Há dias quando eu passava
pela Avenida Rio Branco aqui em Juiz de Fora, observei um homem caído num canto
da avenida. O povo, incluindo eu, passava para lá e para cá e ninguém parava
para ver aquele coitado ali que poderia estar dormindo, bêbado, ter passado mal
ou estar morto. Quando voltei, pelo mesmo caminho, havia algumas pessoas ao
redor do homem ali caído e alguém já dizia que ele estava morto. Foi preciso
entre centenas de pessoas, aparecer um curioso para constatar que havia ali um
filho de Deus morto de qualquer jeito.
Diante daquele quadro fúnebre eu
fiquei a meditar: Se eu cair morto aqui em Juiz de Fora, até que vejam que
estou morto pode demorar horas. E quando isso acontecer serei levado para algum
lugar até que possam encontrar a minha família para chorar ou lamentar a minha
morte. E por um momento parece que me senti preocupado com isso. Conclui,
portanto, que nós humanos gostamos de ser observados até mesmo depois de mortos
enquanto estamos vivos.
Quem não gostaria de ser o
descobridor da cura do câncer? Quem não gostaria de ser um artista famoso? O rei do petróleo... Um presidente da república... O melhor
jogador de futebol do mundo? Imagino que
todo mundo gostaria de ser notado.
Aquele homem morto me deixou meio
abatido, meio abalado, meio triste. Só meio... Afinal não sei de quem se
tratava e nessas circunstâncias somos igualmente meio frios. E mesmo sentindo
esse meio eu já procurei afasta-lo de mim. Logo passei defronte a uma casa
lotérica e lá estava uma placa informando que a Mega Sena estaria acumulada em
44 milhões de reais. Uma grande aglomeração estava ali presente, e como havia
um caixa prioritário para os idosos resolvi participar daquela esperança. Nesse momento eu já entrei para a lotérica e
fiquei por ali tentando imaginar quais seriam os números que poderiam por
aqueles 44 milhões de reais nas minhas mãos. Fiz dois jogos na Sena, comprei
raspadinhas e tiras de bilhete do jacaré. Gastei 15 reais e sai dali pensando,
pensando e pensando e cheguei à minha casa pensando e pensei até o dia do
sorteio: Eu, com 44 milhões na minha conta no Banco poderei fazer isso e
aquilo. Já nem pensava em raspadinha e nem tiras de bilhetes. Eu queria era os
44 milhões para alimentar a minha vontade de ser notado e pensava: Serei o dono
do mundo, naturalmente pensei...
E quem não pensaria? Eu poderia dar carros de
presente! Dar apartamentos de presente!
E com isso o medo de cair morto no meio de gente estranha sumiu. E tão
logo tive o resultado dos sorteios que levaram os meus 15 reais para o ralo, eu
voltei a pensar no homem caído e morto na Avenida Rio Branco. Só que agora eu
pensei diferente... Se eu cair morto em Candeias, todo mundo vai ver que sou eu,
na hora... E é por isso que eu amo você minha querida terra onde aportei no dia
16 de janeiro de 1946, às 12,20 horas, quando o sol estalava mamona.
Enquanto isso um único ganhador
da cidade de Dores do Indaiá, MG, ficava milionário com os 44 milhões, e eu
aqui mais pobre 15 reais. Mas em compensação estive rico de esperanças durante
alguns dias. Esperança é uma coisa boa de sentir e pode nos fazer felizes e ela é
sempre a ultima que acaba.
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos.
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