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quinta-feira, 7 de junho de 2012

JOÃO CAMBOTA.



João Pedro Rodrigues, --- conhecido por João Cambota, --- era viajante e vendia produtos hidráulicos e elétricos para casas de material de construção. ---- Foi um autêntico embaixador de Candeias. Com certeza, esteve entre os candeenses que mais amavam a sua terra natal. Desdobrava-se em suas viagens para estar, nos fins de semana, junto aos seus conterrâneos. --- Era o verdadeiro mensageiro da alegria. --- Gostava muito de cantar, tocar instrumentos musicais como cavaquinho, violão e acordeão. Em todas as cidades nas quais fazia a praça, como vendedor, era bastante conhecido.

Fomos grandes amigos. Participei bastante de sua vida, desde a fundação do Ginásio de Candeias, que funcionava precariamente na Escola Estadual Padre Américo, no período da noite. ---- Nesse tempo, em Candeias, não havia quase nada o que fazer à noite. A televisão ainda não teria chegado. --- Assim, com o advento do ginásio, muitas pessoas de idades diferentes matricularam-se não com o objetivo principal de estudar, mas para ter aonde ir e ocupar o tempo para namorar e ou farrear.

Havia um grupo de estudantes que quase levou o Ginásio de Candeias ao fechamento. Para muitos a escola tornara-se numa diversão, num ponto de lazer para eles. Iam para lá, exclusivamente, para se divertirem. E João Cambota pertencia a esse grupo. ---- Certa vez, ele levou uma garrafa de pinga e um pedaço de mortadela. Quando chegou a hora do intervalo, ocorreu uma verdadeira festa. Isso deu um bode danado. ---

Minha amizade com o João Cambota começou nesse tempo como colegas no Ginásio. Depois, nas minhas andanças, como bancário ou a passeio, sempre encontrava com ele e a sua pasta de viajante. ---- Era um grande vendedor e faturava um bom dinheiro.

João se casou com a professora Mercês Santos, da cidade de Cristais, irmã de Dona Aparecida do Biribico. --- O casamento não durou muito, porque João não conseguiu se adaptar à vida de casado.

Visitava-me sempre quando eu morei em São Paulo na Rua General Osório, no Bairro Santa Ifigênia, sendo que, muitas vezes, dormia no meu apartamento e, por lá, colocávamos a conversa em dia e tomávamos os nossas tragos, ainda num tempo em que não teria sido tomado pelo excesso. João era uma excelente pessoa, mas ruim para si.

Praticamente, em todas as cidades, nas quais morei e trabalhei, era inevitável o meu encontro com o João Cambota. Entretanto, o tempo que é responsável por tudo, principalmente, por nossas vidas marcou com tristeza os meus dois últimos encontros com ele; dramáticos e que eu jamais os esquecerei. ---- João teria se tornado num alcoólatra inveterado e ia a cada dia se entregando a mais, ao alcoolismo. ----

Certo dia, quando eu residia na cidade de Luz, eu o encontrei num bar já embriagado. --- Um encontro totalmente diferenciado daqueles que outrora por tantos vezes tivemos. ---- E eu ainda brinquei com ele: João como você vai vender alguma coisa nesse estado? ---- Convidei-o para ir até à minha casa, mas ele não aceitou o convite. ---- Ali nos despedimos quando ele me disse que estaria indo para Candeias naquele dia.

Quatro dias depois eu fui procurado, na agência bancária onde eu trabalhava pelo dono de uma casa comercial, antigo freguês dele, Sr. Antônio Maciel, que lhe concedera estadia por uma noite num cômodo existente na área de depósito de sua empresa. Mas João permanecera lá por mais tempo, quando o seu estado físico piorou.

---- Esse senhor sabendo que éramos conterrâneos, procurou-me para saber como entrar em contato com a família dele em Candeias, ou se eu poderia fazer isso, porque João teria passado mal e ele o teria internado no hospital.

Imediatamente, fui ao seu encontro e pude constatar, com extrema tristeza, o estado de saúde em que se achava o meu amigo, João Cambota. Estava sujo, magro, barbudo e mais parecendo um mendigo.

---- Fiquei estarrecido diante daquele quadro tão triste. Aquele que outrora era tão saudável, bem afeiçoado, trabalhador, agora, se encontrava, totalmente, destruído pelo álcool. E eu lhe perguntei: “João você me disse que iria embora”? --- E a resposta foi clara: “Eu não tenho mais para onde ir”... Perguntei-lhe se queria que eu o transportasse até Candeias, eu estaria pronto para fazer isso. Mas ele não aceitou. O recurso foi procurar a sua família.

Entrei em contato com a sua família, especificamente, com o seu irmão, Zé Cabeça, que, juntamente com a sua esposa, Rosália, estiveram na cidade de Luz e levaram-no para Candeias, diante de seus protestos pelo delírio alcoólico.

Algum tempo depois, eu o encontrei em Candeias nas barraquinhas da igreja. Estava com um braço inutilizado. Teria dado um murro em uma porta de vidro e cortado o pulso. Chorou, quando me viu. E, diante de suas lágrimas, me disse:

---E, agora, Armando! Não posso mais tocar sanfona, nem cavaquinho e nem violão. Minha vida está acabada. Tentei consola-lo, porém, foi inútil. Custou-me evitar as lágrimas. ---Poucos dias depois, recebi a fatídica notícia de que João teria falecido tendo sido atropelado por um caminhão de forma estupida e dramatica.

A notícia da morte de João Cambota foi para mim um choque emocional. Uma mistura de pesar, de piedade, de tristeza e de meditação. --- Essa notícia cravou a minha memória de uma lembrança que nunca sairá de mim. ---

Algum tempo depois, em visita ao cemitério São Geraldo eu passei por um túmulo, era o túmulo do João. --- Parei por ali um pouco, fiz uma prece e fiquei recordando do nosso convívio de amizade que teria sido tão duradouro por tantos anos. E ao sair dali, senti que os meus olhos lacrimejavam por ter sentido através dos meus ouvidos a sua voz, como se ele falasse: não vai não Armando, fique aqui mais um pouco.

Onde quer que esteja meu amigo João cambota, receba o meu abraço, o meu forte abraço... Você não era amigo para perder João, mas acabei o perdendo. Ainda bem que o perdi para Deus!

Armando Melo de Castro

Um comentário:

Unknown disse...

COMO VOCÊ BEM DISSE EM SEUS COMENTÁRIOS, ACRESCENTO MAIS ALGUNS DETALHES QUE PRESENCIEI NESTA TRAJETÓRIA TRISTE DESTE GRANDE CIDADÃO, JOÃO DA VARGE COMO ERA CONHECIDO NO NOSSO MEIO, TRABALHAVA COMO VENDEDOR " VIAJANTE " DA EMPRESA " ALÔ BRASIL " ESTA EMPRESA VENDIA DE TUDO, ATÉ AVIÃO PEGANDO FOGO, JOÃO FOI MEU VIZINHO ANTES DE CASAR DEPOIS DE CASADO MOROU ALGUM TEMPO NA VIZINHA CIDADE DE CRISTAIS, DEPOIS NEM TINHA UMA RESIDÊNCIA FIXA, UMA DE SUAS AVENTURAS UM DIA APARECEU NA PORTA DO MEU BAR ANTIGO BODOQUE, DEPOIS RESTAURANTE IMPERIAL MUITO FREQUENTADO PELOS ROTARIANOS ONDE ALI REUNIAM TODAS QUINTAS FEIRAS EM REUNIÕES, ESTE JOÃO ME APARECEU COM UM CAIXÃO EM CIMA DO SEU CARRO TOTALMENTE EMBRIAGADO, DEPOIS PASSOU A DESFILAR POR TODA IDADE COM ESTE CAIXÃO EM CIMA DO CARRO NESTE MESMO DIA NÃO SEI POR QUAL RAZÃO ELE DEU UM PONTA PÉ NO BALCÃO QUEBRANDO O VIDRO TODO, ESTÁ É MAIS UMA HISTÓRIA DESTE INFELIZ CIDADÃO, QUE DEUS O TENHA !