No principio da década de
60, tão logo foi terminada a construção das praças da Avenida 17 de Dezembro em
Candeias, a prefeitura --- num tempo em que nossa terra tinha prefeito que honrava os compromissos --- contratou dois servidores
exclusivos para cuidar e proteger as praças do centro.
Durante o dia as praças eram assistidas pelo
Bebé do Chico Freire; era ele o jardineiro, cuidava da grama, das flores e das
árvores. Estava sempre com uma mangueira regando, uma faca cortando ou uma
tesoura podando. E após às 18 horas era a vez do Sr. Zé Ximango, o vigia
noturno.
Bebé era jovem. No entanto, Sr. José Ximango
era um senhor de idade; baixinho, empanado num terno de brim surrado e a cabeça
coberta por um chapéu de lebre. Uma boca
sempre aberta como se fosse dar um sorriso forçado. Tinha três filhos, os quais
não puxaram nada do pai. Eram graúdos, olhos esbugalhados e corpo modulado em
toucinho. Os três eram tratados de ximango: O mais velho era Ximangão, o do
meio o ximango e o caçula, ximanguinho.
A natureza não teria sido
gentil com nenhum dos três filhos do Sr. Zé Ximango. Eram feios, desajeitados e fora dos padrões
de quem sabe descolar um papo. Coitados! Representavam o tipo de pessoa fácil
de ser encontrada no meio de uma multidão. O Ximangão, um pouco mais lúcido,
vivia andando pelo mundo e de vez em quando dava as caras. O do meio, o ximango,
bebia feito um gambá, e ficava diariamente plantado no Bar do Lulu, onde fazia
pequenos serviços em troca de um gole de cachaça e mais o que comer; e o
ximanguinho vivia rindo, achando graça de tudo que era sem graça.
Sô Zé Ximango era um vigia
que vigiava tudo e todos. Se visse alguém mal assentado num banco, como que
colocando os pés nos assentos, ele se aproximava se estacava na frente da pessoa,
enchia o peito e dizia: “VÃO VÊ”?
Da mesma forma se algum casal de namorados
estivesse apalpando um ao outro, ou simplesmente dando um beijinho, Sô Zé, do
mesmo jeito, aproximava-se se estacava na frente do casal e dizia: “VÃO VÊ?
AQUI NUM É LUGÁ DISSO NÃO”!
Se fosse visto alguém
pisando na grama ele não corria atrás da pessoa, mas perseguia-a até tê-la
frente a frente e lhe dizia: “EU VI VIU”! CÊ PENSA QUI EU NUM VI? ----- Sô Zé
Ximango durante o tempo todo conjugava o verbo ver.
Nos bancos situados na praça
bem defronte o Bar Piloto, todas as tardes se reuniam ali três amigos: Gabriel
Carlos, Alvino Ferreira e Expedito Cordeiro. E eu, também, quase sempre estava
por lá. ---- Sô Zé nos intervalos de
suas voltas vinha dava uma paradinha e se submetia aos questionamentos da turma,
e batia um papinho:
----Zé
por que essa sua implicância com os namorados. Dar uma "agarradinha" é coisa normal
nos dias de hoje... Alguém dizia.
----Num
pode não uai! Esses trem é in casa!
----Vai
me dizer que você também não gosta Zé?
----Brincá
é cumigo memo, só qui isso é in casa...
Outro queria saber?
----Mas
você ainda dá no couro?
Sô Zé Ximango achava a
pergunta boa demais porque lhe dava a chance de arrastar uma “malinha” e ria até
mostrar os sisos quando começava sempre com uma historia na qual ele puxava a
sardinha para a sua brasa.
----Eu
inda tô bão pá brincá sô! E eu tenho um jeito de cumeçá à brincadeira. Dispois que eu mais a muié deita e apaga a luz
eu cumeço a fuça. Ai a muié fala: Tira essa perna prá lá Zé... Eu dô uma
risadinha e falo prá ela: Perna hem!? Isso é a brincaiona memo que tá quereno brincá.
---Que nada Zé, vai ver que a mulher fala é que esta com dor de cabeça...
----Nada
disso! Dor de cabeça lá in casa nóis cura é com a maquina de fazê Ximango.E dava aquela risada mais safada do mundo!
Zé Ximango, falava pouco e
expressava muito; mestre metafórico e puritano impuro.
É como dizia o antigo
comediante Zé Trindade: “O que é a natureza meu Deus do céu”!
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
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