Mudança é aquilo que mexe com a vida da gente e pode ser tanta coisa! Mudança de caráter; mudança de casa; mudança de cidade; mudança de emprego; mudança de funcionário; de prefeito; de padre; mudança de marcha... Enfim esse vocábulo está sempre mudando a nossa posição, o nosso pensamento e a nossa atitude em alguma coisa. E essas mudanças podem mexer com a gente por dentro e por fora. --- Mas para mim, existem duas mudanças importantes, que dado ao aguaceiro caído dos céus nesses últimos dias, naturalmente enviado por Deus, me leva a uma olhada no meu retrovisor e dar um passeio pelos primeiros quilômetros da estrada da minha vida e ver não apenas as mudanças na vida, como também as mudanças da vida. ----
Meu Deus! Como tem chovido aqui em Juiz de
Fora nesses dias... Eu um aposentado preso no aposento há uma semana sem poder
dar uma saidinha, assentar num dos bancos do Parque Halfeld e papear com a patota de “setenta pra cima”, numa forma especial de pesquisar como estou
indo pela vida nos meus quase 74 anos...
É duro ter que ficar preso o
tempo todo dentro de um apartamento em dias de chuva. E o pior: é não poder
reclamar por uma questão de princípios e não ter como evitar o pensamento sobre
aquilo que não devemos falar, mas não temos como deixar de pensar: “ô chuva
chata!”. --- Afinal o direito de pensar é sagrado.
Na minha infância, se
queixasse da chuva seria um pecado quase mortal. Seria uma blasfêmia contra
Deus. A chuva era sagrada e como sinonímia de alimento, de vida, e respeito.
----- Chuva com trovoada, então, era como se Deus estivesse lá de cima puxando
a nossa orelha aqui em baixo. Isso fazia com que minha casa se transformasse
num centro religioso e já se dava início aos rituais da tempestade. Eram invocados,
Santa Barbara e São Jerônimo. Se a chuva fosse a chamada “chuva brava” até
Jesus Cristo era chamado para ajudar e pedir ao Pai Celestial para amansar a
tempestade, enquanto os ramos bentos do Domingo de Ramos eram atirados a fornalha
do fogão de lenha; e as velas de sobra da ultima semana santa eram queimadas.
Lembro-me que meu pai,
improvisava sempre um turíbulo que durante a tempestade o deixava dependurado
na sala de nossa casa, onde eram queimados folhas de alecrim e coqueiro. A
família era convocada a ficar em silêncio e em oração durante a
tempestade. Durante um raio os homens
invocavam São Jerônimo e as mulheres, Santa Bárbara. ---- Falar mal da chuva ou
repudiar a tempestade era para os meus pais um sacrilégio uma blasfêmia
imperdoável. --------
Durante a seca o ritual era
diferente, mas com o mesmo respeito. Meu pai enchia uma garrafa com água para
cada filho e nos fazia acompanha-lo até ao Cruzeiro do Josino, no alto da serra
e lá, após molhar o pé do cruzeiro, ajoelhados fazíamos em coro esta prece
puxada pelo meu pai:
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“Oh Deus misericordioso! Nosso Pai e Senhor do Céu e da terra. Tu és
para nós existência, vida e energia. Criaste o homem à Tua imagem a fim de que
com o seu trabalho ele faça frutificar as riquezas da terra, colaborando assim
na tua criação. Temos a consciência da nossa miserável fraqueza porque não
podemos fazer nada sem Ti. Tu, Pai bondoso, que sobre nós fazes brilhar o sol e
fazes cair à chuva, tenha compaixão de todos nós que sofremos duramente a seca
que nos ameaça nesses dias”. Um pai Nosso e três ave-marias.
Era um habito do povo ir rezar no cruzeiro do
Josino na época da seca. molhar o pé da cruz e pedir chuva aos céus.-------- Suponho que hoje em dia isso não existe mais. A cada dia que passa eu sinto que o mundo no qual eu nasci vem morrendo à minha frente. Afinal, está tudo mudado.
Armando Melo de castro.
Candeias MG Casos e Acasos.
Um comentário:
Gostei muito
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