Nilton Santos
Tecnicamente,
eu entendo muito pouco sobre futebol. Para que eu pudesse confirmar a
existência de um impedimento, por exemplo, seria necessário que os jogadores
parassem por um momento em suas posições. Eu sou daqueles que vê o bandeirinha,
mas, que não vê o árbitro. Vejo o jogador, entretanto, não vejo a falta. Vejo a
cor da camisa, todavia, não vejo o número. Sei se o jogador é negro ou branco.
Contudo, não consigo dar um grito na hora de um gol, mesmo que seja da seleção
brasileira.
Ao começar a
assistir um jogo de futebol que não seja do Botafogo, pela televisão, saio, vou
à cozinha procurar algo para comer e, às vezes, até esqueço do jogo. Não gosto
de ir aos estádios. Constato que o ser humano vira um bicho, um animal
irracional quando entra em um estádio de futebol. Penso nisso desde quando vi
um professor, muito educado, perder toda a educação dentro de um estádio; já vi
um padre perder a compostura; já presenciei um machão sair correndo com muito
medo após uma áspera discussão e até um gay virar macho, botando para quebrar.
Vi todas essas pessoas se transformarem dentro de um campo de futebol, gritando
e falando coisas que jamais falariam fora dali.
Porém, com
toda essa ignorância futebolística, eu posso dizer que gosto muito do esporte.
A experiência me mostrou que as pessoas se tornam torcedores de um time quando
criança. A gente aprende a gostar de futebol é no verdor dos anos. É raro ver
uma pessoa falar que não gosta sequer um pouco, um pouquinho de futebol. E se
isso acontece, pode-se atestar que essa pessoa não teve qualquer convivência
com esse esporte em sua infância, tratando-se, assim, de alguém com um
comportamento fora dos padrões normais, eu diria do padrão nacional.
O futebol é
paixão, é emoção, é vitória e, obviamente, é derrota. É alegria e tristeza; é
amor e ódio. O futebol é uma cervejinha gelada, é uma dose de cachaça, é um
grito de alegria e é uma lágrima de tristeza. Futebol é fanatismo, é doença; é
um coração embalado sem medo de parar e é uma vontade de matar ou de beijar. Futebol
é uma brincadeira para todas as idades.
Antes de
1958, o único contato que eu tinha com o futebol era através do meu querido Rio
Branco Futebol Clube de Candeias. Era o time cujo estádio ficava próximo a
minha casa, na Rua Coronel João Afonso. Meu pai foi jogador desse clube e eu
nasci convivendo com ele. O Rio Branco foi o primeiro momento do futebol com o
qual convivi. Ele entrou pelos meus olhos, foi para o coração e lá se encontra
até hoje. Apesar do time ainda existir com um estádio bem arrumado e bem
colocado, contudo, é praticamente inoperante. Mas, isso já me faz feliz porque
alimenta, constantemente, as minhas lembranças.
A partir de
1958, com a vitória da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Suécia, o futebol
brasileiro teve um impulso muito grande, principalmente, ao exterminar o triste
complexo de vira-latas definido, assim, por Nélson Rodrigues na traumática
derrota, em 1950, na primeira Copa do Mundo disputada em solo brasileiro. Após
a vitória na Suécia, houve, na minha rua, uma febre da meninada para comprar os
álbuns de figurinhas que surgiam naquele momento. Os times que forneceram
jogadores para a seleção, com certeza, ganharam muitos torcedores mirins.
Na década de
50 e início de 60, o Botafogo atravessava a chamada fase de ouro. Era o time
que mais fornecia jogadores para a Seleção brasileira. Garrincha, Nilton
Santos, Didi, Manga, Quarentinha, Paulo Valentim, Carlos Roberto, Roberto
Miranda, Gerson, Jairzinho, Zagalo, Amarildo, Sebastião Leônidas, Paulo César
Caju, Rogério, sem esquecer que Garrincha, Nilton Santos e Didi eram
considerados incontestáveis gênios do futebol.
Nesta minha
ignorância futebolística, e considerando também, a constante alteração tática
das equipes, eu misturo as posições dos jogadores e confesso que mal consigo me
lembrar das posições dos jogadores pentacampeões. Todavia, existem duas
posições de dois jogadores que eu jamais esquecerei. A posição de ponta
direita, apesar de extinta, deveria ter sido mudada para “Garrincha” e a de
lateral esquerda para “Nilton Santos”. A crônica mundial afirma que os dois
foram os melhores do mundo nas suas posições. Quaisquer pesquisas provam e
comprovam, a quem se interessar e quiser tirar a dúvida: Garrincha, “A alegria
do Povo” e Nilton Santos, “ A enciclopédia do futebol” foram os
melhores do mundo, nas suas posições, em todos os tempos. Foram eles os dois
jogadores que mais vestiram a camisa do Botafogo. Nilton Santos, 721 vezes e
Garrincha, 612.
E é por isso
que coloquei o Botafogo dentro do meu coração. Eu não sou fanático. Se o
Botafogo for para a segunda, terceira, quarta, quinta, até sexta divisão, caso
existisse, eu iria junto, assim como fui junto para a várzea futebolística de
Candeias com o Rio Branco.
Semana
passada, um dos meus ídolos foi para o céu, junto de Deus. Uma das maiores
figuras de todos os tempos do futebol mundial. Aquele que revolucionou a sua
posição em campo. Nilton Santos morreu aos 88 anos. O Brasil ficou, mais uma
vez, mais pobre de gênios. Os botafoguenses históricos estão chorando a sua
morte. Concluo que, realmente, eu não gosto muito de futebol. Acho que eu gosto
mesmo é do Botafogo e de sua riquíssima história. Talvez, eu seja o mais
humilde de todos os torcedores do Botafogo, entretanto, quero render, também, a
minha simples homenagem a ele.
Creio que
não vou lamentar a morte do Nilton Santos cujo nome exaltei a vida inteira. Quero
apenas felicitá-lo pelas alegrias que deu ao povo brasileiro com a arte de seu
futebol, pela dignidade com que serviu ao esporte e, com certeza, estará lá no
céu no mesmo aposento que o seu colega, amigo e compadre, Mané Garrincha. E,
nesta oportunidade, tão relevante para mim, dou-me o direito de roubar uma
frase da crônica de Carlos Drumond de Andrade feita para Garrincha, por ocasião
de sua morte, em 1983:
Se há um Deus que regula o
futebol, esse Deus é, sobretudo, irônico e farsante e Garrincha foi um de seus
delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é
também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber
sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país
inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há
outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo que nos alimente o sonho.
“Não há outro Nilton Santos disponível, precisa-se de um novo que nos
alimente o sonho.”
Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos
Um comentário:
Caro Armando, passei para lhe deixar um abraço de Boas Festas, nada entendo de futebol, não tenho o que dizer, mas votos de felicidades posso lhe deixar!
Boas Festas!
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