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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O MEU PÉ DE TANGERINA.

Eu e ao fundo o meu pé de Tangerina.
 A vida é uma estrada cheia de obstáculos. Nascemos, vivemos e morremos. Somos enganados logo que chegamos ao mundo no momento em que nos colocam na boca um bico seco no sentido de nos castrar o choro. Crescemos em um mundo negativo onde os mais velhos mentem e os políticos roubam quando deveriam ser modelos sociais omitindo, assim, sua condição de seres exemplares.
Chegamos à vida adulta por um caminho no qual a tristeza vai lado a lado com a alegria que é sempre menor. A Obra da Criação de Deus é perfeita, entretanto, é constituída de linhas tortas que nem sempre são respeitadas. Com isso, toma conta de grande parte das pessoas o sentimento de inveja, de vingança e maldade.

A verdade é que vivemos enganando e iludindo a nós mesmos. Isso se deve ao fato de sermos frágeis. Nascemos sem pedir, vivemos entre a cruz e a espada e morremos contra a vontade. Obviamente, queremos ir para o céu, todavia, sem a necessidade de morrermos para isso.

O sentimento humano deveria ser trabalhado desde o dia do nascimento, todavia, não o é. Vivemos em um mundo viciado e o vício é contaminante. Os pais que deveriam ser os responsáveis, na realidade, são vítimas de um modelo social deturpado. E, com isso, somos dominados por sentimentos que retratam um sofrimento íntimo que vive corroendo o ser humano em sua grande maioria e destruindo o mundo encantado das crianças.

Contudo, falando em sentimento, despertei, no dia de hoje, pensando em uma mudança de domicílio que farei dentro de alguns dias. Completarei vinte e seis mudanças de tetos sob os quais eu tenho vivido incluindo cidades, pensões e casas, no decorrer da minha vida como bancário durante trinta e dois anos.

Em cada mudança que a gente faz, parece que fica um pedaço da gente para trás. E nessa meditação, eu me lembro da primeira mudança que fiz na vida, quando mudamos da casa onde nasci na Rua Coronel João Afonso, atinando-me com a primeira tristeza que entrou pelos meus olhos, registrou-se no meu cérebro e se acomodou no meu coração permanecendo até hoje.

Eu estava com meus doze anos de idade e ainda não tinha me deparado com a essência da vida. Naquele tempo, o céu era mais azul e as nuvens mais brancas. A velhice não era vista, nem de longe! As minhas esperanças eram tão limitadas! Eu não tinha expectativa para me formar em nada, eu não tinha uma televisão para me mostrar a ostentação da vida. Não tinha um rádio para ouvir uma canção que fosse alegre ou degradante. Não tinha um brinquedo de loja. O meu mundo era pobre e muito pequeno, porém, era imensamente feliz. E os limites deste mundo estavam no quintal da nossa casa que, em função daquela mudança, ficava para trás. Assim, eram os meus amigos: o pé de lima da Pérsia, o pé de laranja, o pé de pêssego, o abacateiro e a minha preferida, a querida árvore na qual tantas vezes eu brinquei sob a sua sombra com o meu caminhãozinho construído pelo meu pai. Era o meu pé de tangerina pura sem mutação, hoje muito rara e que possuía frutos doces e saborosos dos quais eu nunca mais pude apreciar. A minha tangerineira era como a minha árvore de natal e os seus frutos eram os presentes vindos de
Deus.

Despedi-me da minha árvore querida como um noivo que se despede da noiva ao ir para a guerra, em um banho de lágrimas. Foi, se não me engano, a primeira vez que chorei com o coração. E sempre, quando estou para me mudar de casa, ou vejo algum tipo de tangerina, paira sobre mim esta agressão emocional desencadeando uma dor incurável na forma de um rastro de saudade.

"No amor de uma criança tem tanta canção pra nascer, carinho e confiança, vontade e razão de viver."
( Cláudio Nucci )

 Armando Melo de Castro
Candeias MG Casos e Acasos

Um comentário:

Damarys disse...

Amei tio....amo vc!!!Damarys....