Hoje, eu amanheci sendo levado para a minha querida Candeias pelo vento da saudade e fui me acomodar na minha infância cheio
de desejo tal qual uma mulher grávida. --- Bateu em mim a vontade danada de
comer uma macarronada daquelas antigas que minha mãe fazia no domingo que não
tinha frango. A iguaria era feita do macarrão Pieroni, um produto fabricado na
cidade de Formiga. O mais barato, o pior e o mais consumido. Na embalagem tinha
a foto da fábrica e o número de 1 a 5; número 1 o mais fino e número 5 o mais
grosso. --- O produto não era visível como nos dias atuais. A embalagem era num
papel comum, azulado, motivo do número indicativo.
Era um macarrão
azedo, mas como nesse mundo com tudo se acostuma o pobre não vive de apreciar
sabor e sim de matar a fome. A gente comia e achava muito bom. O domingo era
dia de passar bem, se tinha frango não tinha macarronada e se tinha macarronada
não tinha frango. As verduras e legumes nesse dia dava-nos um descanso para o
estômago.
A macarronada era
exclusiva dos domingos e feita com o macarrão mais grosso. Cozinhava-o e depois de escorrê-lo ia acrescentando-lhe, em camadas, o molho de massa de
tomate e carne moída, completando com queijo ralado. --- Havia outra
formalidade que a minha mãe fazia o macarrão, contudo em outros dias da semana. Um outro jeito muito apreciado entre os meus era com molho de feijão. Após escorrê-lo como se fosse para a
macarronada, coava o feijão e fazia um molho do caldo com cheiro
verde, cebola de cabeça e carne seca.
A gente comia aquilo
como se estivesse degustando o manjar dos deuses. Parecia até que estávamos
participando do cardápio da Santa Ceia. Meu pai comprava uma garrafa de vinho
Vênus, o mais barato, e dava um golinho para cada filho.
Existiam outros
macarrões como o “Ferrini” da cidade de Itajubá, e o Marilu --- menos azedos e mais caros. --- O
mais consumido, porém, era o “Pieroni”, fábrica que posteriormente com o avanço
das indústrias de pastifícios veio a falir. ---- A macarronada do grosso
Pieroni era também servida nos almoços que as pessoas faziam para dar aos
ternos das Festas do Rosário, que muitos chamam de “Macarronada de Congado”.
Afinal, era o tempo
das vacas magras. --- Com o passar dos tempos, a fabrica do “Ferrini” pegou fogo e ele
desapareceu de vez. Ficaram o “Pieroni” e o Marilu, como concorrentes. Com o
advento desses macarrões especiais, com ovos etc. e com a evolução o “Pieroni”
e o Marilu sumiram do mapa. --- Em Candeias ainda se encontra esse tipo de
macarrão no comércio do Paulinho Vilela. É difícil encontra-lo porque só o
preferem as pessoas que o apreciaram na sua infância.
A gente comia até
encher a pança e depois lambia o beiço igual um cachorrinho. Lembro-me de ver
as minhas irmãs dizendo: “Mãe eu quero mais”. ------ Felizmente, minha mulher
Carmelita sabe fazer do jeitinho que minha mãe o fazia e eu posso matar a
saudade e matar o meu desejo.
Saudade! Só tem
saudade quem tem arquivos de alegria no coração! --- Hoje, vou me assentar na
minha banqueta e dizer: “Mãe eu quero mais”. ---
Saudade: presença dos ausentes
(Olavo Bilac)
Armando Melo de Castro.
Candeias MG Casos e Acasos.
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