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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

MEU IDOLO NILTON SANTOS.


Nilton Santos

Tecnicamente, eu entendo muito pouco sobre futebol. Para que eu pudesse confirmar a existência de um impedimento, por exemplo, seria necessário que os jogadores parassem por um momento em suas posições. Eu sou daqueles que vê o bandeirinha, mas, que não vê o árbitro. Vejo o jogador, entretanto, não vejo a falta. Vejo a cor da camisa, todavia, não vejo o número. Sei se o jogador é negro ou branco. Contudo, não consigo dar um grito na hora de um gol, mesmo que seja da seleção brasileira.

Ao começar a assistir um jogo de futebol que não seja do Botafogo, pela televisão, saio, vou à cozinha procurar algo para comer e, às vezes, até esqueço do jogo. Não gosto de ir aos estádios. Constato que o ser humano vira um bicho, um animal irracional quando entra em um estádio de futebol. Penso nisso desde quando vi um professor, muito educado, perder toda a educação dentro de um estádio; já vi um padre perder a compostura; já presenciei um machão sair correndo com muito medo após uma áspera discussão e até um gay virar macho, botando para quebrar. Vi todas essas pessoas se transformarem dentro de um campo de futebol, gritando e falando coisas que jamais falariam fora dali.

Porém, com toda essa ignorância futebolística, eu posso dizer que gosto muito do esporte. A experiência me mostrou que as pessoas se tornam torcedores de um time quando criança. A gente aprende a gostar de futebol é no verdor dos anos. É raro ver uma pessoa falar que não gosta sequer um pouco, um pouquinho de futebol. E se isso acontece, pode-se atestar que essa pessoa não teve qualquer convivência com esse esporte em sua infância, tratando-se, assim, de alguém com um comportamento fora dos padrões normais, eu diria do padrão nacional.

O futebol é paixão, é emoção, é vitória e, obviamente, é derrota. É alegria e tristeza; é amor e ódio. O futebol é uma cervejinha gelada, é uma dose de cachaça, é um grito de alegria e é uma lágrima de tristeza. Futebol é fanatismo, é doença; é um coração embalado sem medo de parar e é uma vontade de matar ou de beijar. Futebol é uma brincadeira para todas as idades.

Antes de 1958, o único contato que eu tinha com o futebol era através do meu querido Rio Branco Futebol Clube de Candeias. Era o time cujo estádio ficava próximo a minha casa, na Rua Coronel João Afonso. Meu pai foi jogador desse clube e eu nasci convivendo com ele. O Rio Branco foi o primeiro momento do futebol com o qual convivi. Ele entrou pelos meus olhos, foi para o coração e lá se encontra até hoje. Apesar do time ainda existir com um estádio bem arrumado e bem colocado, contudo, é praticamente inoperante. Mas, isso já me faz feliz porque alimenta, constantemente, as minhas lembranças.

A partir de 1958, com a vitória da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Suécia, o futebol brasileiro teve um impulso muito grande, principalmente, ao exterminar o triste complexo de vira-latas definido, assim, por Nélson Rodrigues na traumática derrota, em 1950, na primeira Copa do Mundo disputada em solo brasileiro. Após a vitória na Suécia, houve, na minha rua, uma febre da meninada para comprar os álbuns de figurinhas que surgiam naquele momento. Os times que forneceram jogadores para a seleção, com certeza, ganharam muitos torcedores mirins.

Na década de 50 e início de 60, o Botafogo atravessava a chamada fase de ouro. Era o time que mais fornecia jogadores para a Seleção brasileira. Garrincha, Nilton Santos, Didi, Manga, Quarentinha, Paulo Valentim, Carlos Roberto, Roberto Miranda, Gerson, Jairzinho, Zagalo, Amarildo, Sebastião Leônidas, Paulo César Caju, Rogério, sem esquecer que Garrincha, Nilton Santos e Didi eram considerados incontestáveis gênios do futebol.

Nesta minha ignorância futebolística, e considerando também, a constante alteração tática das equipes, eu misturo as posições dos jogadores e confesso que mal consigo me lembrar das posições dos jogadores pentacampeões. Todavia, existem duas posições de dois jogadores que eu jamais esquecerei. A posição de ponta direita, apesar de extinta, deveria ter sido mudada para “Garrincha” e a de lateral esquerda para “Nilton Santos”. A crônica mundial afirma que os dois foram os melhores do mundo nas suas posições. Quaisquer pesquisas provam e comprovam, a quem se interessar e quiser tirar a dúvida: Garrincha, “A alegria do Povo” e Nilton Santos, “ A enciclopédia do futebol” foram os melhores do mundo, nas suas posições, em todos os tempos. Foram eles os dois jogadores que mais vestiram a camisa do Botafogo. Nilton Santos, 721 vezes e Garrincha, 612.
E é por isso que coloquei o Botafogo dentro do meu coração. Eu não sou fanático. Se o Botafogo for para a segunda, terceira, quarta, quinta, até sexta divisão, caso existisse, eu iria junto, assim como fui junto para a várzea futebolística de Candeias com o Rio Branco.

Semana passada, um dos meus ídolos foi para o céu, junto de Deus. Uma das maiores figuras de todos os tempos do futebol mundial. Aquele que revolucionou a sua posição em campo. Nilton Santos morreu aos 88 anos. O Brasil ficou, mais uma vez, mais pobre de gênios. Os botafoguenses históricos estão chorando a sua morte. Concluo que, realmente, eu não gosto muito de futebol. Acho que eu gosto mesmo é do Botafogo e de sua riquíssima história. Talvez, eu seja o mais humilde de todos os torcedores do Botafogo, entretanto, quero render, também, a minha simples homenagem a ele.

Creio que não vou lamentar a morte do Nilton Santos cujo nome exaltei a vida inteira. Quero apenas felicitá-lo pelas alegrias que deu ao povo brasileiro com a arte de seu futebol, pela dignidade com que serviu ao esporte e, com certeza, estará lá no céu no mesmo aposento que o seu colega, amigo e compadre, Mané Garrincha. E, nesta oportunidade, tão relevante para mim, dou-me o direito de roubar uma frase da crônica de Carlos Drumond de Andrade feita para Garrincha, por ocasião de sua morte, em 1983: 

Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é, sobretudo, irônico e farsante e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo que nos alimente o sonho.

“Não há outro Nilton Santos disponível, precisa-se de um novo que nos alimente o sonho.”

Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos



Um comentário:

Celle disse...

Caro Armando, passei para lhe deixar um abraço de Boas Festas, nada entendo de futebol, não tenho o que dizer, mas votos de felicidades posso lhe deixar!
Boas Festas!