Na década de 50 havia no
cerrado candeense muita gabiroba. E quando chegava o seu tempo, no mês de
novembro a dezembro, era uma das distrações do nosso povo, ir para os matos
chupar a frutinha tão saborosa de preferência comum. Os donos de caminhões de
aluguel ou proprietários de quaisquer veículos adentravam os cerrados levando gente para colher a frutinha.
Naquele tempo não havia essa cultura
de pastagens existentes hoje. E os cerrados ficavam anos sem que fossem
roçados, o que favorecia a proliferação da planta que era farta em todo o
município de Candeias. A disputa era para saber
onde encontrar a fruta já no ponto de ser consumida. Isso porque o ciclo de
amadurecimento é rápido e em poucos dias, um ponto onde era encontrada logo
terminava.
A era das gabirobas ficou
marcada na lembrança dos candeenses mais antigos, mesmo porque, os jovens
usavam essas excursões para começar um namoro... Para ter um pouco mais de
liberdade entre os namorados e para dar o primeiro beijo. Enfim para ficarem
mais à vontade.
E a bem da verdade, havia aqueles rapazes que iam para procurar
o ninho da rola, ver os gomos da mexerica, ou mexer na caixinha de tabaco.
Muitos ao invés de chupar gabiroba chupavam era a maçã do amor ou a maçã do
peito. Já muitas das moças iam para coçar o inhame, chocar dois
ovos, tratar de um pinto ou até domesticar uma cobra… E com todas essas
diversificações a língua dos mais velhos tinha mais o que falar.
Comumente a gente ouvia as
velhas puritanas dizer: “Essas gabiroba!!!..., Isso é mais é uma
pouca vergonha. De veis inquando sai uma moça trapaiada dessa chupança”.
Os velhos comentavam: “Eu
sei o que qui essas moças vai chupá lá no mato, é gapiroca. Fia minha num vai
num trem desse de jeito ninhum...”
Só que muitas iam às
escondidas e normalmente eram as piores.
João do Artur, um
baixinho fanhoso, que tinha um caminhão Chevrolet ano 1949, residia na Rua
Zoroastro Passos pelos lados do Bairro da Lage. Naquela época, fazia-se uma
lotação, tipo pau-de-arara, a fim de levar a turma para a devida apreciação da
fruta.
Certa vez, João do Artur
levou uma turma para um cerrado nas imediações da comunidade de Arrudas, onde a
fruta era abundante. Nesse dia a coisa teve feia.
Nesses piqueniques, as
pessoas levavam comida, bebida, violão e, posteriormente surgiram as
vitrolinhas à pilha sendo que esse luxo era um privilégio dos mais aquinhoados.
Outros levavam até barracas que eram armadas no meio do mato. Nesses passeios
eram grandes oportunidades para começar um namoro ou um caso amoroso.
Dizem que a libertinagem,
ou pouca vergonha, encontra-se em níveis elevados. Mas, a bem da verdade,
naqueles tempos as coisas eram apenas mais às escondidas e, longe dos pais, a
moçada aprontava. Esse comportamento humano seja certo ou errado já existe
desde que o mundo é mundo. Hoje, está apenas mais a descoberto.
Na hora de ir embora, já prestes a escurecer, João com a sua voz meia fanhosa procurava por um casal que havia desaparecido. Assim, ele começava a ficar nervoso e, logo que deu de escurecer, o povo todo inquietou-se para ir embora.
---Óia, Gente! Só nóis prucurano
esses dois. As veis eles até morreu, uai!.
E sairam diversas pessoas, mato afora, à procura do Vadinho da Sota e sua companheira Luiza.
De repente,
todo mundo volta. Haviam encontrado os dois sumidos que estavam semi-nus e dormindo abraçados, numa moita num canto do mato. E o João,
nervoso, dizia:
---"Eu truxe as pessoa pá
chupá gabiroba, elas enche a cara de pinga e resorve é cruzá, uai! Aí num dá né
sô"...
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e
Acasos
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