A melhor época da vida da gente é, a meu ver, o período da
adolescência. Como sou do sexo masculino, falo pelos homens. Quando
envelhecemos, imaginamos que os jovens vivem no mundo da lua, não se preocupam
com as coisas; são irresponsáveis; gostam de músicas sem letra, sem melodia e
alta; não veem uma mulher pelo rosto e sim pelas pernas; vivem colocando
apelido nos outros e jamais imaginam que um dia irão enfrentar a morte. Coisa
que os adolescentes gostam é de apreciar e referenciar o bumbum da professora e
depois comentar entre eles. Para os mais eufêmicos começam com bumbum, ou
traseiro. Os mais deslanchados, naturalmente, vão direto à bunda.
Hoje de manhã, quando eu estava na janela da minha residência
e vendo descer uma turma de adolescentes vindos de uma escola próxima daqui de
casa, de forma extravagante, indisciplinados, gritando, falando nomes feios, ---
como dizia a minha mãe quando me educava---, correndo e com brincadeiras sem graça;
agarrando uns aos outros... Deu para ouvir uma senhora idosa que descia junto e a excomungar o comportamento daqueles jovens.
Eu pensei: Eu não tenho o direito de criticar esses jovens,
porque eu já fiz tudo isso que eles fazem. Julgar-me certo e criticá-los porque
envelheci; censura-los por um comportamento alegre e descontraído, seria um
gesto injusto de tentar cobrir o meu corpo com a minha própria língua.
À bem da verdade o jovem precisa ser administrado para uma
disciplina e até certo ponto temos razão em censura-los, mas nota-se que muitas
pessoas os condenam taxativamente, deixando de lado o fato de que o conflito de
geração sempre existiu e sempre haverá de existir.
E neste momento, colocando a mão sobre a minha consciência,
eu me lembro de que no meu tempo, nós adolescentes, também, éramos condenados
pelos mais velhos. Éramos chamados de porcos por causa dos cabelos longos numa
alusão aos Beatles; de “viados” por causa dos rebolados do Elvis Presley; de maus
educados por causa da música alta; do nosso mau gosto musical devido à música
da jovem guarda que batia de frente com a cultura musical da época; fumávamos
escondido de nossos pais; colocávamos apelido nos outros e também, não
imaginávamos que um dia iriamos morrer...
Com certeza eu fiz tudo isso. Agora, tem uma coisa: Eu era
acanhado! Um cara tímido olhava as coisas pelo rabo do olho, mas com maldade na
cabeça. Na sala de aula fui, durante um tempo, muito disciplinado porque, na
verdade eu não era disciplinado eu era um bobo, um bobão e tímido, até que optei-me
por seguir a indisciplina.
Mas os meus olhos e os meus neurônios eram espertos, saudáveis, sempre atentos e nunca me deixaram escapar a beleza das nádegas da minha professora que se chamava Ana Zélia Melo. Aquele traseiro lindo fermentava os meus neurônios e me levaram a uma emulação sobre um poema que o meu amigo “Lei Careta” gostava de declamar:
“Em bunda nunca vi
tanta magia! Deve ser uma bunda cor de rosa da cor do sol quando desponta o
dia. --- E eu num silêncio mudo imaginando, embora aquela cara não me valesse nada, só
aquela bunda me valia tudo”.
E agora, perdoem-me meus contemporâneos, só porque ficamos
velhos vamos achar que estamos sempre certos. Nós fomos jovens e também fomos
criticados. A verdade meus amigos do meu
tempo, nós tínhamos em ação um eufemismo que os jovens de hoje não têm, eles
são mais diretos e porque não dizer mais autênticos... Afinal, ninguém fala
hoje que vai comer uma gatinha. Eles vão direto ao assunto.
Perdoe-me, meus
jovens! Vou ser mais compreensivo. Vocês são apenas mais atrevidos, mais
afoitos, mais pra frente; mas nem sempre estão errados. Vocês têm apenas um
acrescentamento do que fomos e do necessário para que a Obra de Deus seja
continuada.
Portanto, quando um idoso reprovar você meu jovem, não se
irrite, não o condene. A verdade é que o ser humano é frágil e às vezes
demasiadamente carente. Condenam aquilo que não têm ou que tiveram e que
perderam; que desejam e que não podem.
Armando Melo de Castro
Candeias Casos e Acasos MG
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