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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O VIGIA DA PRAÇA.



No principio da década de 60, tão logo foi terminada a construção das praças da Avenida 17 de Dezembro em Candeias, a prefeitura --- num tempo em que nossa terra tinha prefeito que honrava os compromissos --- contratou dois servidores exclusivos para cuidar e proteger as praças do centro.

Durante o dia as praças eram assistidas pelo Bebé do Chico Freire; era ele o jardineiro, cuidava da grama, das flores e das árvores. Estava sempre com uma mangueira regando, uma faca cortando ou uma tesoura podando. E após às 18 horas era a vez do Sr. Zé Ximango, o vigia noturno.

Bebé era jovem. No entanto, Sr. José Ximango era um senhor de idade; baixinho, empanado num terno de brim surrado e a cabeça coberta por um chapéu de lebre.  Uma boca sempre aberta como se fosse dar um sorriso forçado. Tinha três filhos, os quais não puxaram nada do pai. Eram graúdos, olhos esbugalhados e corpo modulado em toucinho. Os três eram tratados de ximango: O mais velho era Ximangão, o do meio o ximango e o caçula, ximanguinho.

A natureza não teria sido gentil com nenhum dos três filhos do Sr. Zé Ximango.  Eram feios, desajeitados e fora dos padrões de quem sabe descolar um papo. Coitados! Representavam o tipo de pessoa fácil de ser encontrada no meio de uma multidão. O Ximangão, um pouco mais lúcido, vivia andando pelo mundo e de vez em quando dava as caras. O do meio, o ximango, bebia feito um gambá, e ficava diariamente plantado no Bar do Lulu, onde fazia pequenos serviços em troca de um gole de cachaça e mais o que comer; e o ximanguinho vivia rindo, achando graça de tudo que era sem graça.

Sô Zé Ximango era um vigia que vigiava tudo e todos. Se visse alguém mal assentado num banco, como que colocando os pés nos assentos, ele se aproximava se estacava na frente da pessoa, enchia o peito e dizia: “VÃO VÊ”?

Da mesma forma se algum casal de namorados estivesse apalpando um ao outro, ou simplesmente dando um beijinho, Sô Zé, do mesmo jeito, aproximava-se se estacava na frente do casal e dizia: “VÃO VÊ? AQUI NUM É LUGÁ DISSO NÃO”!

Se fosse visto alguém pisando na grama ele não corria atrás da pessoa, mas perseguia-a até tê-la frente a frente e lhe dizia: “EU VI VIU”! CÊ PENSA QUI EU NUM VI? ----- Sô Zé Ximango durante o tempo todo conjugava o verbo ver.

Nos bancos situados na praça bem defronte o Bar Piloto, todas as tardes se reuniam ali três amigos: Gabriel Carlos, Alvino Ferreira e Expedito Cordeiro. E eu, também, quase sempre estava por lá.  ---- Sô Zé nos intervalos de suas voltas vinha dava uma paradinha e se submetia aos questionamentos da turma, e batia um papinho:

----Zé por que essa sua implicância com os namorados. Dar uma "agarradinha" é coisa normal nos dias de hoje... Alguém dizia.
----Num pode não uai! Esses trem é in casa!
----Vai me dizer que você também não gosta Zé?
----Brincá é cumigo memo, só qui isso é in casa...

Outro queria saber?

----Mas você ainda dá no couro?

Sô Zé Ximango achava a pergunta boa demais porque lhe dava a chance de arrastar uma “malinha” e ria até mostrar os sisos quando começava sempre com uma historia na qual ele puxava a sardinha para a sua brasa.

----Eu inda tô bão pá brincá sô! E eu tenho um jeito de cumeçá à brincadeira.  Dispois que eu mais a muié deita e apaga a luz eu cumeço a fuça. Ai a muié fala: Tira essa perna prá lá Zé... Eu dô uma risadinha e falo prá ela: Perna hem!? Isso é a brincaiona memo que tá quereno brincá.
 ---Que nada Zé, vai ver que a mulher fala é que esta com dor de cabeça...
----Nada disso! Dor de cabeça lá in casa nóis cura é com a maquina de fazê Ximango.E dava aquela risada mais safada do mundo!

Zé Ximango, falava pouco e expressava muito; mestre metafórico e puritano impuro.

É como dizia o antigo comediante Zé Trindade: “O que é a natureza meu Deus do céu”!

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.

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