Remexendo aqui nas gavetas da minha memória, encontrei-me com os carroceiros antigos de Candeias. Naquele tempo não se falava charrete; era carroça de burro e o proprietário que tinha aquele veículo como seu ganha-pão era chamado carroceiro. – As carroças não eram equipadas com pneus, como atualmente, e nem chamadas de charrete; eram simplesmente carroça de burro com rodas de madeira.
Esse meio de transporte era o mais usado em Candeias. Serviam como taxi, quando era para transportar uma pessoa doente ou idosa; fazer mudanças de residência; transportar material de construção, que eram vendidos pelo grupo empresarial do Sr. Nicodemos Salviano. Sempre havia um carroceiro nas imediações esperando um freguês. Na estação ferroviária, os carroceiros aguardavam o trem, para apanhar as compras dos comerciantes, que chegavam.
Nesse tempo em que me refiro, os principais carroceiros candeenses mais solicitados eram o Arlindo barrilinho, que tinha um burro da pata torta. --- Juca Cordeiro; Serafim e Nego da Zenóbia. ---- Existiam outros, mas desses eu não me lembro
Para se ter uma ideia, o Arlindo barrilinho que era meu vizinho, tinha seis filhos, a esposa e a sogra para tratar e tirava tudo dessa carroça. E tem mais: não passava mal de boca não...
A Rua Coronel João Afonso tinha muito mato, e era ali o restaurante do burro dele, coitado,
com aquela pata torta, entrava no chicote quando a carga era pesada, e quando
eu via aquilo eu quase morria de dó, daquele pobre animal, a quem era servido
água e algo para comer na porta da casa e depois amarrado a uma corda comprida
para que pudesse pastar durante a noite.
O interessante, é que essas carroças eram emplacadas pela prefeitura... Pagavam imposto! Todas elas tinham a sua placa afixada na parte traseira. Aliás, nesse tempo, o fiscal da Prefeitura, era como um guarda de trânsito, para pegar carroças e bicicletas sem pagar imposto.
Armando Melo de Castro.
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