um fruto venenoso. É muito apreciado e preferido bem maduro. Quando verde ninguém quer consumi-lo. No entanto o pobre do jiló, coitado, quanto mais verde mais corre o risco de ser picado. Ninguém quer saber de jiló maduro.
Eu nunca fui a um almoço ou jantar festivo que o jiló estivesse à mesa. Além disso, é um fruto de pouca moral, pois vive na boca dos desbocados: No homem macho o tomate representa os testículos... E o jiló?! Mais uma vez coitado, comumente a gente ouve alguém dizer: “vai tomar no jiló!”.
---Além de tudo isso o seu sabor amargo ficou sendo sinônimo de momentos difíceis da vida... Tudo que amarga faz lembrar o pobre do jiló e a criança o detesta.
---Lembro-me de um baião do Luiz Gonzaga que dizia: “Saudade amarga que nem jiló”. O amargo do jiló, realmente, faz com que esse fruto seja pouco considerado. Vejamos por exemplo:
---Antigamente, era comum ver alguém vindo da roça, rodar a cidade de Candeias para baixo e para cima com um balaio de jiló. E, nem sempre, voltava para casa após ter feito bons negócios.
---Candido Alves Vilela, mais conhecido por Candola, pessoa muito respeitada; membro da família Vilela, tendo como filhos, Mariquita, Balofo, Geralda, João, Pedrinho, Aldinha e Sabina. Candola morava onde hoje está estabelecida a Loja LEONARDO ‘S’.
---Certa feita passa à porta de sua casa, uma senhora que já havia rodado a cidade toda com o seu balaio de jiló e, já vencida pelo desânimo, pergunta-lhe:
---E o Sr. Candola, que não era muito sorridente, responde, sorrindo diante do trocadilho da pobre regateira: “Não! Já me bastam os amargos da vida. E depois o meu nome não é jiló...”.
---E a roceira, após observar que teria cometido uma infeliz troca de nomes, já estava a ponto de pegar aqueles malditos frutos amargos e jogá-los no primeiro buraco que lhe aparecesse. Vai se retirando desalentada, quando o Sr. Candola lhe chama de volta e lhe compra todo o jiló do jacá.Aquela criatura deu um sorriso doce e disse, olhando para os céus:
---Graças a Deus! Nossa Senhora vai ajudar o
senhor, Sô Jiló. E muito, muito mesmo.
---Menina, por acaso eu tenho cara de Jiló?
----Não! Não sinhô. O sinhô não tem cara de jiló não. O Senhor tem cara é de candola. Oh! Meu Deus me ajuda!
----E o que é candola, você sabe?
---Uai, Sô Candola... Candola, eu acho que é candola, néE o Sr. Candola, vendo contar os litros e enchendo um grande balde do solanum amargo, já estaria pensando: “O que vou fazer com tudo isso meu Deus”?
---É! A vida é assim: Uns gostam da fruta; outros preferem o caroço.
Armando Melo de Castro
Candeias-MG
Nenhum comentário:
Postar um comentário