Amar alguém é se sentir dono de algo que não possui. Quando
a pessoa se sente ferida no amor, é uma dor muito forte. É um sentimento que
machuca e deixa uma cicatriz no coração que só quem a tem sabe sentir, porque
cada coração tem uma forma de sentimento. ---- Eu entendo que ninguém deve
interferir na vida amorosa de alguém. Afinal somos responsáveis pelos nossos
atos. Quando alguém ama a um outro alguém, os conselhos raramente podem ser
válidos, afinal como diz o rifão, o coração tem certas razões que a própria
razão desconhece. É um erro violento aqueles que castram a liberdade de escolha
de alguém sobre qualquer pretexto. Devemos entender que é muito melhor
arrependermos daquilo que fizemos ao contrário daquilo que não fizemos. A
liberdade é algo que o ser humano alimenta com o coração e não há quem não a
entenda. Cumpre aos pais na infância de seus filhos orienta-los sobre o
respeito e mostrar-lhes a estrada do bem e do certo. Porque muita das vezes, os
erros dos filhos acontecem por falha dos pais que tentam corrigir os filhos,
mas ai já será tarde demais.
Eu contava mais ou menos uns 12 anos de idade e numa manhã
de domingo, quando eu ia para a missa das 8 horas na Igreja do Senhor Bom
Jesus, quando me deparei com um acontecimento triste, bem na esquina onde se
encontra a residência do Sr. Miguel Albanez (Biribico)
Um casal de namorados conversava feliz da vida. Quando
surge, vindo do lado da Escola Padre Américo, o pai da moça, um senhor que
tinha o nome de Lacinho. ---- O Sr. Lacinho tinha um rompante forte; morava na
zona rural e tinha hábitos extremamente agressivos. E quando bateu os olhos no
casal bradou em voz alta:
“Eu já te falei que num quero vê ocê namorando nas isquina.
E ainda namorando vagabundo! E ocê pode sumi das vista dessa fia disrregrada.
Fia minha ocê num namora não seu trem ordinário! Eu num vô cum a sua cara!
Quela ocê num vai casá nunca. Um trem que num tem onde caí morto, qui vive
cagano pá jantá... Ocê que só relá. Eu num puis fia no mundo pra vagabundo relá
não... E ocê sua bisca, toma seu rumo. Pode tirá o cavalinho da chuva porque
com esse trem ruim ocê num casa memo. Se fosse bão tinha ido lá in casa pidi pá
namorá. É mais faci ocê tê que sumi lá de casa do que casá com esse trem.”
Eu fiquei assistindo aquele espetáculo que naquele tempo
para mim foi uma comédia dada a minha juventude. Mas hoje, quando me lembro
disso, é como se lembrasse de um drama muito triste. Chego até ao ponto de
sentir um pouco de remorso por ter achado graça. --- Eu, então, não conhecia o
sentimento do amor, interessei-me, apenas, por aquela agressão sem defesa. Eu
não conhecia o choro interno dos adultos, portanto não fiz a mínima ideia do
que se passava por dentro daquele casal de namorados. ---- O tempo passou, e
hoje me emociono e sinto o que deveria ter sentido naquele momento e não senti.
Na infância e na juventude, cometemos enganos que um dia virão nos servir de
lições.
Eu nunca me esqueci daquele espetáculo; daquela humilhação;
daquele jeito violento de tratar uma filha e um candidato a namoro. Até hoje
quando me lembro disso, vem à tona de minha mente, a moça tirando do pescoço um
cordão de ouro que o rapaz com certeza a teria presenteado e lhe foi devolvido.
E os dois chorando, quando um seguiu rua abaixo e a outra passou à frente e
acompanhou o pai para a igreja.
Era uma moça com mais de vinte anos. Eu nunca mais a vi com
outro namorado. E o rapaz, posteriormente casou-se e enquanto os meus olhos o
vigiaram me parecia ser muito feliz com a sua esposa e seus filhos. Era
trabalhador e respeitado na cidade. O tempo o fez sumir de minhas vistas. Mas,
o triste fato continua guardado nos fundos dos meus olhos e nunca foi
esquecido.
A violência verbal, às vezes, machuca mais do que a
violência física. Esta foi uma das grandes lições que a escola da vida me deu.
Ver um pai estragar a vida de uma filha pensando que estava lhe fazendo algum
bem, ou decidindo por ela aquilo que deveria ter sido dela.
Candeias MG Casos e acasos.
Armando Melo de Castro
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